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Michael Kiwanuka | “Home Again”

O karma das coisas boas

Folk, soul, transparência, envolvência, simplicidade e muita competência, honestidade. Michael Kiwanuka dá muito em “Home Again” para receber críticas de melhor álbum do ano.

Entre Ottis Redding e Tim Buckley, de um registo folk, embora não interventivo, a uma soul pura, genuína, que não envergonharia o seu mestre Marvin Gaye, mais devida à produção de Paul Butler ou Ethan Johns, “Home Again” é o primeiro álbum de Michael Kiwanuka.

Assumidamente vintage, até na estilizada caixa do CD, cuidadosamente retro, que quase “pede” uma edição em vinil, solidamente assente em referências do passado, “Home Again” parece perdido numa melancolia sincera e contemplativa que nos embala sem entristecer, sempre guiada pela guitarra que acompanha desde cedo este jovem londrino de 25 anos, ele próprio ainda à procura do seu lugar, filho de refugiados do Uganda de Amin em Inglaterra, amante de música americana de outra era, de um retorno a casa que este álbum corporiza com nostalgia.

Paciente e contemplativo em temas como «Rest» ou «Worry Walks Beside Me», que quase desmentem a sua idade, viaja directamente para os anos 60 do folk que tanto o marca em «Bones» ou «Always Waiting». Em «I Won’t Lie», toma todas as referidas influências e reinterpreta-as num registo soul marcado pelo gospel. «Any Day Will Do Fine» remete para um intimismo de uma qualquer sessão de estúdio perdida em bobines da Motown, a guitarra acústica surge tímida, envolvida em sopros, cordas, guitarra e coros.

Uma voz segura, transparente, que se afirma como uma figura incontornável da nova soul, um herdeiro por direito daqueles que o inspiram, sobretudo em temas como «Home Again», que dá o nome ao álbum, ou «I’ll Get Along», toda ela ritmo e swing embalada pela flauta e coros que cuidadosamente vestem a voz, ora quase imperceptíveis, ora num crescendo poderoso, e a fiel e inevitável companheira, a guitarra acústica.

Em «Getting Ready», Kiwanuka assume a sua espiritualidade e oferece-nos a mais despida de todas as canções do álbum. Com a honestidade que o perpassa, dispensa grandes orquestrações e dá espaço à sua guitarra para acompanhar as dúvidas que a sua voz nos transmite.

Michael Kiwanuka sente o que nos canta e assume-se, com este trabalho, sem favores e por direito próprio, como um justo e digno representante da soul nos nossos dias. “Home Again” ouve-se uma e outra vez, provocando saudade dos grandes e uma vontade enorme de escutar ao vivo, mais que o disco, o artista.



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