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Chiado After Work

Há vida no Chiado. Depois do trabalho também. Conheçam melhor esta tentativa de mudança de hábitos através das palavras do presidente da Associação Valorização do Chiado, Victor Pereira da Silva.

Bom bom era podermos mudar hábitos, quando fossem maus. Bom é espairecer por aí, depois da missão laboral diária cumprida. Bons hábitos levariam o proletariado a sociabilizar em harmonia, após horas de maquinaria industrial repetitiva, rotineira e anti-social. O resto do mundo já pratica after work, há muito. O Chiado, até 6 de Maio passado, deu o primeiro empurrão de outros que virão. Só faltam mesmo os (mais) desatentos e os (mal) habituados.

A Associação Valorização do Chiado (AVChiado) começou há cerca de 21 anos, depois do incêndio em Lisboa. Surge envolvido o arquitecto Cruz Abecassis, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a incentivar uma associação para os amigos do Chiado, que visasse formalizar uma comunidade que já existia há cento e tal anos.

O projecto avançou. Houve apoios camarários, financeiros e infrastructurais, que ainda hoje se mantêm.

Durante os primeiros anos o trabalho fez-se, essencialmente, no terreno. Evitar contratempos e acelerar processos de construção, combater a desertificação do comércio, habitação e espaços. Foi um processo que levou dez anos, lento e problemático.

Em 1998, expirada a primeira fase, achou-se que seria altura de dar uma volta à imagem negativa do Chiado: era um insucesso mediático. Com a Expo’98, e a abertura dos Armazéns do Chiado, a associação ambicionou uma nova imagem e reposicionamento: o Chiado que renasce das cinzas, se renova e reconstrói.

Victor Pereira da Silva, presidente da AVChiado, entrou como associado quase no início, em tempos difíceis. “Eram passeios abertos, níveis elevados de insatisfação, ligávamos para os media… Na altura tinha cá uma loja, e ainda hoje cá vivo. Reclamávamos, juntávamo-nos (os comerciantes), e quisemos minimizar os danos, as situações abusivas, o trânsito cortado… tantas coisas”.

A melhor forma que encontrou de poder fazer alguma coisa foi entrar para a direcção da associação. “Em Portugal é típico: o disparate avança primeiro, depois… resolve-se!”.

Agora o objectivo passa por culminar a imagem do Chiado: “Definitivamente um Chiado moderno, mas também tradicional, com obra concluída, novos públicos, novas actividades culturais e consolidadas… e passar essa imagem para o exterior”, explicou o presidente da AVChiado.

Para isso tinham de criar uma nova marca. A Partners ajudou e acolheu o desafio de braços abertos, com a concepção de uma nova imagem e conceito.

“ …Então pensámos em celebrar os vinte anos, não os do incêndio, mas tornar uma data negativa numa motivação, numa data simbólica e positiva. Primeiro florimos o Chiado, depois divulgámos a marca e finalmente promovemos o Natal do Chiado”, continua.

Dado o sucesso que teve esta iniciativa, aliado à vontade de consolidar a dinâmica de animação territorial (dependente do comércio, cultura e restauração) “criámos um programa com mais dois momentos: o Chiado After Work e o Chiado Cultural (além do Natal no Chiado, novamente). Isto permite que se criem hábitos, que se corrijam e melhorem estas acções, e que se possam planear projectos mais ambiciosos, no futuro”, justifica Victor Silva.

A ideia era (é) uma programação sustentada, consertada e consolidada. “Vamos para o segundo evento, é um novo posicionamento da AVChiado. Passa não só a divulgar e a apoiar associações e eventos, como a planear, juntar parceiros e pôr tudo em prática. Contamos com os apoios da Câmara, de parques de estacionamento, patrocínios de vinhos e marcas de café”, acrescenta o presidente.

A proposta é, afinal, criar um bairro com glamour, um bairro de charme, que possa também ser um bairro modelo, como elucida Victor Silva: “Não (um modelo) para se repetir noutros pontos da cidade, como Alfama ou Bairro Alto. Esses são bairros com características próprias, e questões culturais enraízadas, que devem ser respeitadas e potencializadas… Mas o Chiado também!”.

Pólos culturais, acrescentos de valor e dinâmicas de animação nas praças, ou em espaços criados para isso. “Coisas com sentido, não prejudiciais às actividades económicas, por exemplo. Nas ruas terão de ser coisas espontâneas, mas com equilíbrio. Queremos acrescentar valor, e este executivo pode tirar partido disso, independentemente da sua cor política. Estamos disponíveis e abrimos espaço para isso, com atitude cívica, sem tendências partidárias. O tempo passa e precisamos resolver coisas que não se entendem”, reforça.

A AVChiado assiste, sobretudo, aos inputs dos seus associados, representa os seus interesses, além dos do comércio, serviço e cultura e, recentemente, moradores. A Câmara é o anfitrião, quem escuta as associações (ou não) e quem decide. “O ‘patrão’ António Costa, actual presidente da CML, tem marcado a diferença e tido uma atitude exemplar. Recebe-nos, convida-nos, e faz-nos ter vontade de apresentar mais propostas, nomeadamente que o Chiado seja um projecto acabado”.

“Os projectos são para acabar. Em Portugal funciona-se com uma data… os portugueses têm de ter uma. Sem a Data nada acontece. E se arder mais alguma coisa, é melhor darem uma Data ao arquitecto que vai resolver os prejuízos…”, sugeriu o presidente da AVChiado.

Durante o período do Chiado After Work, de princípios de Abril a 6 de Maio, das 18h às 21h, cada um dos espaços aderentes fez uma festa, convidou clientes, parceiros, estabelecimentos e jornalistas. Ofereciam um aperitivo da casa, degustação de vinhos, petiscos especiais, descontos e música ao vivo, nos cerca de 20 espaços de restauração do ‘bairro’.

Houve ainda um circuito especial, com carrinhos equipados de GPS, e partida na Rua Garrett, que faziam um percurso pelo Chiado, com gravação (e tudo e tudo!).

Para quem ouviu falar, mas não viu acontecer, o intuito era “não massificar a informação. Não quisemos mupis; os públicos atraídos deveriam ser os habituais dos espaços que aderiram, com o nosso apoio à comunicação, e comunicando as acções aos parceiros e clientes. Apesar das acções serem transmitidas nos media, não quisemos intensificar a divulgação. Foi pouco abrangente. Queremos é colocar um enfoque numa vida depois do trabalho, criar uma alteração cultural e iniciar um hábito (permanência no Chiado, ao fim da tarde)”, esclarece Victor Silva.

Em Junho, depois das Festas da Cidade, com o Chiado Cultural, “queremos consolidar e, novamente, ter os restaurantes e o comércio associados. A ideia é consolidar este hábito. Demore um ou três anos, mas com os públicos adequados, também à tarde e não só à hora do almoço. Serão as mesmas pessoas, mas vamos generalizar. A cultura é um bem que se deve disponibilizar. Maximizar a informação com todos os meios que tivermos. Vale a pena ter acesso à cultura, mas com a bebida temos de ter mais cuidado…”, rematou o presidente.

A programação do Chiado Cultural estará brevemente disponível On e Offline, por todo o lado e ao alcance de todos. Assim a esperamos.

Cada bairro… no seu galho. E que venham mais After’s! No Chiado.



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