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Corneliu Porumboiu

Façamos uma vénia à Roménia.

Corneliu Porumboiu é um realizador que pertence à nova vaga de cinema romeno. Esteve presente no festival Curtas de Vila do Conde 2011 com uma retrospectiva na secção In-Focus.

“Police, Adjective” foi a sua estreia no ecrã português, seguido de “12:08 East of Bucharest”, duas longas-metragens que traçaram o seu perfil cinematográfico na compilação dedicada ao autor. Exibiram também três curtas suas: “Pe Aripile Vinului”, “Calatorie la Oras” e “Visul Lui Liviu”.

Corneliu Porumboiu mostrou com os seus filmes as relações entre o seu povo, através de temas peculiares, de uma forma leve e com um tipo de humor muito bem conseguido.

Os seus personagens? Um polícia que segue um adolescente durante uma semana por causa do consumo de haxixe na via pública ou um professor bêbedo e sem dinheiro que é humilhado na televisão regional. Estas são figuras de histórias muito especiais de uma sociedade que afinal não é tão distante da nossa. E ainda que registe uma expansão cinematográfica, o cinema romeno mostra-se genuíno e autêntico.

O realizador ganhou o prémio Camera D´Or com “12:08 East of Bucharest”, em 2006, e o prémio do Júri na secção Un Certain Regard, em 2009, ambos em Cannes.

Estudaste na Roménia e/ou fizeste algum curso no estrangeiro?

Estudei só na Roménia. Existe apenas um curso de Cinema que fica em Bucareste, no entanto, agora começam a aparecer cursos em faculdades privadas. A faculdade pública é muito boa e para mim foi óptimo. O plano de curso está segmentado em quatro níveis: argumento e crítica; edição e som; estudos de cinema e, por fim, realização. Devemos formar equipas e trabalhar para a especialização. Normalmente temos folhas de exercícios para realizar em 16mm, 35mm, preto-e-branco, etc. Realizei algumas curtas lá e, em suma, foi muito positivo.

Enquanto estudavas, havia uma enorme quantidade de talentos a emergir na faculdade?

Sim. Todos os realizadores da nova vaga romena estudaram na faculdade e havia um bom espírito entre nós. Dois anos depois de terminar fui dar aulas para lá. Agora mudaram o sistema com Bolonha, mas eu penso que é igual a todas as outras escolas. Estes são estudos vocacionais e penso que depende de cada um. Podias ter a melhor escola do mundo, mas se não és bom e não tens talento e dedicação, não há grande coisa a fazer. Na maioria parte das vezes não tínhamos grandes oportunidades. Na escola, por exemplo, só tínhamos direito a quatro takes por uma cena (risos), mas de qualquer forma, foi produtivo e útil.

Fala-me um pouco da produção romena. Como comparas a produção de hoje com a produção antes de da Revolução de 1989?

Nos anos 70 emergiram grandes realizadores na Roménia. Um deles foi Lucien Pintilie. Após a revolução, na chamada new wave, destaco Cristian Mungiu e Cristi Puiu. Eles estiveram em várias competições internacionais e, depois deles, surgiram muitos outros. Hoje em dia há imensos realizadores, muitos a trabalhar no estrangeiro.

Foi difícil encontrar os actores para os teus filmes?

Não, porque existem muitos bons actores. A maioria vem do teatro e trabalha em boas companhias. Existem também vários estudantes que vêm das escolas. Temos uma boa escola de teatro.

Também de séries televisivas e telenovelas?

Sim, também de telenovelas. Eu penso que um bom actor pode adaptar-se a qualquer formato, se tem o toque e se sabe o que está a fazer. Ao mesmo tempo, creio que os actores têm que trabalhar para viver. A produção cinematográfica não é tão grande e portanto têm que explorar outros meios para continuarem a trabalhar. Os salários não são elevados.

Tiveste apoio público para o filme?

Sim, tivemos. Candidatámo-nos a um fundo no Instituto Nacional do Cinema em que, se gostassem do argumento, poderiam cobrir até 50% do investimento. Entretanto, os restantes apoios há que procurar para conseguir completar o orçamento.

Revolução e rotina diária policial são temas difíceis de trabalhar porque estão gastos. Achas que foi a tua escrita que contém uma boa dose de humor que te levou até aos festivais internacionais?

Na verdade, foram histórias que eu ouvi e que depois transpus para os filmes. Não acho que tenha feito algo cómico porque esta é a minha forma de escrever e de mostrar aquilo que quero.

É genuíno da tua parte?

Sim. E quando estou a realizar um filme, estou muito preocupado em mostrar os personagens da forma funcional que eu propus. Acredito que se és sincero com o teu trabalho, a seguir vem o público. Nunca penso no público quando estou a trabalhar num filme. Primeiro estou preocupado com a minha ideia e em coisas que quero descobrir, na minha proposta, na linguagem, e só depois disso vem o público. No início é algo que é importante para mim e, no fim, se o público gosta, é perfeito. Acredito que se transmites algo de dentro de ti, depois as pessoas vão apreciar.

Crês que a Roménia ainda vive valores sociais passados? Como foi após a entrada na União Europeia? É visível o desenvolvimento social?

Sim, há coisas que têm mudado bastante e que têm tomado outras formas e contornos. Esses valores antigos ainda existem nas gerações mais antigas, mas têm havido grandes mudanças, até no tipo de vida social. Há muita gente que trabalha no estrangeiro, a estratificação social alterou-se e cresceu. Há uma grande diferença entre as gerações, entre, por exemplo, a minha e os adolescentes de agora. É muito diferente porque eles estão muito actualizados sobre o que se passa internacionalmente e, claro, é completamente diferente da geração dos meus pais. De um ponto de vista político, não está a mudar assim tão depressa porque continua a vigorar no poder uma geração mais velha. O tempo foi mudando o país também, mas ao mesmo tempo não da maneira que era necessário, talvez aproximando-nos dos países da União Europeia, por exemplo.

Trouxeste-nos sentimentos familiares em relação à sociedade romena, mostrando que as relações sociais são muito idênticas às nossas. Tens planeado mostrar mais elementos culturais e relações sociais romenas tão peculiares no futuro?

Sim, tenho. Eu continuarei a realizar filmes dentro desta linha. Agora estou a pensar no meu próximo projecto que penso que é bastante diferente do que fiz até agora. Tenho dois projectos neste momento. Um é mais complicado porque envolve muita pesquisa de documentação. Este último comecei recentemente e tenho tido pouco tempo para desenvolvê-lo. O outro, é um filme sobre um rapaz que quer fazer um videoclip, em que considero um trabalho um pouco mais abstracto do que fiz até agora.

E qual será a palavra em que o filme se baseará?

Ainda não sei. Ainda estou a pensar. Comecei a ouvir muita música e a escrever o argumento, mas parei a um ponto e agora estou a ver porque encontrei um tema que me agradou e estou a explorar a melhor abordagem.



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