JULIA HOLTER @ Galeria Zé dos Bois © Luís Martins

JULIA HOLTER @ Galeria Zé dos Bois (23.07.2013)

Um ano após a emblemática aparição na Igreja de St. George, Julia Holter regressa à ZdB com o terceiro álbum "Loud City Song", numa noite de êxtase delicado e onírico.

Pouco depois da hora marcada, Julia sobe ao palco do Aquário da Galeria Zé dos Bois, ainda entre trejeitos retraídos mas sempre gentis, ladeada dos músicos que completavam o quinteto desta actuação. De olhar longínquo e liberto, irrompe com This is Ekstasis, faixa do registo LP que nos trouxe no passado ano, Ekstasis. Deambulando em ecos celestes e melodias esotéricas, imergimos graciosos na complexidade das suas camadas e nivelamentos – é o território de uma pop experimental traçada de jazz, folk ou psicadélico; uma música de câmara mística e exuberante.

Julia graceja com o público sobre a universalidade globalizante que torna tão pequenos o mundo ou a cidade, antecipando World, – primeiro single do álbum Loud City Song, a estrear no próximo mês -, um tema límpido e melancólico num apelo terno e fragilizado à evasão. Segue-se a ritmada In The Green Wild, também novo single e já com direito videoclip, em groove bossa nova e requintes de burlesco. Do novo registo ouviram-se peças de um trago bizarro refrescante tão esperado de Holter, como City Appearing, Maxim’s II, This is a True Heart e Horns Surrounding Me.

JULIA HOLTER @ Galeria Zé dos Bois © Luís Martins

Sintetizam-se a tonalidade dramática e a sensação cinematográfica da sonoridade de Loud City Song que tanto parece apetrechar uma narrativa visual inclassificável – uma espécie de banda sonora que floresce ela mesma histórias e encontros com o imaginário. Não são surpresa estas impressões aquando tamanha a intertextualidade de onde jorra a poética de Holter. Loud City Song, cuja grande maioria dos temas terão sido escritos antes mesmo do lançamento do primeiro álbum Tragedy (2011), tem influências da poesia de Frank O’Hara, a música de Joni Mitchell e da obra literária Gigi, da autoria da francesa Colette, como possibilidades exploratórias – esta é então a história de Gigi numa qualquer cidade moderna, um convite irrecusável à divagação citadina.

JULIA HOLTER @ Galeria Zé dos Bois © Luís Martins

Ainda do anterior Ekstasis, o quinteto presenteou a plateia com revisitações a temas já tão bem conhecidos e aguardados: Marienbad, Four Gardens, Our Sorrows e Goddess Eyes.

Julia Holter deleita-nos com uma experiência intimista e espirituosa, convocando reminiscências e desvelando refúgios entre o murmúrio erudito e a electrónica aguçada – leva-nos de viagem sem retorno bem combinado.

 

Fotografia de Luís Martins



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