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The Mars Volta | “Nocturniquet”

Quem os viu e quem os vê

Antigos membros dos At the Drive In e fundadores da mais célebre banda de progressões e experimentações rockalheiras da última década, os The Mars Volta estão de volta.

Depois da queda em 2009 com “Octahedron”, a banda levanta-se para assinar o sexto trabalho em estúdio, “Nocturniquet”, um dos seus trabalhos mais coesos até à data.

Fará em Junho dez anos desde o disco de estreia, “De Loused in the Comatorium”, um álbum que mudou em muitas pessoas a maneira de ouvir música, obra prima repleta novos sons e aclamada pela crítica. O som desta banda é enérgico, intenso, e mistura tudo o que há de bom num cocktail cheio de sabor e capaz de nos deixar num estado de embriaguez.

Quando se trata desta banda, temos de ter plena noção de que tudo o que eles fizerem será diferente do trabalho anterior. Ou seja, trocando por miúdos, o trabalho é determinado consoante o estado de espírito do guitarrista e mastermind Omar Rodriguez Lopes.

Ao longo dos anos a banda tem sofrido várias alterações e percalços pelo caminho. A morte do mestre dos efeitos e manipulação de som, Jeremy Michael Ward, em 2003, foi um acontecimento que se revelou um golpe profundo para o conjunto norte-americano do Novo México que mudou o seu modus operandis de abuso de substâncias dentro e fora de palco para uma vivência mais calma, mas longe de sóbria. A sonoridade está diferente e eles também. Não é apenas a estrutura das músicas que mudou, mas também todo o trabalho que nos apresentam.

Para os fãs que estão habituados a músicas com nomes esquisitos, solos epilépticos e despiques entre todos os instrumentos, “Nocturniquet” não será uma desilusão mas sim uma surpresa. É bom ver que o conjunto “doutorado” em transformar o estranho em bonito decidiu desta vez pegar no simples e torná-lo brilhante.

Para abrir as hostilidades temos «The Whip Hand» que, contrariamente aos projectos anteriores, dá especial destaque ao sintetizador com um refrão poderoso e dissonante que nos dá vontade de abanar a cabeça e começar aos pulos. A voz de Cedric Zavala está melhor do que nunca, deixando soltar a sua voz natural, em tempos substituída por distorções e feitos sonoros.

A segunda música, «Aegis», é a que capta a energia do seu álbum de 2003 com uma estrutura muito semelhante à «Inertiatic ESP», com um dos refrões mais catchy do álbum, transpirando toda a energia produzida pelo conjunto.

Ao longo do CD nota-se uma nova identidade dos artistas que ainda não nos tinha sido apresentada: as músicas são mais curtas, sendo poucas as que ultrapassam os 7 minutos; o sintetizador toma muitas vezes o papel de líder nas linhas melódicas e podemos ouvir como nunca a voz natural, gritante e aguda que nos deixa arrepiados quando atinge aquelas notas para cima do Evareste.

Todos os seus álbuns foram diferentes e cada um deixou a sua marca. Não vale a pena fazer comparações e tentar superar “De loused in the Comatorium” ou “Frances de Mute” porque será uma tarefa difícil, senão quase impossível.

Com “Nocturniquet” os rapazes voltam a fazer história mais uma vez com uma produção irrepreensível, arranjos de mestre e iTunes friendly.

Para os fãs mais hardcore não deve ser um impedimento porque o fim é o mesmo, apenas segue um trilho diferente.

Miguel Ribeiro Valente



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