“Os Diários Secretos” | Camilla Lackberg
O crocodilo está servido
Camilla Lackberg é uma escritora de policiais a tocar o sui generis. Imaginem qualquer coisa como serem convidados para um jantar de gala em casa de umas tias que coleccionam etiquetas e boas maneiras. A mesa posta a rigor, o guardanapo de pano bem dobrado no lado esquerdo e copos para tudo, até mesmo para um líquido imaginário. Depois das entradas, de aspecto frágil e delicado, levanta-se a tampa de uma travessa imensa e eis um crocodilo, os dentes à mostra e um olhar assassino mesmo depois de morto e bem assado no forno com batatas a murro.
É um pouco assim o universo Lackberguiano: por fora surgem as relações (e ralações) matrimoniais, as separações, as licenças de paternidade e maternidade, as dietas e o desejo maluco por doces e caramelos; por dentro, uma mente fria, com requintes de morbidez, e uma escrita cerebral que nos servem uma trama capaz, muitas vezes, de arrefecer a circulação sanguínea ao ponto de ser necessário partir em busca de um aquecedor.
Em “Os Diários Secretos”, o quinto livro que segue o dia-a-dia do inspector Patrick Hedstrom e da sua mulher Erica Falck, a trama gira à volta dos movimentos de simpatia nazi que se têm estabelecido um pouco por todo o norte da Europa. Enquanto joga com o tempo para entregar o seu novo livro, Erica faz uma descoberta surpreendente: uma caixa que contém os diários da mãe, juntamente com uma medalha nazi envolta numa camisa com sangue.
Usando uma vez mais a alternância entre o tempo actual e um passado que aponta ao anos 1940, Camilla Lackberg tece uma teia de mistério que apela aos dotes de detective que há em cada um dos leitores, num jogo de adivinhação que se vai estender até muito perto da última página (ou não, se forem aparentados a um Sherlock Holmes ou a um Philip Marlowe). O melhor livro da série desde o iniciático “A Princesa de Gelo”.
Uma edição D. Quixote
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