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Sónar Barcelona 2024

31 anos de Música, Criatividade e Tecnologia

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Texto por Tiago Melo e fotografia por Marco Carvalho.

O festival de música Sónar, realizado em Barcelona, nos passados dias 13, 14 e 15 de Junho, juntou 154.000 participantes, de acordo com a organização. Estes foram distribuídos entre Sonar by Day, Sonar by Night e Off Sonar. Ao contrário das edições anteriores, este último foi organizado pelo próprio Sonar, e realizado no Poble Espanhol.

Este número, iguala os 120.000 participantes da edição anterior, que celebrou a trigésima edição. Sendo que os números oficiais oficias do Off Sonar foram de 34.000 festivaleiros. No entanto, a sensação foi um festival com bastante menos afluência que em anos anteriores. Menos filas nos bares, maior facilidade nas entradas e saídas do evento, maior facilidade na deslocação de autocarro entre o espaço do Sonar by Day (Fira Montjuic) e o Sonar by Night (Fira Gran Via).

Mais de 250 atividades aconteceram durante o Sónar 2024, incluindo concertos, dj sets, masterclasses, palestras, painéis de discussão, debates abertos, instalações e vitrines de tecnologia criativa de mais de 90 países diferentes, dos cinco continentes. 70% dos participantes eram locals e os restantes 30% público internacional.

No Sónar by Day o grande destaque vai para o set de três horas de monsieur Laurent Garnier. O francês tinha falhado a edição anterior, por motivos de saúde. (Foi substituído pelos 2 Many Dj´s). Garnier assumiu publicamente a sua dívida para com o evento. O set foi simplesmente arrepiante!!! Parecia um maestro de uma orquestra a reger o seu público. Uma verdadeira lição de techno, uma viagem que passou por muitos momentos da sua longa carreira, sem nunca tocar na totalidade nenhuma das suas faixas míticas. De resto, o francês atuou na primeira edição do festiva. O Village estava a transbordar! Estavam todos um ano há espera disto.

No primeiro dia, no SonarHall, Sevdaliza ofereceu uma atuação potente, dando indicações que, é alguém que poderá em breve estar em palcos maiores. Misturou trip-hop com funk, muito R&B. Falou de feminismo e identidade.

Folamour fechou a primeira noite (do by day). Veio apresentar o seu novo show A/V. É, eventualmente, o artista da música eletrónica francesa com maior influência global da atualidade. Consideramos que não esteve à altura da exigência. Acabou por ser uma performance divertida, não mais do que isso.

Moktar, artista meio-australiano, meio egípcio, fechou o segundo dia, depois da atuação de Garnier. Ficou um bocado difícil tocar depois do francês. Conseguiu misturar música arábica com techno, para o que restava do público que estava, maioritariamente, de abalada para o Sonar by Night.

O último dia teve a atuação da sensação da eurodance horsegiirL. Esta DJ, residente em Berlim, consegue ironizar (ou não) as atuais tendências mainstream. Popularizou-se no tiktok e aparece sempre com uma cara de cavalo, literalmente. Até consegue ser bastante técnica na mesa de mistura. Misturou Prodigy com música da coletânea dos anos 90´s, 100% Dream, com outras malhas de novas tendências de happy hardcore. Divertido, principalmente para o público mais dedicado ao Instagram.

Destaque também para Laurel Halo no Complex+D, um salão de teatro. Apresentou “Atlas” com Leila Bordreuil. Um grande piano e um saxofone intimista. Ambient jazz acompanhado de sintetizadores. Contraste brutal com o SonarVillage, onde estava a musa do electroclash de Miss Kittin a fazer um back to back com David Vunk. O regresso da francesa Kittin, outrora figura de proa da música eletrónica foi interessante. O seu maior fã foi Vunk, puxando por ela todo o b2b.

Consideramos que no Sonar by Night não ocorreu uma grande atuação. Infelizmente não conseguimos chegar a tempo do concerto de AIR, na sua tournée dos 25 anos de “Moon Safari”, que passa pelo Ageas Cooljazz. Tocaram à mesma hora que Laurent Garnier. Ben Bohmer, de quem esperávamos muito, deslumbrou-se com SonarClub tão cheio que acabou por perder-se e esvaziou a sala. A dupla suíça Adriatique, estrelas globais do techno melódico, alternaram entre grandes faixas e temas de embalar.  Richie Hawtin, artista residente, apresentou o seu novo espetáculo DEX EFX X0X, assente em efeitos audiovisuais notáveis. Na segunda noite, Charlotte de Witte apresentou o seu novo show “Overdrive”. Com bpm´s mais acelerados do que nos habitou, a segunda maior exportação belga, depois dos fritos, oscilou entre o techno e o trance. Notável a massa de pessoas que esta jovem mobiliza. O músico Sam Shepherd aka Floating Points, que tocará em breve no Nós Alive, explorou os limites da música de dança e foi a melhor atuação da noite.

Na opinião da RDB, esta não foi das melhores edições do evento. Depois de terem colocado a “carne toda no assador” na trigésima edição, este ano o line up ficou aquém daquilo que é esperado, num dos festivais mais importantes da música eletrónica. Pode parecer estranha esta afirmação quando atuaram nomes como Laurent Garnier, Charlotte de Witte, Paul Kalkbrenner, mas… estamos a falar do Sónar…

O Sonar +D consolidou o formato estreado em 2023. Mais de 370 artistas, participação de estúdios de inovação digital, centros de investigação e universidade de vários cantos do mundo. Material mais uma vez à volta da Inteligência Artificial e o seu impacto nas artes, as tecnologias digitais e as identidades digitais.

O festival urbano, reafirmou o seu status de evento que mistura arte, ciência, tecnologia e, em particular, o seu papel de montra de talentos locais e internacionais, em todas as disciplinas criativas. Reforçou a sua reputação como uma celebração cultural única, embora este ano consideramos que não teve a capacidade de se reinventar, como tem feito ano após ano.

O Sónar já agendou a sua 32ª edição, que acontecerá nos dias 12, 13 e 14 de junho de 2024. A pré-venda do SonarPass e do SonarPass+D (padrão e VIP) já se encontra disponível.



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