NOS Alive! 2018 | Dia 3 (14.07.2018)
Um dia com o vencedor anunciado e um final atribulado.
Às 17h50 os Bateu Matou tomam o seu lugar no Palco Clubbing e, pela voz de Joaquim Albergaria, apresentam-se como uma banda de baile, ao mesmo tempo que pedem para as pessoas se aproximarem porque querem falar e precisam de calor humano. A verdade é que música é comunicação e a verdade é que comunicamos melhor quando estamos mais próximos. São 3 na percussão; Albergaria, Ivo Costa e RIOT que se ocupa também dos samples, beats e programações. E esta é aplicada na dose e nos momentos certos.
A massa humana no Palco NOS a ver Alice in Chains é imensa. Quando nos aproximamos parece que recuamos no tempo e quando olhamos com atenção em redor vemos uma outra camisa a invocar essa estranha mas magnética época que tanto nos deu (e nos tirou). Em palco as despesas vocais foram repartidas entre Jerry Cantrell e William DuVall, com um alinhamento que se estendeu por sete álbuns, incluindo “Rainier Fog”, com a canção «The One You Know» e que deverá ser lançado em Agosto. Pese embora alguma nostalgia no ar, com muitos a acompanharem as letras de canções como «Rooster», «Them Bones» ou «Man in the Box» o concerto foi daqueles que nunca chegou a descolar completamente.
No Palco Sagres escuta-se outra América, a dos Real Estate, onde o rock se cruza com o folk e alguma pop. São muitos os que os aguardam mas esta banda já não é a mesma que se estreou há alguns anos na ZdB com a seu registo de estreia homónimo, onde pontificavam momentos de rara inspiração como «Suburban Beverage». O concerto arranca ao som de «I Had to Hear», de “Atlas” de 2014, por sinal exactamente na fase em que os Real Estate começam simplesmente a soar mais do mesmo e a verdade é que, daí para a frente foi exactamente essa a sensação que ficou.
A decisão de ir até ao Palco NOS espreitar o que os Franz Ferdinand andam a fazer não poderia ter sido mais acertada. Kapranos continua com uma pinta incrível e ele a banda estão sedentos por agradar. Isso reflecte-se num concerto intenso e enérgico que passeou por toda a discografia da banda e não deixou de fora aquelas canções que metem um sorriso na cara de qualquer um e nos dão uma vontade imensa de dançar e saltar. Como «The Dark of the Matinée» logo no início ou «Lazy Boy» e «Walk Away» a meio e «Take Me Out» e «This Fire» a encerrar um concerto realmente em alta.
Jack White tem pela frente um trabalho que exige paciência, com o derradeiro objectivo de se tornar o novo Bob Dylan. A verdade é que é bem capaz de estar encaminhado; aquele palco emanou rock e os blues foram também eles uma presença regular a par da distorção, uma parte intrínseca das canções de White. As canções tocadas tiveram origem distintas. Houve espaço para The Dead Weather (saudades de ver e ouvir a Alisson Mosshart!), The Raconteurs e ainda mais para White Stripes (sim, «Seven Nation Army» fechou o concerto). Faltam ainda canções em nome próprio, mas isso o tempo encarregar-se-á de mudar. O rock, esse, vive dentro de Jack White e nós somos uns privilegiados em poder apreciá-lo.
Pearl Jam não tinham de provar nada a ninguém. A noite estava mais do que ganha. Certo e sabido. Mas de qualquer forma preferiram (e bem) não facilitar e apresentaram um alinhamento com uma forte incidência no passado (“Ten”, “Vs” e “Yield” foram os álbuns mais tocados) e, pasme-se, quatro covers! Mas vamos por partes. À segunda canção Eddie Vedder e companhia lançam-se a «Better Man» e o número de telemóveis apontados ao palco subiu exponencialmente juntamente com um monumental coro. Seguiu-se «Go» e «Mind Your Manners». «Do the Evolution» foi visceral e à memória veio aquele vídeo magnífico da autoria de Todd McFarlane. «Given to Fly» colocou-nos a cantar para o céu com os olhos fechados e «Even Flow», que se seguiu pouco depois, transportou-nos de volta à adolescência. Os Pink Floyd foram visitados por duas vezes. Primeiro com «Interstellar Overdrive» e mais tarde, já no encore, com a fantástica «Comfortably Numb».
«Interstellar Overdrive (Pink Floyd cover)». «Daughter» e «Jeremy» são hinos intemporais. Foi possível agradar a quase todos, porque coisa como o alinhamento perfeito não existe, certo? Vai faltar sempre alguma para alguém? A saída de palco que antecede o encore é feita ao som de «Rearview mirror» do “Vs”. O regresso ao palco acabou por se revelar uma verdadeira caixinha de surpresas. A primeira canção que se faz ouvir é »Imagine», de John Lennon, para de seguida voltar a evocar os Pink Floyd como já tinha escrito há algumas linhas atrás. Depois seguiu-se «Porch» que contou com uma parte de «Seven Nation Army» pelo meio, que podia ser visto como um sinal do que se seguiria. Quando «Alive» se faz ouvir o primeiro pensamento foi que estávamos mesmo no final, ou não fosse esta a canção que emprestou o nome ao festival. Mas não. Para o final estava reservada a surpresa: «Rockin’ in the Free World» de Neil Young, na companhia do Jack White. No final o sentimento de dever cumprido imperava dos dois lados.
Os At the Drive In foram os mais prejudicados da noite, com a sua actuação encurtada para 35 minutos, devido à actuação dos Pearl Jam e não ficaram nada satisfeitos com isso. Foram 35 minutos com os nervos à flor da pele, repletos de ironia e de frases enigmáticas e de uma intensidade sem precedentes. Terão sido os 35 minutos de concerto mais memoráveis que alguma vez tive e estes versos vão continuar a gravitar na minha cabeça durante alguns dias. “Banked on memory / Mummified circuitry / Skin graft machinery / Sputnik sickles found in the seats / Self-destruct sequence / This station is non-operational”. Há concertos que deixam marcas; este deixa uma cicatriz.
Foi um crime colocar Perfume Genius a esta hora. É que as canções de Mike Handreas merecem ser degustadas em condições, ainda para mais com um álbum como “No Shape” na bagagem. Quando chegámos ao Palco NOS as clareiras de espaço são imensas e «Wreath» faz ouvir pela voz de Handreas que deambula pelo palco enquanto evidencia uma linguagem corporal de alguém que está confortável na sua pele e que não se deixa afectar pela fraca afluência.
A festa continuará em 2019, nos dias 11, 12 e 13 de Julho.
Fotografia por José Eduardo Real
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