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Na Minha Rua… Taipei

Onde a terceira idade usa iPad's

Situada no Pacífico Norte, do outro lado do globo, capital da alcunhada “Formosa” pelos navegadores Portugueses aquando da sua passagem pelo estreito de Taiwan em 1544, a Taipei dos tempos modernos encerra uma fusão cultural Asiática, fruto da sua colonização Japonesa , das suas raizes Chinesas e da sua localização geográfica (próxima de Países como a Indonésia, Filipinas e Malásia), sendo que os Aborigenes Taiwaneses, de origem Austronésia, têm origem na região das ilhas supra-citadas.

Nos primeiros dias estranhei todo o ritmo da cidade, não nego. Comida disponível na rua de 5 em 5 metros, (fome é coisa que os Taipenses não passam) uma sobrepovoação inacreditável de scooters (De início ainda pensei que fosse uma concentração de amantes do género, tipo Faro, mas mais geek. Afinal não, é o meio de transporte mais proliferado) e ruas que misturam ombro-a-ombro o mais tecnológico existente à face da terra, ao mais rústico negócio local. Uma espécie de Blade Runner mais light, diria a minha mente exagerada.

Um traço marcante de Taipei é a sua comida, (que acima mencionei) variadíssima, e para mim difícil de definir devido à vasta escolha. Pratos provenientes quer dos seus nativos aborígenes, quer de influência Chinesa e até Japonesa, quer (para baralhar as contas) da fusão de cada uma destas proveniências entre si e até entre todas. Uma coisa é certa, os amantes de comida não vão ficar desapontados em Taipei, havendo também todo o tipo de oferta em relação a comida ocidental.

A rede de metro é estranhamente eficiente , pontual e de limpeza quase hospitalar.

Munido de Lcd’s que nos dão informação em tempo real acerca dos timings dos comboios e tempo de espera, o metro de Taipei ao invés do tradicional bilhete de cartão, tem um sistema de chapas de plástico com um micro-chip que grava a viagem de destino do passageiro, o que permite salvaguardar o ambiente pela poupança na utilização de papel.

A contrastar com o metro, temos o trânsito nas estradas, que é absolutamente de doidos, sendo as infrações do código da estrada o pão nosso de cada dia, mas tudo concertado numa espécie de caos organizado e institucionalizado, com milhares de scooters claro está.

Os locais, de forma geral, genuinamente amigáveis e bastante afáveis, não se coibem de tentar ajudar no mais insignificante do problema, gestos que no ocidente fariam muitos pensar: “epá, que é que este gajo quer…? espero que não tenha uma faca.” , algo impensável em Taipei, com uma taxa de criminalidade baixíssima e decrescente.

Em claro e crescente desenvolvimento cultural, Taipei é ávida de coisas novas, (reflexo também do facto de Taiwan ter estado sob lei Marcial até 1987) começando cada vez mais a ser palco para artistas de renome internacional em todas as áreas. As novas gerações são muito mais abertas em relação às mais velhas, devido à muito recente industrialização e crescimento (Taipei cresceu e modernizou-se de forma radical no espaço de 30 anos, sendo os anos 60 o ponto de partida do que viria a ser considerado um exemplo extremo de crescimento, tendo o governo começado a focar-se fortemente na economia, desenvolvimento industrial e na educação a partir do Início dessa década).

A vida nocturna é ocupada, com bastante oferta, desde bares e clubes estéticamente evoluidíssimos a bares mais trashy e hipster, não deixando no entanto de ser muito interessantes dentro do seu género.

Sendo o Budismo a religião com maior projecção, seguida do Taoismo e relegando o Protestantismo e o Catolicismo para 4º e 5º lugar respectivamente, nota-se uma clara influência das religiões cimeiras em toda a perspectiva de vida das pessoas, sendo de forma geral um povo extremamente honesto e com o bem sempre como prisma.

Quanto a estrangeiros, existe uma considerável comunidade, principalmente de pessoas que vieram aprender Mandarim. Taipei é o principal destino para a aprendizagem de Chinês em detrimento da China devido a todos os problemas inerentes ao ainda problemático governo vigente, aproveitando também , de forma geral, os que têm o Ingês como sua lingua materna, para dar aulas nas escolas.

Há cerca de três meses tomei a decisão de emigrar. O estado ruinoso do País e o facto crucial de não me dar lá muito jeito ficar longe da minha namorada, culminaram na minha ida para Taipei com a minha mais que tudo. De descêndencia Taiwanesa, assumo que sem ela, uma emigração para Taipei seria extremamente penosa, tendo em conta que para além de mim, há mais um, vá.. dois Portugueses em todo o País.

Xièxiè (obrigado), ni-hao, (olá), duì bu qǐ (obrigado) e mais umas pequenas asneiras de menor relevância constituem o meu património linguístico de Chinês. Felizmente ainda há uma significante parcela que fala Inglês.

Não posso sequer comparar a beleza da minha Lisboa ao existente em Taipei, mas tenho de mencionar os edíficios tremendamente interessantes existentes na arquitectura Taipense, principalmente na periferia, dignos de preencher as páginas de vários livros sobre Arquitectura.

Taipei é também a casa do segundo mais alto arranha-céus do mundo, o i-ling-i (101), com o mesmo número de andares.

Sendo a capital de um dos “Quatro Tigres Asiáticos”, denominação dada a Taiwam, Hong Kong, Singapura e Coreia do Sul, pelo seu vertiginoso crescimento económico e rápida industrialização entre os anos 60 e 90, Taipei é o vórtice da produção e desenvolvimento de tecnologias da informação por excelência. (A avó de 80 anos da minha namorada não passa sem o seu iPad, que domina com mestria… Asian level! )

Certamente haverá muito mais coisas para falar quando o meu tempo passado cá for mais extenso, pelo que por agora me despeço.

Ah, é verdade, disse-vos que há pasteis de nata em Taipei?

Obrigado Macau, por isso.

(E já agora, obrigado também ao Inglês que te roubou o conceito de pastel de nata, nos anos 80, e o difundiu pela Ásia.)


SOBRE JOÃO JARDIM

 

João Jardim nasceu a 22 de Setembro de 1982. Actualmente está a viver em Taipei onde se dedica a estabelecer a ponte entre vários negócios entre Portugal e Taiwan, trabalhando também como modelo.

Estudou Ciências da Comunicação, licenciatura essa que não terminou mas que lhe deixou marcas.

Interessa-se por psicologia, por behaviorismo, e pelos cozinhados da Mãe.

Culturalmente demonstra tendência para se envolver mais com correntes artísticas, e de pensamento, mais incomuns, apesar de bastante ecléctico no seu gosto.

É uma pessoa bastante directa, de personalidade vincada e bastante acentuada nas suas convicções, no entanto, não tem muito jeito para falar de si próprio.

P.S. Nota-se muito que fui eu que escrevi isto na terceira pessoa, tipo Mário Jardel?

 

João Jardim é agenciado pela Central Models



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