Fontaines D.C. @ Sagres Campo Pequeno (01.11.2024)
"Romance" na sala
10 anos volvidos sobre o nascimento da banda, muito já aconteceu na carreira dos Fontaines D.C., que no momento actual procuram, sem necessidade de o esconder, a afirmação em palcos maiores, e perante um público mais abrangente, depois de o terem conseguido com distinção no circuito independente. Muito já se escreveu sobre esta opção, vincada pelas escolhas sonoras que dão corpo ao novo “Romance”, e provavelmente, muito mais se escreverá, mas hoje não será o dia. Hoje a música de quatro álbuns e a sua presença em palco falará pelos irlandeses de Dublin. Três álbuns mui celebrados, lançados ainda pela Partisan; “Dogrel” (2019), A Hero’s Death (2020) e Skinty Fia (2022) e, ainda fresco, “Romance”, já pela XL, casa de outros nomes grandes como os Radiohead, dão pedigree mais do que suficiente para um alinhamento abrangente.
Os ingleses Wunderhorse entram em palco à hora marcada, 19h50, com as guitarras a cavalgarem numa onda manifestamente post-punk de elevado teor easy-listening, perante uma plateia já muito bem composta, deixando antever uma sala cheia, mas sem acrescentar muito. Limitam-se a cumprir o seu papel condignamente nos quase 40 minutos que têm em palco.
Imediatamente após o final do concerto dos Wunderhorse cai sobre o palco uma longa e vasta cortina, para esconder dos olhares curiosos o que se passa sobre o palco. 21 é a hora marcada para o início, mas passamo-la, e a natural impaciência faz-se sentir. Mas são apenas 5 minutos a mais. «Romance» faz-se ouvir ainda com o pano a esconder a banda, apenas para cair com pompa durante o crescendo final. «Jackie Down the Line» surge logo a rasgar de seguida, marcando uma entrada apoteótica, completada por «Televised Minds», frenética como se quer, com o baixo palpitante e as guitarras vincadas, enquanto a voz de Grian Chatten trilha o caminho.
Em «A Lucid Dream» vemos estrelas, luas e pássaros suspensos em contra-luz, com a ajuda de panos que sobem ao fundo do palco para o efeito. A melancolia de «Roman Holiday», pautada pela guitarra acústica que Grian empunha, e no segundo momento pelos teclados. O sentimento persiste em «Big Shot», mas somos logo arrancados desse estado de espírito ao som de «Death Kink» e «A Hero’s Death», sempre com adesão máxima da plateia onde entretanto deflagra uma tocha.
O que as canções novas perdem em irreverência, ganham na grandiosidade que assumem em palco. Continuamos o “Romance”, sempre com uma palete de cores de contrastes. A efusiva «Here’s the Thing» leva-nos até «Bug». O foco está em “Romance”, é aí que se encontram os Fontaines nesta altura, ensaiando hinos, e aspirando às grandes arenas. Essa ambição é evidente. Entretanto na plateia proliferam mosh pits e crowd surfing na vibrante «Boys in the Better Land».
«Favourite» é dedicada a Lisboa, mesmo antes da saída, após uns curtos, mas muito, muito intensos 65 minutos. Com o regresso a acontecer, mas após uma anormalmente longa espera.
«In The Modern World» é entoada em uníssono, porque convenhamos, foi pensada para funcionar nestes moldes. Já «I Love You» foi a penúltima canção da noite, porque a fechar estava a inevitável «Starbuster», que mostra uma das novas facetas dos de Dublin City, numa canção com tempos muito próprios, mas sempre abraçada pelo público. E foi assim do princípio ao fim, num concerto que quando muito pecou por curto, e nada mais.
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