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Líquen | Entrevista

Não queremos que o palco seja uma cópia exata do disco. Nunca foi um objectivo nosso chegar ao palco e regurgitar o que está no disco.

Líquen até começou no singular, mas rapidamente evoluiu para algo colectivo, o que dada a definição biológica de Líquen faz todo o sentido. Agora os Líquen são Constança Ochoa, Buga, Pepas e Leo, e foi com eles que partilhámos uma conversa animada (porque chamar-lhe uma entrevista daria um ar demasiado formal ao momento) ao longo de 15 minutos, pouco depois de terem actuado no palco Heineken, no segundo dia do NOS Alive. Líquen em discurso directo para a Rua de Baixo.

[RDB] Festivais como o Emergente, o Termómetro (venceram ambos N.do E.)… acabam por ter um papel crucial no apoio a bandas emergentes como a vossa.

[Líquen – Constança] Da minha perspetiva, é uma rampa de lançamento. Eu não estava nada à espera de ganharmos prémios nos dois festivais. Foi um privilégio enorme. A visibilidade nota-se logo.

[Líquen – Buga] Sim, nota-se mesmo o impacto. Ainda por cima agora que há uma atenção crescente aos projetos portugueses.

[RDB] Mesmo com todas as dificuldades, acho que a música portuguesa nunca esteve tão bem e tão diversificada.

[Líquen – Buga] Exato. Todos os anos aparecem projetos novos, gente nova a lançar-se. O Emergente tem crescido muito. O Termómetro também. E o facto de termos ganho em ambos ajuda muito. Dá-nos acesso a plataformas onde podemos partilhar a nossa música, chama a atenção para o projeto… E põe-nos em palcos que, de outra forma, talvez demorássemos anos a alcançar. É mesmo uma mais-valia. A banda só existe desde setembro!

[RDB] Era mesmo isso que ia perguntar: como é que tudo começou? Como é que a banda ganhou forma?

[Líquen – Constança] Começou comigo, com alguns temas. Comecei a trabalhar com o Buga em casa. Gravávamos coisas, experimentávamos…

[Líquen – Buga] Houve muitas sessões em casa. A Constança já adormecida… (risos)

[Líquen – Constança] É verdade. Depois comecei a trabalhar com o Peppas, já tínhamos trabalhado antes.

[Líquen – Buga] Curiosamente, tanto eu como a Constança já conhecíamos o Peppas há anos. Parece que era a pessoa certa. Mas ninguém conhecia o Leo.

[Líquen – Constança] Eu conheci o Leo num concerto em Abril… E no verão já estava na banda!

[Líquen – Buga] Lembro-me de teres dito: “Conheci um gajo do Marta — é fixe!” E eu e a Constança dissemos: “Bora convidá-lo!”… E ele disse que sim.

[RDB] E o nome da banda?

[Líquen – Constança] Fui eu que sugeri. Tenho formação em biologia e gosto muito de ciências. Fiz uma lista com mil nomes num documento do Word e fui vendo qual me soava melhor. Gosto muito de líquenes — o conceito de simbiose, de algo diferente. E achei que fazia sentido também para um projeto musical.

[Líquen – Buga] Eles estão em todo o lado. Onde a natureza floresce, há líquenes (aponta para o tronco de uma árvore onde se podem vê-los – N.do.E.).

[RDB] Sobre as canções… Há ali uma base electrónica e pop evidente, mas depois há outros elementos difíceis de catalogar. Isso dá-vos uma identidade muito própria. Há bandas que passaram por este palco nos últimos dias — algumas estrangeiras — que soam a “mais do mesmo”. As portuguesas, como a vossa, destacam-se. O que vos levou a abraçar essa componente eletrónica?

[Líquen – Pepas] Acho que tem a ver com o facto de não estarmos a tocar os instrumentos que aprendemos inicialmente. Eu e o Buga vínhamos da guitarra, o Leo do piano… Entrámos todos neste projeto com a ideia de criar sons, sem pensar “preciso de uma guitarra aqui” ou “isto precisa de um Rhodes”. Queríamos mesmo escangalhar os sons, criar texturas — mas manter a canção. As composições da Constança são a base, depois trabalhamos sobre isso.

[RDB] Começam com as letras e depois juntam tudo, certo?

[Líquen – Pepas] Exato. E muitos de nós já estávamos um pouco cansados da estrutura tradicional: baixo, guitarra, bateria. Queríamos fugir disso.

[Líquen – Constança] Mas mantendo sempre autenticidade.

[RDB] As primeiras canções que tocaram ainda não estão no EP, certo? Estão a trabalhar num álbum de estreia?

[Líquen – Constança] Sim. Vamos fazer uma residência artística em Agosto.

[Líquen – Buga] Vamos isolar-nos numa casa, no meio de uma aldeia, durante uma semana e meia, para ver se conseguimos terminar esse processo criativo. Já temos material, mas ainda precisa de ser refinado. Também vai acontecer quando formos para estúdio.

[RDB] A fórmula já resultou para muitas bandas. A Malva, por exemplo.

[Líquen – Buga] Exactamente. Vamos também trabalhar com a Suze Ribeiro, por causa do Emergente. Vai ser fixe. 

[Líquen – Leo] Temos várias ideias pequenas. Queremos criar coisas rápidas, intensas.

[RDB] Então o que ouvimos hoje pode soar diferente no disco?

[Líquen – Constança] Algumas coisas sim.

[Líquen – Buga] E achamos isso fixe. Não queremos que o palco seja uma cópia exata do disco. Nunca foi um objectivo nosso chegar ao palco e regurgitar o que está no disco. Não usamos backing tracks por isso mesmo.

[RDB] Era isso que ia perguntar. Como é que transportam o disco para o palco?

[Líquen – Pepas] Com liberdade. Há coisas que faço ao vivo que não estão no disco, mas surgiram nos ensaios e ficaram.

[Líquen – Constança] Valorizamos elementos que definem a música. 

[Líquen – Pepas] A base está lá, mas o resto pode ser sempre explorado.

[Líquen – Buga] Agora quero criar um teclado a partir da voz da Constança. Agora quero gravar o som do autoclismo a encher para fazer um teclado com isso! (Risos!)

[RDB] A vertente eletrónica dá-vos essa liberdade.

[Líquen – Pepas] E também evita o cansaço criativo. Introduzimos sempre pequenos detalhes novos.

[Líquen – Buga] Mas às vezes há também acidentes fortuitos. A máquina engana-se e de repente sai algo incrível.

[RDB] Como naquele vídeo do Damon Albarn a mostrar como surgiu a «Clint Eastwood» dos Gorillaz…



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