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Mabe Fratti @ B.Leza (31.10.2024)

A abertura coube a Teresa Castro, mais conhecida pelo nome de palco de Calcutá, que se apresenta em palco com guitarra e harmónio a acompanhar a sua voz. Inicialmente sentada sobre um tapete no chão do palco, tocando o harmónio que, camada sobre camada vai criando uma atmosfera que ora se adensa, ora se rarefaz. A voz é a de uma barda moderna, projectando-se com recurso a pedais de loop, que a tornam um instrumento por si só. Quando a guitarra faz a sua aparição, fá-lo primeiro de uma forma menos ortodoxa (com pancadas na parte de trás e cordas riscadas apenas pela ponta das unhas), como para fazer a ponte entre composições mais atmosféricas, para uma toada folk etérea, infundida por distorção aqui e ali. O caminho ficou aberto para o que se seguiu.

O mais recente “Sentir Que No Sabes” marca um ou vários passos em frente na sonoridade de Mabe Fratti; sua sonoridade porque é verdadeiramente difícil de catalogar e num bom sentido. Deixa de se alicerçar maioritariamente no violoncelo, para expandir com o auxílio de outros elementos, mas sem perder o experimentalismo e a capacidade de surpreender, ambas seu apanágio. Desde 2019 até ao presente, Fratti, conta com quatro álbuns a solo, o álbum com as Amor Muere, banda que integra e que passou por cá há alguns meses, também pela mão da ZDB, e algumas colaborações, que tornam a carreira de Mabe Fratti altamente produtiva, quer quantitativamente, quer qualitativamente.

O espanhol falado do lado de lá do Atlântico, transparece características e qualidades que o tornam único, mesmo considerando todas as variações nos sotaques e nas expressões. O tempo e ritmo mais pausado com que é falado (e cantado), permite-nos saboreá-lo melhor. As palavras atraem-nos, ao invés de nos afastarem pela rapidez. Esta característica também está presente nas canções da guatemalteca. E enriquecem-nas ainda mais.

Fazendo do violoncelo um instrumento de distorção arrancamos ao som de «Kravitz». Surpreende o músculo incutido, num registo que se aproxima do metal, e ao mesmo tempo damos por nós a pensar que se calhar não devíamos estar assim tão surpreendidos. Os mais incautos poderiam pensar que não estavam a ouvir Mabe Fratti, mas a matriz está lá. O inconformismo é palpável; uma cacofonia com uma batida num registo quase drum’n’bass, com a guitarra e o violoncelo a procurarem mover o centro de massa da canção, e com sucesso diga-se.

«El Sol Sigue Ahí» é um regresso às origens, mas mesmo aqui à cuidado de não facilitar. Sempre que pode Mabe, descontrai, baralha e sempre de forma consistente. A premissa prevalece em «Quieras o no». Depois há as inúmeras formas de Mabe abordar o violoncelo. Em «Oidos» a essência prevalece, mas há uma maior acutilância, deliberada, belíssima.

Dá-se os “cumpleaños” à ZDB e arrancamos para o minimalismo arrepiante de «Angel nuevo», com Fratti , sempre ao violoncelo, que usa de forma assertiva, num primeiro momento, para depois a guitarra e a bateria nos envolverem suavemente.

«Creo Que Puedo Hacer Algo» surge num crescendo que evolui da forma mais inesperada; há uma batida inesperada oferecida pela bateria. Fratti faz questão de frisar ao longo do concerto a importância da sua banda, e compreende-se o porquê, pela forma como a ajudam a que as suas canções surjam deliciosamente exuberantes e com inesperadas formas. O (quase) final é marcado pela beleza de «Enfrente», por ventura aquela que menos diverge do original, mas apenas numa fase inicial, para de repente irromper num final com laivos de drum’n’bass.

Temos o privilégio do encore que habitualmente não acontece, ao som de «Em Medio». Pequenas coisas que nos acalentam a alma. Prestação belíssima!



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