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“A Catedral dos Evangelhos Perdidos” de Fabio Delizzos

Um segredo escondido, uma verdade devastadora

A Catedral dos Evangelhos Perdidos, de Fabio Delizzos (Presença, 2021) é um thriller histórico emocionante desde a primeira página, que conduz o leitor pelos caminhos da História, de Roma e da vida dos personagens, sejam eles fictícios ou factuais.

Fabio Delizzos sabe como envolver o leitor, como capturá-lo e prendê-lo nos meandros das suas histórias, e esta não é diferente.


Através de um discurso simples, mas com descrições das personagens e dos locais detalhadas, com um ritmo veloz desde o início, Delizzos transporta o leitor a uma época de luz mas também de trevas, encaminhando o leitor por Roma e os seus caminhos tortuosos e obscuros, em pleno Renascimento.


O autor refere obras autênticas e verídicas, desde os Evangelhos dos Ebionitas e de Judas; a personagens reais, como Pio IV, os conspiradores hereges, a Onofrio Panvinio, entre outros; e, situações que realmente ocorreram durante aquele período, como a conspiração para matar o papa, os caçadores de tesouros, os sicários… Porém, o facto das personagens principais, tais como, Raphael, Sara, Ariel e até Leccacorvo, serem ficcionais, as suas interações e discursos com as personagens verdadeiras, ou até mesmo apenas entre eles, são homogéneas, credíveis e dão um toque especial ao enredo, e converte Delizzos num mestre de poções, um alquimista de emoções, que sabe enredar ficção e História num novelo perfeito, do qual o leitor não vai querer perder o fio à meada.

Este é o terceiro livro de Delizzos, que tem como personagem principal Raphael Dardo, agente secreto de Cosimo de Medici, alia algumas referências a eventos dos livros anteriores à história que flui nas 336 páginas desta obra, e pode ser lido independentemente de o leitor ter um conhecimento prévio dos anteriores, ou pelo contrário ser um estreante em relação às obras do autor.

O padre deixou que o seu corpo pesado de vícios se desprendesse sozinho da arma e desmoronasse no chão. Missão Cumprida. Por vontade de Deus.

1564, cinco anos após os eventos retratados em Il Cacciatore di Libri Proibiti, uma figura encapuzada começa a caçar pessoas de um modo muito característico.

A frieza dos atos deste assassino, que se alia a uma causa divina para justificar tais ações, torna o sicário, um oponente de peso.

Pensamentos negros como a morte dominavam a mente e o espírito do sumo pontífice, uma sombra de infortúnio alastrava-se sobre o seu destino.
Pio IV ergueu os olhos ao céu e procurou, para lá das nuvens, as constelações, as palavras arcanas escritas com tinta de luz na folha negra da noite.
O que estavam as estrelas a dizer-lhe agora?

Apesar de ter retornado há pouco a casa e de querer dedicar mais do seu tempo ao seu filho, o pequeno Ariel, Raphael é, novamente, convocado a Roma por Pio IV, que deseja descobrir quem é o verdadeiro cérebro por detrás da conspiração contra si.

Atravessada a Ponte Elio, na outra margem do Tibre, destacava-se a prisão a que chamavam Tor di Nona, uma mole de pedra triste e húmida de onde saíam constantemente gritos e lamentações. Dia e noite, jorravam para fora do edifício como se fossem uma espécie de exalação sonora que se ouvia de longe. À noite, o choro dos arrependidos, os gritos dos desesperados; de dia, os suplícios dos torturados.

Raphael, homem disposto a proteger os que ama e lhe são caros, é um “herói” imperfeito mas fascinante, ele próprio um jogo de luz e sombra característico da época. E é-o, especialmente aos olhos da jovem Sara Corloni, filha de um grande amigo seu, que vive com ele e Ariel.

Sara é forte, ágil, hábil pintora, inteligente e acima muito independente para a um mundo que não está preparado para aceitar mulheres de calibre.
Juntos, com alguma ajuda de Panvinio e Leccacorvo, começam a investigar as labirínticas catacumbas cristãs de Roma, onde um se pode perder, em todos sentidos.


Mas as suas buscas sofrem alguns percalços, algumas pedras no caminho, e o facto de terem descoberto um segredo tão bem guardado, coloca-os na mira de assassinos.

É possível que nem Raphael esteja preparado para que o se avizinha. Será ele capaz de descobrir o segredo escondido nas catacumbas e permanecer com vida?

O risco é real e o inimigo, letal. Ao mínimo erro, a vida de Raphael e dos seus pode ser comprometida e cessar de existir.


Preso numa luta de poder entre duas forças de peso, Raphael vai ter que descobrir o mistério, não apenas porque lhe foi ordenado, mas porque é necessário para sobreviver. Porém o que vai descobrir, pode ser mais do que consegue aguentar ou aceitar.


Algo muito poderoso se esconde naquelas catacumbas.

O coração de Raphael batia loucamente.
(…) não era uma epístola de papiro, era uma epístola de pólvora, de veneno, de balas de canhão.
Não era uma epístola, era um abismo tenebroso.

A Catedral dos Evangelhos Perdidos, de Fabio Delizzos, é um thriller histórico cuja trama interessante, intrigante e contínua, é palco de inúmeras situações de risco, e as maquinações, e lutas de poder são uma constante. O perigo está mesmo ao virar da esquina e o segredo é, literalmente, a alma do negócio.



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