Desire @ Capitólio (19.11.2024)
Desire Does It Better
Texto por Miguel Barba e fotografia por Rui Freitas.
Megan Louise é presidente da Italians Do It Better (IDIB), label que gere juntamente com o mui-prolífico e também cara-metade, Johnny Jewel. A longevidade da IDIB, é uma das grandes conquistas, que vem impressionando pela forma coesa como vão gerindo o seu catálogo, conseguindo manter o interesse e admiração de muitos, num meio em que é por vezes demasiado fácil perder relevância ou cair no esquecimento. Desire é o nome do projecto que partilham em palco, que embora tenha ganho notoriedade muito por culpa da canção «Under Your Spell», que figurou na banda sonora do filme Drive, é muito mais do que apenas uma canção. Os Desire contam apenas com dois álbuns editados, o homónimo, de 2009 e “Escape”, de 2022. “Games People Play”, será o terceiro álbum e já é possível escutar seis das canções que o integrarão, e que irão desfilar no palco do Capitólio. Uma banda sonora electro-noir-para corações partidos que desejem dançar.
Antes há Orion e Love Object, bandas que integram o catálogo da IDIB. 21h em ponto, o duo Love Object, composto por Dasha Utochka e Danya Mu e toma o palco. Electro e synth pop, em receita simples e quiçá um pouco dúbia, com pinceladas dos 80, com origem na Federação Russa. Uma demonstração da versatilidade e alcance geográfico do catálogo da IDIB, deambulando entre o inglês e o russo.
Orion cintilou a partir das 21h40, com direito a projecções de animações deliciosas da sua autoria num ecrã, que incutem desde logo outra dinâmica, que por ventura faltou à primeira dupla. Orion tem controlo absoluto das operações a partir da sua guitarra synth e dos pedais que nos alimentam as diferentes batidas, sempre altamente melódicas. Tudo isto sobre o olhar atento do “patrão”, Johnny Jewel, na lateral direita do palco. «Higher» pontificou na curta actuação, que visava acima de tudo preparar a chegada de Desire.
Eram 22h30 quando os Desire entram em palco, perante uma sala bem composta. É uma banda sonora para filmes. Music is Medicine e lançam-se a «Darkside», com Johnny Jewel a mostrar ao que vem, mas um problema com a projeção interrompe o concerto durante alguns minutos. Retomamos intensamente, muito pela presença magnética e sempre provocante de Megan Louise, mas também pela força dos sintetizadores de Johnny Jewel. «Don’t Call», é cantada ao auscultador de um telefone de disco azul. Continuamos no álbum homónimo ao som de «Mirroir Mirroir», com Johnny Jewel numa entrega total na execução e, em muitos momentos, improvisando nos sintetizadores e teclados. “It’s science fiction with Love in between”.
Em «Vampire» damos por nós a acompanhar as palavras que vão surgindo no ecrã: “No matter what you say / Silver bullet, bang bang, bang bang, bang”. A voz de Megan Louise surge sempre cristalina, e «If I Can’t Hold You» apenas volta a demonstrá-lo. Já «Bizarre Love Triangle» presenteia-nos com um equilíbrio relacional e emocional, no mínimo periclitante. «Hard Times», um original de Omar S que conta com a participação de Desire, surge com uma aura house e, logo de seguida, «Human Nature», brinca com o nosso coração.
A incontornável «Under Your Spell» é celebrada tal como esperado e antecede a saída antes do encore, naquele que é um momento verdadeiramente cinematográfico pela aura que invoca e chama a si. Mas não ficaríamos por aí, no que a fenómenos culturais de franja diz respeito, com a evocação a Laura Palmer e Twin Peaks, em «Saturday», e é fácil imaginarmo-nos a dançar na Red Room, sobre o chevron branco e preto do chão e rodeados pelas longas cortinas vermelhas. «Drama Queen», que é também o mais recente avanço para o novo álbum de originais, revela-se um delicioso devaneio dance music, que encerra um concerto competente, divertido e intenso nalguns momentos, mas ao qual não conseguimos deixar de sentir que faltou aquele, “clique”, aquela faísca capaz de incendiar a plateia e tornar-nos unos.
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