“Os Negros” de Jean Genet
20/09 - Teatro Nacional São João, Porto
Durante a segunda metade do mês de Setembro é apresentada no TNSJ “Os Negros”, uma das obras clássicas de Jean Genet. Tal como o seu título indicia, trata-se de uma reflexão sobre a condição de negro no Ocidente, enredado numa teia de relações sociais profundamente racistas, que caracterizavam (caracterizam?) a sociedade Ocidental. Em palco, treze actores (com a excepção de um, todos eles negros) interagem e dialogam, ao longo de mais de duas horas e meia, em torno destas questões, num discurso que, muito embora se apresente envolto numa linguagem extremamente cuidada, é na verdade bastante agressivo e até violento. Apresentada pela primeira vez em 1959, em França, com um enorme êxito, esta peça altamente polémica foi já, por diversas vezes, recriada em diferentes palcos e contextos.
A violência d’ “Os Negros”, juntamente com as posições cívicas de Genet (um apoiante dos Black Panthers), ajudaram com certeza à polémica numa época em que toda a questão do racismo se encontrava ainda presente com bastante destaque na agenda socio-política. Contudo, a verdade é que, três épocas mais tarde, este cenário sofreu algumas alterações – o que não significa que a questão do racismo tenha perdido importância, assumindo certamente um menor mediatismo – o que torna com certeza esta recriação desta obra clássica de Jean Genet muito menos “perigosa”. Por outro lado, a abordagem rigorosa do encenador Rogério de Carvalho que procurou seguir à risca o texto original acabou por tornar a peça uma pouco “pesada”, num estilo dramatúrgico bastante clássico, acentuado pela longa duração do espectáculo.
Importa sublinhar a qualidade do elenco que, conjuntamente com um interessante trabalho de cenografia e luz e um texto pertinente e acutilante, tornam “Os Negros” numa peça de teatro para ver e pensar. Recomenda-se que tal reflexão seja acompanhada por uma leitura atenta do “Manual de Leitura”, distribuído pelo TNSJ, com precioso textos que ajudam a e compreender e enquadrar melhor as múltiplas questões evocadas na peça, no contexto da vida e obra de Jean Genet.
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