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“Não Me Faças Perder Tempo”, em cena no Teatro Aberto

Relações de plástico.

Será que o título se aplica ao espetáculo? Talvez para quem gosta de assistir aos reality shows de acasalamento na TV não é certamente uma perda de tempo e, para quem não aprecia, tem aqui uma bela paródia a um ritmo alucinante ou não fosse o assunto speed dating.

Para os que desconhecem o conceito, speed dating trata-se de um evento de encontros em que pessoas do mesmo sexo ou sexo oposto têm 4 minutos para conversar pessoalmente e, caso se tenham interessado por alguém, podem decidir manter contacto. Resumindo é como uma aplicação mas sem nos escondermos atrás de um ecrã, uma espécie de rodízio de candidatos, o que provavelmente é mais emocionante e adequado para abordar em palco. O texto reduz-se às dificuldades da sedução e do engate por parte de pessoas cisgénero hétero-normativos com exemplos de uma testosterona incontrolável. Contudo, há curiosidades comuns a todos na hora de escolhermos alguém para partilhar a vida, ainda para mais quando os minutos para se conhecerem são contados. Por isso, as 8 personagens em palco apresentam-nos várias alternativas para aproveitarem esse tempo.

Esta peça, de Luís António Coelho, vencedora do Grande Prémio de Teatro Português de 2020, recebe agora a versão cénica de Rui Neto a convite do Teatro Aberto. Aqueles que associam este encenador a um estilo mais sombrio, inóspito e do onírico serão certamente surpreendidos com uma casa de bonecas colorida por onde se dispersam os casais de personagens desta aventura social. Porém, os mais atentos espectadores encontrarão traços do seu estilo como a presença do jingle “It’s crazy it’s love”, que cumpre o objetivo de não sair da cabeça, e ainda um grande aproveitamento de todo o palco.

Esta encenação revela algumas influências de séries de sucesso da Netflix: um cenário colorido, fatos de treino iguais para todos e um grupo de pessoas a participarem num concurso que pode (ou não) mudar as suas vidas. Não sei se a presença de figurantes faz parte da receita de sucesso dessas séries mas aqui também os podemos ver. Há um casal de participantes cuja presença só se justifica para preencher mais um dos cubículos de encontro, pois a luz que dá indicação de cena nunca se acende sobre eles.

A dinâmica de mudança de cenas tem um crescendo que nos vais entretendo e pedindo por mais trocas, mas culmina num final abrupto e absurdo. O efeito é semelhante ao da fast food: no início abre-nos o apetite e no fim sabe a pouco. Talvez este final seja uma analogia à pressão social de arranjar um parceiro. O resultado é geralmente fogo de vista e, por isso, continuam insatisfeitos e sempre na defensiva.

Como nos lembra o jingle – é muito doido! Mas será amor? Dificilmente. Se este texto vos abriu o apetite não percam mais tempo e reservem os vossos lugares nesta comédia que promete animar os vossos programas de final de dia.

FICHA TÉCNICA
Texto | Luís António Coelho
Encenação e Dramaturgia| Rui Neto
Cenário e Figurinos | Marisa Fernandes
Vídeos | Jorge Albuquerque
Sonoplastia |Cristóvão Campos
Interpretação | Beatriz Godinho, Daniel Viana, João Tempera, Katrin Kaasa, Leonor Seixas, Luís Gaspar, Rita Cruz, Telmo Ramalho
Fotografias| Filipe Figueiredo

Em cena no Teatro Aberto
Quarta-feira e Quinta-feira – 19h
Sexta-feira e Sábado – 21h30
Domingo – 16h



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