“A Pousada no Fim do Rio” de Nora Roberts
Quando o conto de fadas se transforma em pesadelo
‘A Pousada no Fim do Rio’ de Nora Roberts (Chá das Cinco, 2023), é o exemplo perfeito das consequências de quando os ciúmes cegam, e a rejeição leva ao extremo.
O monstro estava de volta. Cheirava a sangue. Soava a terror.
Mais um romance de ‘suspense’ da autora premiada norte-americana Nora Roberts, um de entre mais de 200 best-sellers, publicados em 34 países, num total de 400 milhões de exemplares impressos.
Roberts, mestre do romance moderno, quebrou, nos anos 80, barreiras e estereótipos típicos dos romances – evoluindo da típica donzela frágil a uma protagonista mais ativa, independente e forte, dando, também, lugar a um protagonista masculino com mais destaque-, criando, assim, um estilo próprio focado no duo romântico, apresentando o ponto de vista quer da protagonista, quer do protagonista; dando ênfase à família, à influência da família, ou ausência dela, no desenvolvimento da personalidade dos personagens. Tudo envolvido numa escrita fluída, com mais de um narrador, num compasso ágil que faz o leitor virar página, seguida de página.
N’A Pousada no Fim do Rio, estes ingredientes estão bem presentes.

Olivia tinha quatro anos quando o monstro chegou. Intrometia-se em sonhos que não eram sonhos e dilacerava com mãos ensanguentadas a inocência que os monstros mais cobiçam.
Numa noite fatídica, um monstro aterrorizou a pobre Livvy Tanner, quando esta tinha apenas quatro anos.
Meio a dormir, meio acordada, Livvy vê um monstro no meio do caos, e o monstro está a olhar mesmo para ela.
Olivia torna-se, então, a única testemunha de um crime horrendo, numa noite manchada a sangue, que mudou a vida de todos e a marcou para sempre.
Nada foi como antes depois da chegada do monstro. A casa encantadora com os seus grandes quartos e acres de pisos luzidios carregaria para sempre a mancha do seu fantasma e o eco da inocência perdida de Olivia.
Salva por dois polícias, Tracy Harmon e em especial Frank Brady, Olivia vê em Frank alguém que a pode proteger do monstro e levá-la dali, para um sítio seguro.
Frank Brady fica impressionado com aquela gentil menina, que apesar da tragédia, demonstra muita valentia. Já o filho Noah, nunca irá conseguir esquecer o olhar de Olivia enquanto era perseguida pelos ‘flashes’ dos ‘paparazzi’.
Mas continuava a não conseguir gritar. E começou a correr. O monstro era verdadeiro, o monstro vinha atrás dela e tinha de se esconder.
Um dia, ao abrir um baú com recortes de jornal antigos, Olivia vai sentir como se tivesse aberto a caixa de pandora e como se toda a escuridão ameaçasse engoli-la. A escuridão, ou o monstro escondido nela.
Mais tarde, quando a refeição estava terminada e a floresta escura e cheia de som, foi ela quem se virou para ele. Foi ela quem precisou de braços ao seu redor para afastar os sonhos que a assombravam e o medo que os acompanhava.
Olivia torna-se uma mulher de ideais marcados, independente, alguém ferido pelo mundo e fechada na sua redoma.
Noah, agora homem persistente, decidido, jornalista de profissão, persegue o que sempre o deixou curioso, os verdadeiros eventos ocorridos naquele dia, os motivos que teriam levado o pai dele, um oficial já habituado a crimes hediondos, a ficar tão abatido e preocupado. E, acima de tudo saber mais sobre a menina que conheceu na pousada ao fim do rio.
Ali, sobre a almofada da cama, banhada por um raio de Sol, estava uma rosa branca.
N’A Pousada ao Fim do Rio, Roberts apresenta um retrato de uma família aparentemente perfeita, destruída pela tragédia. Duas famílias muito distintas, um lar cheio de amor e apoio, e outro de sofrimento, silêncio e compostura.
Um crime vai colocar as duas famílias na mesma rota. O amor pode unir as duas famílias. Mas a que preço?
Havia uma urgência terrível para fugir.
Para dentro do roupeiro, para a escuridão.
O monstro estava lá.
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