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Cool Hunters

Uma câmara fotográfica, um caderno de apontamentos, muita curiosidade e extrema sensibilidade: as principais características de quem se dedica a identificar tendências com o objectivo de encontrar, em grupos restritos, elementos que possam ser massificados. São eles que ditam o que vai ser moda amanhã. São CoolHunters.

Não há muito tempo atrás, um dos objectivos de viajar para fora era comprar o que fosse diferente do que tínhamos no nosso país. Mas por culpa da globalização isso acabou. Hoje em dia, se comprarmos uma t-shirt em Milão, Nova Iorque, ou Tóquio, só o preço muda.

Recuando um pouco na história, nos anos 50 surge em Paris o “negócio” das tendências de moda, com o intuito de ajudar a indústria têxtil a ir ao encontro das novas exigências do mercado pós-guerra. Nesta altura, nascem os primeiros observadores de tendências. Eram pessoas muito viajadas, jornalistas de moda, ou influentes na sociedade, que procuravam melhorar o look e a qualidade dos produtos estandardizados. Começaram por fazer apenas pequenas sugestões baseadas em quadros de cores e alguns esboços. Com o passar do tempo as suas recomendações tornaram-se mais elaboradas, surgindo os primeiros gabinetes especializados em tendências.

Actualmente, os métodos de antevisão de tendências são quase idênticos aos que se praticavam nos anos 50: combinação de intuição, viagens frequentes, consciência de styling e fazer shopping fora do país; adicionando os quadros de cores e texturas, que se apresentam hoje em dia mais up-to-date, e em formato de trend books.

A Promostyl e a Peclers, criadas em 1960 e 1970 respectivamente, foram as duas primeiras agências de pesquisa de tendências globais a surgir. Ambas com sede em Paris e com uma extensa rede em todo o mundo, são consideradas uma referência neste campo. Conhecidas pelos seus Trend Books (livro que resulta da compilação de influências, cores, padrões, tecidos, logótipo, esboços, fotografias… divididos por temas super detalhados e ilustrados e ainda adaptados a cada tipo de mercado), estas agências apresentam soluções com 18 ou 24 meses de antecedência.

Os CoolHunters são elementos fundamentais para a elaboração destes Trend Books. Sempre acompanhados de uma câmara fotográfica, um caderno de apontamentos, muita curiosidade, extrema sensibilidade, maioritariamente jovens: estas são as principais características da nova vaga de profissionais que andam na estrada sempre atentos a tudo, observando o que se passa em seu redor, com o objectivo de identificar, em grupos restritos, elementos que possam ser massificados.

Muitas vezes questionamo-nos de onde surgem todos estes movimentos sócio-culturais que arrastam toda a sociedade numa só direcção. Diariamente apercebemo-nos destas mudanças. Na vida quotidiana é notável uma mutação de comportamentos, valores, estilos de vida, que têm progressivamente adquirido um nome: tendências. Foram surgindo, assim, especialistas em tendências, bem como empresas de consultoria e antecipação das mesmas, como é o caso da AYR Consulting (Achieving Your Results), que entrou no mercado português em Janeiro de 2009. De modo geral, são analisadas as transformações globais, a convergência de culturas, o aparecimento de novos valores e a importância dada ao consumo pela sociedade contemporânea. No fundo, estes são os factores que as marcas procuram saber e nos quais se baseiam quando são criados os seus produtos e serviços, afim de os individualizar satisfazendo as necessidades, cada vez mais exigentes, do consumidor.

Para atrair mais consumidores, e para além do uso de estratégias de marketing e comunicação, as empresas recorrem muitas vezes aos CoolHunters. Este recurso tem como objectivo construir um imaginário e uma imagem exclusiva e única: elementos fundamentais para qualquer empresa de sucesso. Esta é uma nova figura que tem como função trabalhar todos os sectores etiquetados de lifestyle, um conjunto de símbolos provenientes do design, da moda, da tecnologia, arte… A tarefa dos CoolHunters está em partilhar os valores, as linguagens e os estilos de vida próprios das tribos de consumo. São pessoas com forte vocação criativa para captar sinais de renovamento proveniente das sub–culturas mundiais. São observadores atentos aos comportamentos e necessidades da sociedade, estão em constante actualização, localizam tendências aplicadas a todas as áreas. São pessoas de sensibilidade extrema, observam e analisam tudo o que lhes desperta os sentidos (por ser diferente e interessante), anotam opiniões de desconhecidos que influenciam as atitudes de um grupo (designados por trendsetters), navegam em blogs, websites e comunidades virtuais, andam pela estrada e viajam frequentemente, analisam as montras (com visão crítica), frequentam locais novos para perceber as suas influências e inspirações, discotecas, transportes públicos, mercados, recolhem fotografias, prospectos, programas de concertos, frequentam teatros e galerias, interessam-se por arte, passam tudo a pente fino sempre à procura de criatividade.

A última tarefa a fazer, após todo o intensivo trabalho de campo realizado pelo CoolHunters (designado por CoolHunting), é reunir e compilar todo o material adquirido até então, para posteriormente ser analisado no interior das empresas por especialistas ligados a vários sectores, nomeadamente Marketing, Consumo, Sociologia, entre outros.

Com a importante ajuda dos CoolHunters consegue-se, actualmente, antever o mercado de consumo futuro. Assim, é com base na pesquisa efectuada por estes profissionais de “última geração” que as marcas podem ter uma visão mais real e actualizada do percurso que devem seguir para alcançar o sucesso.



Existem 18 comentários

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  1. Tabes

    Exelente artigo, não sabia da existencia dos denominados "CoolHunters" pensava que as tendências globais eram monipolizadas pelas grandes marcas, assim fico mais descansado sabendo que existe alguem a fazer trabalho de campo de modo a n deixar morrer antigas tendencias, melhorar as actuas e a trabalhar em futuras.

    Continua o bom trabalho, gostei imenso.

  2. Sombra

    Como curiosidada o cóz baixo, que já está na fase final da massificação, foi criado a partir da observação dos presos nas cadeias americanas. Como não podem usar cintos as calças estão continuamente baixas. Tendência que saiu para o mercado ao mesmo tempo que as saias de "ciganas". As saiais foram um flop e o cóz baixo mantém-se à vários anos. Numa massificação bastante prolongada.

  3. vandamartins

    Grande Brazão! Deixa-me dizer-te que estou bem orgulhosa! Não poderia esperar outra coisa é um facto. Está mesmo muito bom. Super interessante e altamente completo. Parabéns! Vou ficar atenta às próximas novidades. Bjs e continua a deliciar-nos com os teus artigos.

  4. francisco

    Bom artigo!
    Mas não poderia deixar passar esta oportunidade para falar um pouco das empresas que recorrem a este "serviço".
    Como podem ser verdadeiramente originais, se andam atrás das tendências? Literalmente. Quando lançarem um produto a um certo público-alvo, arriscam-se a já ter passado o seu tempo. Ou pior, outra empresa ter chegado lá primeiro, porque, enfim, se uma empresa tem acesso a estes "trend books", é bem possível que todos os outros também. Andar a trás do "cool", é apenas uma forma de sucesso a curto prazo, sem um plano a longo prazo.
    Ser original, é sermos nós a marcar uma tendência. E para isso é preciso conhecer bem a cultura de cada "grupo restrito". Temos de estar no seu ADN.

  5. Bruno

    Olá Francisco,

    O trabalho dos Cool Hunters é um trabalho de pesquisa e não está relacionado com a originalidade/ criatividade de uma empresa ou marca.

    As empresas que recorrem a estes profissionais, fazem-no com o objectivo de acompanhar o mercado no qual estão inseridas.

    As marcas para produzirem os seus produtos necessitam saber qual a estrada a percorrer. Só assim conseguem manter-se competitivas e obter um maior êxito de vendas.

    Os Trend Books, são elaborados com a previsão de 4 ou 5 anos a partir do ano decorrente, ou seja, neste momento estão a ser preparados os cadernos de tendências de 2013/2014. Existem marcas que compram um ou vários cadernos de tendências, normalmente optam por escolher os da Promostyl e da Peclers devido à credibilidade que estes têm apresentado ao longo dos anos.

    Com isto não significa que uma marca tem de criar obrigatoriamente um produto que ainda não existe no mercado, pode criar ou não, depende muito dos objectivos da empresa.

    Os Trends Books não comunicam o tipo de produto que as empresas devem criar, estes servem para transmitir às marcas as cores, tecidos, formas, materiais, etc…que se vai usar naquele determinado ano.
    Após a interpretação dos Trend Books, as empresas ficam com uma visão muito mais ampla do mercado no futuro, é com base nisso que vão produzir os seus produtos. Futuramente é que se irá verificar se estes produtos poderão ou não tornar-se uma tendência, depende do sucesso dos mesmos e se vai ser consumido por um grande número de pessoas de modo a tornar-se tendência.

    Espero que tenha esclarecido todas as dúvidas.

    Muito obrigado pelo "comment"

  6. Francisco

    Olá Bruno.
    Peço desculpa se fugi um pouco ao tema principal. Não quis dizer que os Cool Hunters não são necessários, ou que o seu trabalho é irrelevante. Muito pelo contrário.
    Sou é apologista de ser uma "ferramenta" que deve ser usada de dentro para fora das empresas, e não ao contrário. Mas secalhar, depende da área de negócio.

    A meu ver, acho é capaz de ser mais fácil sobressair no meio, se se encontrar algo que possa ser massificado, através da própria empresa/agência, e criar algo original a partir das suas próprias pesquisas.
    Em princípio, à partida, é algo que as empresas concorrentes não têm à sua disposição.

    Melhores cumprimentos, e obrigado pelo esclarecimento extra.

  7. Bruno

    Olá,
    quero agradecer aqueles que dedicaram o seu tempo a comentar o meu trabalho, aqueles que tentaram e não conseguiram por diversos motivos, aos que ainda não tiveram tempo de o fazer, aos que ainda irão fazer, aos que optaram por faze-lo através de SMS, email, telefone, etc…

    MUITO OBRIGADO e não percam a próxima reportagem de tendências que sai já no mês vem.

  8. manenas

    Muito bem Bruno!! Tens futuro! continua assim que estarei cá para te ver evoluir e ser fã do teu magnífico trabalho.
    Ou não serias tu a escolha mais acertada para escrever artigos sobre esta matéria.
    Beijinhos,

    Madalena

  9. lua

    Ola Bruno, espero tu vas perceper que estou escriver, entao gostei muito deste artigo, a tua forma de escriver clara consisa…entao conocho te em milao, gostei subito de ti porque tu tenes uma sensibilidade forte frente a tudo o que e novo, que pode ser tendencia, a moda vem da um olhar mais cuidadoso…pode ser olhiando uma menina que espera na paragem do eléctrico, um cd de musica, um livro de moda Renascença um cafe en um bar de tokyo o uma fashion Punks Wear Prada party em milao lol muito bom FASHION FASHION FASHION…da esperienca e viajando.
    conhecer o mercado, onde vas vender produtos…Entoa acho que tu estas a fazer um optimo trabalho sapes coisa eu penso de ti e a estima eo afeto que sento por ti Vai Amigo continua sempre assim, tenes capacidad e atitudes enorme, faz conocher o que e FASHION. :)
    beijinhos desculpe pra o meu portuguese eu sou Italiana.

  10. MariMari

    When going over the article I had to pass a thick language barrier actually, but I got the impression that you have quite clear ideas about the job tasks and how to do them. Also your passion and determination shine through your words.
    I'm proud of you being so positive, so ready, always on-the-go and definitely… figlio del tuo tempo!
    Looking forward to reading more and wishing you all the best

    Mari

  11. nunohenrique

    Meu Grande Amigo,

    Antes de mais, quero dar-te os parabéns pelo teu artigo, pela forma bem esclarecedora como está escrito e espero que seja apenas o primeiro de muitos. Sou mais um que ficou com a perfeita noção do trabalho dos Cool Hunters.

    Em segundo lugar quero desejar-te a maior sorte do mundo e que consigas ir concretizando todos os teus objectivos. É por isso que estás longe dá tua familia e dos teus amigos.

    Um grande abraço.

  12. Edson Jaccoud

    Gostaria de informá-los que a primeira Agencia de Antecipação de Tendências a ser criada foi a Carlin International em 1947 fundada por Mr Fred Carlin um visionário inventor do conceito Style Agency e nos anos 50's mais precisamente em 1958 também criou o Comité Français de la Couleur.

    A despeito da excelente matéria extremamente esclarecedora, deve ser dado o devido credito acima.

    Site do Groupe Carlin International: http://www.carlin-international.com, endereço: 79 rue de Miromesnil 75008 Paris. Agente no Brasil Edson Jaccoud – http://www.threesale.com/carlin/newsletter


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