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Dino D’Santiago, Maro e Rogério Pitomba Trio @ Ageas Cooljazz (19.07.2024)

Fotografia por Ana Viotti.

É sexta-feira, dia 19 de Julho.
Um dia que se fez quente e que anoitece à mesma temperatura.
É a terceira noite desta 20a edição do Coolajzz.
Gente nova que se junta, pessoas regulares que se acumulam. E a celebração não tarda e continua. Serão horas e horas de música e de convívio, sedimentados por uma alegria que será muito reparadora.

Rogério Pitomba Trio dá início à festa, pelas 20h, no Anfiteatro Parque Marechal Carmona. O trio, naquela noite constituído por Filipe Morais (baixo), Rogério Pitomba (bateria) e Tom Maciel (piano), foi, também, um dos grupos vencedores do concurso de talentos Ageas Cooljazz By SmoothFM. Por sua vez, Rogério Pitomba, o baterista renomado, tem tido uma grande influência no mundo da música, nomeadamente pela forma polivalente como mistura diferentes estilos e ritmos musicais, ilustrando-os jazzísticamente. Este projecto resulta de uma fusão sonora muito ampla o que, por conseguinte, lhe confere um sentido identitário muito singular. Além disso, as múltiplas variações tocadas pelos músicos tornaram bastante evidente o talento desembaraçado e ágil dos mesmos, tendo havido uma escuta muito concreta e sentida por parte do público. A noite far-se-ia animada porquanto firmada desta forma – com esta(s) sonoridade(s) tão distinta(s) e, ao mesmo tempo, tão intima(s).

É a vez de Maro nos continuar a deleitar. Às 21h, no Palco Ageas, a mesma faz-se acompanhar de dois músicos guitarristas (Pau Figueres e Darío Barroso). Um espaço cénico singelo e belo, preenchido de uma luz imensa que emanou, sobretudo, da voz (e do coração) de Maro. A artista presenteou-nos, desde logo, com a «oxalá», do seu mais recente álbum “Hortelã” (lançado em 2023). De sorriso perene e contagiante, Maro conquistou-nos desde que entrou em palco. Com a sua voz cheia de corpo vivo, cantou «tens morada em mim», «ouvi dizer», «há-de sarar», «just wanna forget you», entre outras (tais como a «lifeline» em versão acústica). Este concerto, com três guitarras e voz, é o resultado de uma vontade muito manifesta da artista, e é de uma sinceridade tão palpável que nos fez sentir como se estivéssemos no lugar mais seguro (e confortável. Maro, juntamente com os dois amigos guitarristas, tem andado em tour por esse mundo fora. Naquela noite, também nós seríamos cosmos dada a sua energia tão humilde, tão serena e tão delicada. A lua cheia no céu não ficou indiferente, da mesma maneira que esta hora melodiosa ficaria registada na nossa mente. A cantora mostrou-se, a todo o momento, muito grata por estar ali. E a intensidade com que cada respiração ia sendo vivida, foi sendo ampliada. Foi “épico”, como diria Maro. As luzes e a geometria das mesmas consolidariam o vinculo que seria gerado entre o público e a artista. Houve muita partilha, muita boa disposição e o concerto culminaria com a “saudade, saudade”, a cancão que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção de 2022. Maro, que teria cantado na abertura do concerto da Jessie J no Cooljazz de 2019; Maro, que teria cantado com Jacob Collier, também no Cooljazz de 2019; Maro, que subira agora a palco, em nome próprio, no Cooljazz de 2024; Maro, que se revela (e eleva) enquanto cria e (en)canta.

Seguir-se-ia Dino D’Santiago e a sua banda, num contentamento completo e pleno. O cantor e os quatro músicos, em palco, sedimentaram as nossas maiores alegrias, afastando as angústias e as tristezas sentidas, numa total entrega deveras generosa. O espaço de actuação está escuro, ouve-se música ao fundo. Surge uma luz avermelhada, e um sol imanente projectado. É o «Mundu Nôbu» que anuncia. De seguida, o artista faria uma homenagem a Sara Tavares, cantando uma música produzida pela mesma em 2012. A sua voz electrizante edificar-nos-ia, concedendo-nos os pilares necessários para sermos pessoas melhores e mais crescidas. Foi um concerto dançado do início ao fim, com a alma e o corpo a serem alimentados e, mais do que isso, curados. A palavra, o lugar de fala e o poder da mensagem foram as forças-motrizes para esta hora e meia de concerto – estávamos ali, éramos “família” (como tantas vezes referiu Dino). Cantou músicas de vários álbuns, num festival que é casa para o artista (pois que há mais de uma dezena de anos que está presente no mesmo, a viver e a sentir concertos de outros companheiros artistas). Dino D’Santiago quis celebrar a diversidade da música portuguesa – e conseguiu; Dino D’Santiago quis comemorar a união e a força da amizade – e conseguiu; Dino D’Santiago quis agitar os nossos corações pois, nas suas palavras, “Somos escravos mentais e está na hora de nos libertarmos!” – e conseguiu; Dino D’Santiago quis superar-se – e conseguiu. Aquela seria a noite em que “escolhemos vender o medo e comprar coragem”. O artista contar-nos-ia sobre a sua infância e adolescência, sempre frisando a importância da história, da escuta e do conhecimento. Temos o ritmo no corpo e Dino fez questão de nos lembrar disso a todo e cada momento. Ainda se fez acompanhar de Luedji Luna em duas músicas, também dedicou várias delas, e cantou a cappella (concedendo à ‘Mãe África’). Claudino Pereira já ganhou oito prémios Play e já foi considerado, pela ONU, um dos cem afrodescendentes mais influentes do mundo. A esperança fez-se sentir ainda mais quando Maro subiu ao palco para cantar com o artista. O afago gerado findaria com “Djonsinho Cabral”, numa verdade tamanha e absoluta. Foi muita liberdade!

Até já, Coolajzz. Já nos vemos esta semana!



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