“As Histórias de Terror do Navio Negro” | Chris Priestley e David Roberts
Alan Poe também foi marinheiro
Para quem gosta de histórias de arrepiar, lidas a altas horas quando o mundo foi já dormir e o silêncio tomou conta de tudo, Alan Poe será um bom companheiro. Porém, nem só de Poe vive a modernidade do arrepio. Recentemente chegou às prateleiras de muito boa livraria o livro “As Histórias de Terror do Navio Negro”, contado por Chris Priestley e ilustrado por David Roberts, que contém material de susto de boa qualidade.
Numa velha estalagem sobre um mar quase sempre agitado, Ethan e Cathy esperam a chegada do pai que saiu sem dizer “onde”. Apesar de este lhes ter dito para não abrirem a porta antes do seu regresso, as crianças não conseguem deixar ao alcance de uma imensa tempestade um marinheiro que lhes bate à porta em busca de abrigo. Há algo no homem que inquieta Ethan, e que permanecerá um mistério até ao fim da noite, altura em que o marinheiro terá contado todas as suas histórias e revelado algo que mudará, para sempre, a vida dos dois irmãos.
Há histórias para todos os gostos e sustos: em “Piroska” todo um navio parece estar habitado por gemidos e lágrimas, excepção para o jovem marinheiro Richard Stiles e uma enigmática rapariga de cabelos ruivos; “Breu” tem como personagem central um gato, e mostra que a superstição à volta do felino negro talvez seja de manter; em “Irezumi” há uma tatuagem com vida própria; “O Rapaz do Bote” apresenta-nos um miúdo capaz de provocar o riso em situações de calamidade; “A Natureza” fará com que os apreciadores de caracóis olhem para estes bichos com outros olhos (e estômago); em “Lama”, dois gémeos mostram que há coisas impossíveis de separar; em “O Macaco”, um bando de piratas toma de assalto um navio estranhamente abandonado para descobrir um macaco. Mas será ele a criatura mais perigosa que habita o navio?; “O Demónio do Dente” é uma recriação da bola de cristal que pinta o nosso imaginário; “O Navio Negro” tem a bordo a mais estranha tripulação que navega em todos os oceanos, mares e águas; “Mata-Lobos” é o lugar onde as histórias e a vida se cruzam, revelando uma verdade que se repete em dias de Tempestade.
A prosa assustadora de Priestley, acompanhada por desenhos traçados com o negrume do carvão, faz destas curtas histórias um elogio ao lado gótico da alma humana. Para ler no silêncio da noite ou, se possível, em voz alta ao redor de uma fogueira crepitante. Uma bela e arrepiante surpresa.
Uma edição Arte Plural Edições
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