Diana Krall, Eunice Barbosa e Manuel Oliveira Trio @Ageas CoolJazz (26.07.2024)
Sexta-feira, 26 de Julho. Um dia de sorte. Uma leve brisa que, à medida que a noite avança, se intensifica. E que, enquanto se adensa, é acompanhada por abraços, risos e outros movimentos de expressão que aparecem no mesmo comprimento de onda. Os nossos corações ficam mais quentes e a música escutada e partilhada será o nosso esteio. Quatro mãos cheias de anos, de um Cooljazz que teima (e ainda bem) em ser uma descoberta constante.
Neste quarto dia de festival, pelas 20h, no Anfiteatro Parque Marechal Carmona, fez-se ouvir Eunice Barbosa (juntamente com os seus colegas músicos). A cantora e saxofonista apresentou-se em nome próprio, com o seu quarteto composto pela mesma e pelos músicos Débora King (piano), Juliana Mendonça (contrabaixo) e Pedro Almeida (bateria). Em Abril do presente ano, Eunice lançara o seu primeiro EP “Sore”. Em palco, o quarteto corporificou o jazz, tornando-o deles e, simultaneamente, fazendo-o nosso. Foi um concerto de uma sensibilidade muito vasta, em que cada um era indispensável ao todo. Um ‘todo’ que se criou e expandiu; um ‘todo’ que se concebeu e ressoou. Seria um agradável início de noite, pleno de ternura e de sentido.
Seguir-se-ia Manuel Oliveira Trio, pelas 21h15, no Palco Ageas. Delicado e suave – nem por isso menos intenso. Manuel Oliveira é um pianista que, neste concerto, nos mostrou composições originais. Em conjunto com Alexandre Frazão (bateria) e Rodrigo Correia (contrabaixo), geraram-se melodias e cadências com sustento, como se cada música fosse uma história a ser contada e, por conseguinte, perpetuada. Introspectivo e íntimo – nem por isso menos intenso. A paisagem sonora seria alimentada por contrastes e fusões, na qual cada instrumento teria o seu momento. Saltou-me à vista o título da canção “A morte da empatia pela distância”, porquanto este concerto seria o oposto disso mesmo – seria o nosso refúgio, o nosso lugar de paz, o ponto de fuga para onde queremos ir. Muitas palmas dariam por concluída a partilha musical – felizmente, as memórias perduram.
Às 22h30, o espaço cénico seria ocupado por Diana Krall, perante uma plateia cheia que esperava ansiosamente para ouvir e desfrutar da voz desta musa do jazz. Seria um concerto discreto, mas não ausente e muito cheio de emoção. Dona de uma capacidade vocal que não acaba, Diana Krall deambulou por entre tempestades rítmicas e harmonias perfeitas, com uma profundidade que tão bem a caracteriza. Para lá da imensidão sonora que a distingue, tocou piano como se fosse um pássaro que nunca pára de voar. Afinal, o céu não tem de ser o limite. Em palco, esteve acompanhada dos seus colegas músicos na bateria e no contrabaixo, envoltos por um ‘pano de fundo’ avermelhado que nos fez sentir como se estivéssemos numa belíssima sala de espectáculos. Para a artista, o Coolajzz é como “estar em casa” (diria durante o concerto) – e seria a sétima vez a pisar o palco no Hipódromo Manuel Possolo. Por entre temas como «Almost Like Being In Love», «All or Nothing at All», «I’ve Got You Under My Skin» ou «S’Wonderful», Diana Krall deleitou-nos, afastando o vento que se fazia sentir. Desconcertou-nos e conectou-nos a algo maior, e isso foi interessante e deveras cativante. O movimento cantado (e tocado) deram origem a um ténue balanço dançado e a um silêncio compenetrado. Terminaria, afirmando que estava muito feliz de estar ‘aqui’ e que gostava muito de tocar para ‘nós’ e com os seus parceiros musicais. O público aplaudaria com muita satisfação, e Diana Krall voltaria para mais. Que maravilha! Foi mesmo um dia de sorte.
Até já, CoolJazz. Vemo-nos já dia 30!
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