Blac Koyote
Um Koyote às camadas.
Blac Koyote, projecto a solo de José Alberto Gomes (Nimai), acaba de lançar o seu álbum de estreia (o LP “Blac Koyote”), e como se não bastasse, foi um dos nomes nacionais no festival Semibreve que se realizou em Braga no passado mês de Novembro e trouxe a Portugal grandes nomes da música laptop.
Depois de três anos a tocar nos Nimai, Blac Koyote foi acima de tudo um grande desafio. “Eu acho que precisava disso, de passar por essa experiência, de ganhar essa confiança, portanto uma das ideias de criar este projecto foi mesmo tentar ver se eu era capaz de fazer música deste tipo, sozinho”. Enquanto músico, JAG vagueia entre o compositor electroacústico e o “tipo” das electrónicas, mas é como Blac Koyote que o seu trabalho é mais emocional. “Em todo o outro resto da minha vida profissional, eu tenho de ser muito mais racional e sistematizar os processos artísticos, portanto neste caso quero mesmo não me preocupar demasiado com isso”. E as camadas de que é composta a sua música reflectem-se como “o meu estado mais natural, quando eu não faço isso é que se calhar sou eu a tentar ir buscar influências a outro lado. Mas não é uma coisa muito consciente, quer dizer, vou tentando pensar, tentar fugir aos meus clichés, mas a maior parte das vezes não sou muito capaz.”
Concebe os concertos como algo completamente diferente do disco porque “devíamos ter cuidado com essas posições, de levar música de um sítio para o outro à toa. Música para um disco é música para um disco e música a vivo deve ser pensada de maneira diferente, deve ter outras propriedades e é um bocado por esse sentido, não só pelo interesse visual do público, mas também pela música que ganha uma dimensão diferente, ganha um tempo diferente.” E por isso mesmo apresenta-se sempre em palco com diferentes músicos que “normalmente são criativos, não é no sentido oh pá faz isto, isto e isto. Não. Eu gosto que eles tragam a sua própria linguagem e acrescentem algo, e adaptamos a música para esse contexto e para essa pessoa. E isso é interessante também para mim. O objectivo era que isto fosse uma coisa mais dinâmica mas muitas vezes por questões de logística e de tempo acabam, acabo, por ir repetindo. Na verdade eles vão-se repetindo, mas os conjuntos nunca são os mesmos.” Costuma dizer que se farta rapidamente da música, da sua em particular e, por isso, esta não repetição dos concertos é uma vantagem. Talvez também seja essa uma das razões para o remix? “Não sei se é necessidade, mas só temos todos a ganhar. É muito divertido e não tenho nenhum problema e nem me custa nada, às vezes fico assim um bocadinho com dor de coto quando o remix é melhor do que a música original, mas isso acho que até faz bem. A maior parte do pessoal que fez os remixes são amigos pessoais e há uma ligação, e mesmo os que não são foram super simpáticos e prestáveis e é, todo o processo é, desde logo da primeira conversa, do convite, eles ouvirem a música, a perspectiva, o que é que eles agarram da música original, isso é um processo divertido e, necessidade não lhe chamava necessidade mas acho que é um bónus óptimo.”
Para o LP “Blac Koyote” “tinha as músicas prontas em Janeiro e o disco saiu agora em Novembro e é muito difícil passar esse tempo todo, primeiro já tenho ideias novas, há ideias que eu já sinto que estão um bocadinho ultrapassadas até ou às vezes ouvir a música e pensar, caramba se eu mudasse isto aqui, aqui e aqui, parece que isso nunca tem fim, ou seja, as músicas, estas músicas, faziam sentido há um ano, agora se calhar queria era tocar outras novas.” E, para quem ainda não viu o disco, existem sete capas diferentes “o álbum é todo um objecto, é um todo, e quando compro uma coisa, claro que compro também pela música mas se tenho o bónus de ter todo o contexto da capa ainda é mais favorável e foi mesmo esse o objectivo, ainda por cima o meu primeiro vinil, queria fazer aquilo tudo o melhor possível, o mais bonito possível. E tem sido divertido as pessoas poderem escolher que capa é que querem, se bem que são só sete diferentes, sentem que têm um controlo sobre isso, então fica um bocadinho ainda mais pessoal, tipo eu escolhi esta porque identifico-me com esta por causa da cor ou porque gosto mais da fotografia e esse processo das pessoas estarem a escolher, gosto mais desta ou gosto mais daquela, aproxima do disco acho eu.”
Quanto a novos discos de Blac Koyote, JAG não faz promessas. “Desde que lancei o álbum fiz mais duas que tenho até tocado ao vivo e acho que essas se encaixam perfeitamente, mas a partir daqui não, acho que são coisas muito novas. O Semibreve influenciou-me bastante, toda a gente que tocou. E deu-me vontade de mudar um bocadinho de direcção e se calhar ir para uma coisa mais experimental. Por exemplo, uma das coisas que me incomoda um bocado no álbum, no meu álbum, acho que podia estar diferente, é que não sinto aquilo como um álbum. Aquilo é um grupo de músicas que eu fui fazendo e que encaixei e gostava agora de fazer o oposto. Tentar pensar num trabalho de 40/50 minutos que funcionasse como um todo. Portanto acho que agora o que vem daqui para a frente continua a ser eu, mas acho que é uma coisa nova. E tenho várias ideias do que quero fazer. Ainda não me decidi, estou a experimentar e quero dar tempo mas acabou aqui uma fase e vai começar uma diferente, isso é certo.”
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