“Maligna” | Joanne Harris

“Maligna” | Joanne Harris

Nós recordamos e ela não esquecerá

Maligna (Asa, 2011) foi o primeiro romance de Joanne Harris, publicado pela primeira vez em 1992, que depois caiu no esquecimento, para ressurgir num panorama mais actual, numa edição revista pela escritora. Numa nota introdutória, a autora do bestseller “Chocolate” admite ter feito algumas alterações ao manuscrito original, mas garante que «a história permanece intacta».

O romance segue dois personagens que, em momentos diferentes da História, se cruzam com a mesma jovem. Daniel salva Rosemary de um afogamento, e esta acaba por casar com o seu melhor amigo, Robert. E Alice recebe Ginny em sua casa, a actual namorada de Joe, um antigo namorado da rapariga. São duas estórias que, pela maior parte do livro, podem existir em separado; se assim o desejar, o leitor pode ler apenas a estória de Daniel ou a de Alice, mas o esperado cruzamento entre as duas aventuras revela-se uma grande fonte de suspense, que incentiva o leitor a procurar pistas e respostas ao longo de toda a leitura, tentando descodificar, afinal, que ser maravilhoso é Ginny, ou Rosemary, ou Maria, ou Ofélia.

Bela, ambivalente e manipuladora. Ela entra nas vidas de Daniel e Robert e regressa, uma vida depois, penetrando a vida, os sonhos e a arte de Alice, e de Joe. Ela move-se nas sombras, e com ela os seus estranhos e assustadores amigos, que existem porque ela assim o deseja.

A reedição desta obra num contexto em que a economia da indústria literária vibrava (pretérito imperfeito, sim – agora vibra com outra coisa) num ambiente sociocultural que era praticamente uma ode ao vampirismo não é surpreendente. No entanto, os seres de “Maligna” constituem uma atractiva versão (uma lufada de ar negro) do vampiro – se é que são vampiros. Com uma simplicidade absorvente, eles existem e sempre existiram, ela é e sempre será, enquanto alguém desejar que ela seja. É simples, não é? Nesta obra, Joanne Harris consegue esborratar a fronteira entre a vida e a morte com uma elegância que confronta, a par destes conceitos, o belo e o grotesco, o medo e o desejo, a lógica e o credível.



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