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Esta Noite Improvisa-se

De Luigi Pirandello e encenação de Jorge Silva Melo, no Teatro Nacional D. Maria II.

Foi no passado dia 7 de Março que assistimos à nova encenação de Jorge Silva Melo da peça “Esta noite improvisa-se” de Luigi Pirandello, uma co-produção Artistas Unidos e que vai estar em cena na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II até dia 5 de Abril de 2009.

“Orquestrar” Pirandello pela batuta de Jorge Silva Melo, não descurando obviamente o elenco, é motivo forte para ir ao teatro sem hesitações. Esta peça do siciliano mostra-nos como é ter o teatro dentro do teatro pela boca do encenador histriónico Doutor Hinkfuss (António Simão), muitas vezes dobrado pela voz de Jorge Silva Melo, que vai propondo aos seus actores que improvisem, provocando discussão, discórdia e uma profunda reflexão sobre os limites entre a realidade e a ficção, que o público terá de acompanhar.

O cenário é constituído por grandes e profundos blocos vermelhos que possibilitam várias entradas e jogam com um desenho de luz perfeito, transformando o palco numa imagem cinemática que nos seduz. No início da peça há um corpo de actores e figurantes que enchem o palco e que se movimentam coreograficamente criando uma autêntica fanfarra de emoções, discussões e de cantoria, que nos vão subtilmente introduzir os vários quadros cénicos que ilustram a trama da família La Croce.

Dona Inácia é a actriz e mãe característica que quer casar as filhas, e cuja mestra interpretação confere uma energia e profundidade que só Lia Gama sabe oferecer. As filhas – Mommina, Totina, Dorina e Néné – e os seus pretendentes constituem parte da trama com os seus amores e desamores e com as sucessivas disputas pelo amor das quatro meninas. O pai (Cândido Ferreira), bêbedo e traidor, dá-nos um forte rasgo de comédia e do ridículo.

Os quadros faustosos começam a desaparecer assim como o corpo de actores e a parte final da peça é marcada pela prisão conjugal a que Mommina (Sílvia Filipe) se entrega. Rico Verri (Pedro Lacerda) transforma cruelmente a sua vida numa cárcere agonizante e, através de um discurso honesto e cruel, enche a vida de Mommina de culpa, traição e miséria, onde já não há espaço para amar, nem para cantar, outrora o seu maior sonho.

A peça acaba com Mommina a descrever às filhas o que é o teatro, a explicar-lhes a magia que está para lá daquele pano vermelho de veludo, um possível apelo à vida, acabando por morrer quando já não há mais por dizer.

Uma peça que provoca e estimula o público, que nos conduz à incerteza e à dúvida – O que é o teatro, o que é a nossa vida, em que nos transforma um espectáculo?

Em cena no Teatro Nacional D. Maria II até 5 de Abril de 2009.



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