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72 Horas

Um olhar profundo no vazio.

O nome de Paul Haggis arrasta consigo a marca dos filmes de boa consciência, “Crash”, o razoável filme-tapeçaria sobre as tensões raciais em Los Angeles, conquistou o óscar mais importante aqui há uns anos. Seguiu-se o razoável “No Vale de Ellah”, filme-denúncia da Guerra do Iraque (mais um), elevado pela presença majestosa de Tommy Lee Jones. Ou seja, Haggis – que foi o argumentista do bem mais do que razoável “Million Dollar Baby” de Clint Eastwood -, enquanto realizador, especializou-se em pessegadas muito correctas e bem pensantes.

Entregue ao thriller, sem margem de manobra para enviar uma “mensagem” ao espectador, Paul Haggis espalha-se ao comprido: “72 Horas” nem razoável é. Escave-se mais um pouco o currículo: Haggis co-escreveu os dois últimos James Bond e é o autor da memorável série “Walker, Texas Ranger” com o inenarrável Chuck Norris. Portanto, nem é propriamente virgem em matérias do filme de acção e de histórias policiais, nem sempre foi “um artista de prestígio”. Nada a apontar, uma pessoa começa por onde consegue começar, e, de qualquer forma, mais vale levar com 72 episodiozitos do “Walker” do que com estas “72 Horas”.

Os problemas de “72 Horas” começam no princípio, ou, melhor, começam na primeira hora e tal. Em vez das correrias e atropelos do filme de acção, dá-de de caras com um drama familiar rasteiro – que qualquer espectador de cinema consegue reconstruir depois dos primeiros dez minutos -, muitas caras de sofrimento, muitos olhares profundos na direcção do vazio, a música sobe, sobe de intensidade e lá vai mais um esgar. Pois, quem não tem Tommy Lee Jones, caça com Russell Crowe, o que não é bem a mesma coisa. Imagina-se que Haggis, querendo esquecer o Texas e os seus Rangers, pensou fazer um thriller consciencioso e “moderno”, com “coração”, mas saiu-lhe esta sentimentalidade barata.

Lá para o meio do filme, depois de todos os actores conhecidos que Haggis conseguiu apanhar terem feito o seu cameo, começa o filme propriamente dito, o espectador acorda do seu torpor, parece que há alguma coisa para ver: uma mini-série televisiva encafuada numa hora, alguns agentes policiais da Esquadra Cliché, perseguições interrompidas por mais um momento de grande profundidade, o mais subtil “product placement” da história – Crowe nem em fuga esquece o seu Mac -, mais um olhar para o vazio, mais umas cordas que ressoam na banda-sonora para que o espectador perceba o que está em jogo (Danny Elfman, onde foste parar). Valha a verdade que, nem que seja por a música estar muito alta e os cortes serem muito rápidos, o olhar do espectador agora não larga o ecrã. Até para melhor poder participar no jogo de adivinhação das próximas cinco cenas, do final e de toda a sequela (se houver).

“72 Horas” é um remake do francês “Pour Elle”, que nunca vi, mas que dizem ser muito semelhante, o que obviamente não desculpa Paul Haggis das suas decisões e do medíocre filme que realizou.



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