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Coimbra

Que cidade é esta?

Em Coimbra é difícil saber se se sai, vai ou fica. Há o impasse do sol que se despede, da noite que chega a escurecer os olhos, do tempo inóspito que mais rápido varre o dia. O sino invade os ouvidos ao lembrar as horas, tão já decorridas. O que fazer das horas que estão a vir, com sinos que ainda vão bater?

Os pombos, escondidos num encontro de telhado e muro branco gasto, respondem com um gorjeio observador de ladeiras; as senhoras, de cabelos brancos e bengalas nas mãos, falam com o olhar de quem espera ou muito esperou dum tempo; os muros coloridos e tão cheios de frases exclamativas, gritam. A vida acontece aos goles de café, de palavras, de olhares.

Tantas mãos escrevem, tantos sopros sopram, tantos pés correm a percorrer Coimbra num ritmo de para lá-cá. A cidade fica a ser percebida como espaço onde se constroem visões acerca do mundo, se ajeitam prédios abraçados aos outros e se põem ladeiras de pretas pedrinhas que conferem o andamento da cidade, que passa da rápida descida à vagarosa subida.

Há isto de pensar nas ladeiras como os mirantes diários duma cidade vaidosa, que gosta de ser apreciada. São as pequenas recompensas cotidianas dum sobe-desce entremeado por arcos, azulejos com inscrições que fazem lembrar personagens há muito vividas, por pessoas de novo ar que saem e entram em casas com mais de quinhentos anos.

A cidade compreende os passos idílicos que adentram em becos e respiram, aliviados, ao chegarem a largos. As paredes, imersas na harmonia indecisa entre o estreitar-se e alargar-se, fazem ver os actos ordinariamente poéticos da venda e da compra, do céu que muda do azul ao cinza, das cores, das buzinas, dos comboios que chegam para fazerem ir os que virão.

A referência muda de referência, como alguém que escreve sem estar lá fora. Vêm as imagens obscuras, já atrapalhadas pela lembrança; vêm as vozes dum outro sotaque, preenchidas de expressões nunca antes ouvidas; vêm as saudades do reconhecimento e, por vezes, vêm as sensações de (des)pertencimento. Que cidade é esta?



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