Igor Regalla – Fotografia de Mário Pires

Igor Regalla & Rodrigo Saraiva

"Se só fizeres, se calhar consegues chegar às pessoas"

A liberdade é um lugar inquieto ocupou a sala 1 do Teatro Rápido (TR) durante o mês de Abril. Igor e Rodrigo vestiram (despiram?)  um texto de Lourenço Henriques e, com a encenação de Marco Paiva, viveram um mês de purga e de oração. Quisemos conhecer esta dupla de actores cuja prestação tanto nos inquietou.

Marcámos encontro no Teatro Rápido e, tal como acontecia na peça, Rodrigo recebeu o Igor com um «viva!». «Já conhecia o Igor e tinha vontade de trabalhar com ele. O Lourenço recrutou-me para este projecto e pensei nele», disse-nos Rodrigo Saraiva. «Esta peça é um ciclo entre duas pessoas que são a mesma e achei que poderia ser convocado aqui um universo multirracial.» Uma espécie de Yin e Yang? «Sim, isso mesmo», confirmou Rodrigo.

«Eu gostei muito da personagem porque havia uma certa identificação com a fase da minha vida. É alguém que foge em busca da liberdade e depois depara-se com aquela figura que lhe ensina o que é a liberdade.» , conta-nos Igor, que confessou o enorme prazer que teve ao trabalhar com o Rodrigo. O tema do mês de Abril, a liberdade, agradava a ambos.

Questionados sobre a construção das personagens e do espaço cénico onde a acção se desenrolava, Rodrigo diz-nos: «Nós não construímos nada, nós fazemos até que as coisas surjam. Se só fizeres, se calhar consegues chegar às pessoas.»

Igor Regalla confessa que até ser convidado para este projecto não tinha visitado sequer o TR: «Tinha ouvido falar mas… torcia um pouco o nariz. Quinze minutos? É que o teatro para mim é uma coisa intensa. A primeira peça que vi foi em Fevereiro, com a Lídia Muñoz.» E rendeu-se ao conceito. E viveu rendido durante o mês de Abril, à equipa, ao espaço. E à sala onde ambos criaram uma espécie de local de oração ou de purga, onde pontapeavam medos e inquietações. Mais uma vez, a atracção pelo tema da liberdade é sublinhada: «Acabei por ir buscar coisas minhas, que estavam no meu passado, para a minha personagem.», diz-nos Igor. Rodrigo acrescenta: «Este era o texto certo que nos surgiu na altura certa. Ambos tínhamos coisas para purgar e foi por isso que viemos aqui à “igreja”, de quinta a segunda.»

Igor Regalla - Fotografia de Mário Pires

A experiência TR marcou Rodrigo e Igor e é com um brilhozinho nos olhos que falam do mês de Abril. «O TR é a Vegas dos actores», diz Rodrigo. Neste espaço o lucro é sobretudo humano e a experiência é definida por ambos como «esmagadora».  Aliás, fala-nos numa vida A.T.R (Antes do TR) e D.T.R. (Depois do TR). «Aqui tu estás sem rede, é uma prova de fogo…Nunca me tinha sentido tão validado como actor. E para os autores, este conceito de microteatro é um grande desafio. Todas as histórias têm um início e um desfecho, e é o caminho entre um e o outro que importa. É aí que tens que criar algo sumarento.» E no TR há “apenas” quinze minutos para começar, partilhar esse “sumo” com o público e terminar.  «Confesso que estou curioso por ir ver o que fizeram da sala 1» – diz-nos Igor Regalla. O que fizeram da sua “igreja”.

Rodrigo: «Gostei muito mais de fazer isto do que aquilo que as pessoas, todas, possam ter gostado de ver.» E houve experiências marcantes, em termos de público? «Sim – diz Igor – houve um senhor que no final do espectáculo nos deu uma gorjeta. Nós passávamos uma caixa para colocar a resposta ao nosso questionário e eu apercebi-me que, em silêncio e de forma discreta, o senhor teria colocado lá algo mais do que o papel com a resposta. Era uma nota. Ficámos supresos. Outra situação curiosa foi quando nos apercebemos, também na altura de passar o questionário, que tínhamos no público um casal de cegos.» Rodrigo lamenta tê-los deixado escapar sem perguntar como tinham sentido o espectáculo.

Rodrigo Saraiva - Fotografia de Mário Pires

O último dia foi muito emotivo para Rodrigo: «Senti-me num pranto. Isto foi irrepetível. Sentes coisas e corres atrás do sentir.» Igor sublinha: «É por isso que digo que temos uma profissão privilegiada.» «É a melhor profissão do mundo» – acrescenta Rodrigo – «somos os únicos que podemos estar nus sem sermos presos.»

E nós, espectadores, bebemos do privilégio de ter em palco actores como o Rodrigo e o Igor, que nos contagiam de emoção com a forma como falam da experiência A liberdade é um lugar inquieto. Ambos têm projectos e ideias na manga.

Em breve poderemos encontrar o rosto de Igor na tela, na curta O sol nasce sempre do mesmo lado  que foi seleccionada para a terceira edição do New York Portuguese Short Film Festival e que será exibida em Nova Iorque, Lisboa e Londres.  E Rodrigo já anunciou, via facebook, o regresso aos “palcos” do Teatro Rápido, em Julho.

 

Fotografia de Mário Pires.



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