Rumia | Entrevista
Com raízes que atravessam o português e o espanhol, Rumia — nome artístico de Blanca Pereira — tem vindo a afirmar-se como uma voz singular na pop feita com cuidado e camadas. Depois do álbum de estreia em 2022, a artista regressou no passado dia 4 de Abril com “Old Enough To Save Myself”, disco que amplia o seu universo sonoro feito de electrónica íntima, instrumentação orgânica e melodias carregadas de memórias e contrastes. Entre os temas já revelados estão «Emergency», «Shift In The Air», uma versão inesperada de «Desfado» e a mais recente canção, «Role Model». De seguida, podem ler a entrevista realizada pela Rua de Baixo, onde se fala sobre amadurecimento, pertença, criação e outros lugares de onde se escreve e canta.
Rua de Baixo (RDB): Como tem evoluído a tua relação com a composição desde o teu primeiro disco até agora?
Rumia (R): Tem evoluído imenso. O primeiro álbum foi quase uma descoberta de mim, dos meus temas, do que queria dizer. Com este segundo, sabia exatamente para onde queria ir. Tinha uma direção clara, tanto lírica como musical, e isso permitiu-me compor com muito mais foco. Além disso, cresci bastante como produtora, o que me deu mais liberdade para explorar.
RDB: Quando começas a criar um álbum, costumas partir de um conceito geral ou deixas que as ideias se revelem ao longo do processo? Como foi com “Old Enough to Save Myself”?
R: Neste caso, tudo começou com um tema muito específico: os desafios de atravessar os vinte e poucos anos e o momento em que finalmente sentes que és crescida o suficiente para te salvares a ti própria. O conceito surgiu cedo, e moldou todo o disco.
RDB: Trabalhas num cruzamento entre electrónica e sonoridades mais acústicas — esse contraste é uma escolha estética, emocional ou ambas?
R: Definitivamente ambas. Adoro o som cru dos instrumentos acústicos, e acho que, quando combinados com elementos eletrónicos, criam uma profundidade emocional muito especial. Gosto dessa tensão entre o orgânico e o sintético.
RDB:Tens uma ligação muito forte à palavra e à escrita. O que te inspira mais: a observação do mundo ou experiências pessoais?
R: As experiências pessoais são sempre o ponto de partida. Mas sou muito observadora, e gosto de analisar as minhas vivências à luz do que vejo no mundo, perceber o que é só meu e o que é, na verdade, universal. Por isso, diria que é um equilíbrio entre os dois.
RDB: A tua música é frequentemente descrita como íntima e introspectiva. Sentes que o palco é um espaço de exposição ou de libertação?
R: O disco é o espaço da exposição. No palco, as músicas já passaram por mim e tornam-se libertação. É o momento em que posso respirá-las de outra forma.
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RDB: Que papel têm os visuais — videoclipes, fotografia, cenografia — no teu universo artístico?
R: Um papel enorme. Sou muito visual, e isso reflete-se em tudo o que faço. Às vezes isso joga contra mim, porque sou bastante exigente e quero que tudo faça sentido e esteja alinhado com a narrativa. Mas no fim, acho que ajuda a dar coerência e profundidade ao universo que estou a construir.
RDB: Numa altura em que tudo parece imediato, como é que lidas com a pressão para estar sempre presente nas redes e nas plataformas?
R: Custa-me bastante, para ser sincera. Tento dar o melhor de mim, mas também preciso de outros espaços criativos: gosto de escrever, de fazer teatro… Sinto que, se me foco só na música e nas redes, perco a ligação com outras partes de mim que também são essenciais.
RDB: O que gostarias que ficasse da tua música em quem te ouve pela primeira vez?
R: Gostava que sentissem que ouviram algo diferente. Que os surpreendesse. Que houvesse uma quebra de expectativa.
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