The Sunflowers | Entrevista
Em 2014 ela viu uma atuação da banda dele e gostou do que viu. Entrou em contacto, conheceram-se, tocaram juntos e a química foi imediata, musicalmente e não só! Entrou para a banda como baixista mas rapidamente ficaram apenas os dois.
Hoje enquanto banda são uma dupla e fora dela um casal de namorados.
Ela é a Carolina Brandão (bateria) ele é o Carlos de Jesus (Guitarra e voz) e juntos são os The Sunflowers. Em pouco mais de ano e meio lançaram 2 EPs, 1 álbum (2016) aclamado pela crítica e tocaram (e tocam!) de norte a sul do país a espalhar energia estrada fora. Foi numa véspera de concerto que conversámos um pouco com eles, antes de se fazerem novamente à estrada.
Como é que a música entrou nas vossas vidas?
Carolina Brandão – Eu sempre estive ligada à música porque os meus irmãos são todos músicos, sempre tive uma família muito musical e os meus pais sempre gostaram de coleccionar instrumentos, mesmo que não tocassem, e sempre achei piada a isso portanto foi um bocado natural eu estar também ligada à música
Carlos de Jesus – Para mim foi quando o meu padrinho me deu uma cassete dos Creedence Clearwater Revival e ouvi aquilo e adorei e foi aí que decidi que gostava de aprender a tocar guitarra e que tinha de fazer alguma coisa que tivesse a ver com a música
Com que idade?
CJ – Nessa altura tinha para aí uns 13 mas só comecei a tocar guitarra lá para os 16
Foi o primeiro instrumento que aprendeste a tocar?
CJ – Foi, mas eu tenho uma coisa muito boa de pegar num instrumento qualquer 5 minutos e já consigo tocar qualquer coisa
E a Carolina, pelos vistos também tem essa facilidade: entrou como baixista, agora é baterista…
CB – Sim e também toco guitarra, mas agora já não toco tão bem como tocava, perdi os calos…
De onde surgiu o nome The Sunflowers?
CJ – Na altura simplesmente precisávamos de mudar de nome e Sunflowers foi mandado para a mesa e era melhor que os outros todos que tínhamos
CB – Não tem nenhum significado especial… apenas apareceu aquele nome e “ok pronto, pode ser” e assim ficou, até porque já tínhamos mudado de nome uma ou duas vezes, mesmo na página do facebook e como pegou e já não dava para mudar novamente, ficou!
Quando lançaram o vosso primeiro EP, quais eram as expectativas? Estavam à espera disto?
CB – Não, ninguém estava à espera disto quando estávamos a gravar em casa…
CJ – Acho que aquilo foi mais para termos alguma coisa para mostrar, porque na altura não tínhamos nada gravado e simplesmente decidimos gravar alguma coisa.
CB – Foi mais com o segundo EP que ficou mais sério, também porque começou a passar na rádio e tudo isso… o primeiro EP foi mais “vamos gravar e ver no que é que dá”.
E como é que está ser toda esta experiência?
CB – Eu estou a adorar! É uma coisa que dá muito trabalho, até porque não é só isto que fazemos, mas compensa… acho que compensa o esforço todo que fazemos… tudo o que aprendemos, conhecemos as cidades todas onde tocamos, conhecemos pessoas novas, temos experiências como o Rock in Rio por exemplo em que tínhamos um backstage incrível e tudo o que foi à volta daquilo foi incrível e não estava nada à espera… estou a adorar esta experiência.
CJ – Sim, podemos conhecer Portugal inteiro… podemos andar aí a passear…
Num momento estão a tocar na garagem, no outro estão a gravar o 1º álbum ou a tocar ao vivo para uma sala cheia… como é que se dá esse passo?
CB – Acho que o que é importante é investir muito nisto… isto é uma coisa que se é para ser a sério tem de ser a sério e é uma coisa que dá muito trabalho e tem de se andar por todo o lado e ter o máximo concertos possível, ter o máximo de contactos possível e é fazer música…
CJ – É fazer música e gostar daquilo que se faz e tentar não levar as coisas muito a sério.
CB – É o contrário do que eu disse…
CJ – É um bocado a contrariar o que ela disse…
CB – É aí que nos complementamos…
CJ – Exacto! Ela preocupa-se demasiado com as coisas, eu não me preocupo.
CB – Alguém tem de se preocupar.
CJ – Ela puxa-me quando é preciso e eu acalmo-a quando é preciso porque há alturas em que é preciso ter calma, porque as coisas não acontecem só porque nós queremos não é? Temos de trabalhar para isso.
Estão à porta dum bar onde vão tocar, alguém que passa por vocês e vos pede lume, como é que convencem essa pessoa a ir ver o vosso concerto?
CJ – Já nos aconteceu isso!
CB – Essa história é gira porque no inicio já nos aconteceu uma vez no Porto, enquanto estávamos à espera de começar a tocar e estamos no Porto, não é? Por isso aparece-nos sempre um guna do nada.
CJ – Um guna é um chunga.
CB – Então, estávamos lá à espera e “oh mano dá-me um cigarro” e ele disse “não tenho” e ele ficou todo furioso e começou a insultá-lo e quase lhe batia e de repente estávamos rodeados de gunas e roubaram-nos cigarros, roubaram-nos isqueiro e pronto, depois não tivemos público nenhum nesse concerto, eram só 3 pessoas… não sei como é que convencia uma pessoa a entrar, não sou boa vendedora…
CJ – Acho que a melhor maneira era um chokehold e obrigava-o a vir pra baixo… (risos) … não sei, acho que tentava avaliar as pessoas e se visse um gajo com ar de quem ia gostar de punk se calhar abordava-o primeiro.
CB – Se tivesse ar de punk dizíamos “tá bem então sou do punk”, se tivesse ar de outro tipo de cenas dizíamos “ahh isto é mais psicadélico ou não sei quê” e podíamos agradar a toda a gente, acho que somos uma mistura de vários estilos por isso podemos sempre encontrar um ponto de contacto com as pessoas.
O punk é o traço mais característico do vosso som?
CJ – É algo que neste momento nós gostamos de tocar, não vou dizer que os próximos álbuns vão ser punk, podem não ser.
Não há um compromisso com isso…
CJ – Exacto. É aquilo que estamos a gostar de tocar agora. No futuro até podemos fazer um álbum de electrónica, quem sabe.
Têm algum ídolo ou referencia?
CB – Os Beatles.
CJ – Acho que não, não tenho.
Qual o álbum que vos mudou a vida?
CJ – Isso sim, tenho 3: “Blonde on Blonde” do Bob Dylan, “Green River” dos Creedence Clearwater Revival e o “My War” dos Black Flag esse ultimo é que me passou para o punk.
CB – O meu primeiro álbum foi o “Let It Be” dos Beatles que nem é o meu preferido mas que foi o que me fez ficar interessada e ir procurar por mais música deles.
Que música andam a ouvir neste momento?
CJ – “Mary of Silence” dos Jeff: The Brotherhood… essa música é incrível.
CB – “Justice” dos Big Ups.
Há alguém com quem gostavam particularmente de partilhar palco?
CJ – Acho que eventualmente vamos acabar por partilhar palco com as bandas que gostamos de ouvir.
CB – Já partilhámos com os Thee Oh Sees, já foi grande sonho.
Qual foi o vosso concerto mais marcante?
CJ – D’Bandada 2016 no Ateneu do Porto, porque aquele concerto foi uma loucura, estava cheio, o pessoal conhecia as nossas músicas e tudo e foi aí que me apercebi que estávamos mesmo a chegar a muitas pessoas porque estavam todas as pessoas a cantar, pelo menos aquelas que conseguia ver do palco
CB – Pra mim foi esse ou o Barreiro Rocks 2016, foi no barco e foi grande loucura.
Por falar em fãs, já têm stalkers?
CJ – Não, mas temos uma história engraçada: tocámos dia 22 Dezembro no Maus Hábitos no Porto com os Parkinsons e um rapaz veio ter connosco e tinha na camisa atrás escrito Sunflowers e o desenho de um alien que ele fez sozinho… foi altamente, mas stalker acho que não temos.
Gostavam de ter?
CJ – Íamos acabar por não ter porque acho que íamos falar com ele e dizer “olha, acho que estás a abusar agora”.
Num namoro às vezes há discussões, já tocaram nessas circunstâncias?
CB e CJ – Já, tantas vezes (risos).
Como é que funciona?
CB – Chega ao palco e pronto.
CJ – Sim, acho que chega ao palco e…
CB – E esquece-se, não é?… e depois volta.
CJ – E depois saímos do palco e viramo-nos um para o outro “epá, grande concerto! Grande concerto!” e depois voltamos a estar chateados! (risos).
CJ – Às vezes quando estamos mais chateados, saímos do palco e dizemos “olha, enganaste-te ali bué vezes. Estás a abusar”. (risos)
No momento criativo de composição duma música e nas actuações ao vivo, têm algum compromisso com a sobriedade?
CJ – Não precisamos de estar sóbrios mas também não precisamos de estar embriagados, podemos estar no ponto certo (risos).
CJ – Acho que são processos diferentes fazer uma música sóbrio ou fazer uma música sob a influência…
CB – Depende da influência… podemos fazer músicas rápidas ou músicas mesmo lentas.
CJ – Quando estamos sobre a influência de álcool somos muito rápidos e não se percebe maior parte das coisas (faz sons estranhos de bêbado a falar depressa). Quando estamos sobre a influencia doutras coisas é muito mais lento e para nós passa a correr, nós depois ouvimos e está muito lento.
O que vos orgulha mais no vosso álbum?
CB – Gosto da capa, acho que está gira.
Portanto, não é a música? (risos)
CB – Pois, a musica também.
CJ – Acho que é o facto de termos conseguido fazer aquilo em 3 dias.
CB – Sim também acho. Tínhamos 3 dias pra gravar e pra misturar por isso foi uma cena mesmo rápida… Gosto da Zombie, acho que é das nossas melhores músicas, mas pronto também sou suspeita.
Gravaram em 3 dias por opção ou necessidade?
CB – O estúdio é caro.
Para o próximo a meta é gravar com mais calma ou tentar bater o record de 3 dias e encurtar ainda mais o tempo de gravação?
CB – A meta para o próximo é conseguirmos gravar em casa mas com boa qualidade.
CJ – Sim, acho que é isso, para podermos fazer as coisas com calma e como nós queremos, termos o controlo de tudo basicamente.
Quais as principais metas para 2017?
CJ – Acho que é chegar lá fora mais.
CB – Nós já estamos em França, vamos ter o nosso álbum reeditado em França e vamos lá apresentá-lo em princípio e de resto é aproveitar este álbum e tocar este álbum ao máximo e tentar usá-lo para criar uma base mais estável em Portugal, se calhar fazer alguns festivais de verão e depois tentar sair lá pra fora.
Há pressão para um novo álbum?
CB – Só de nós próprios, porque queremos lançar mais.
Não começaram a sentir aquela necessidade de tocar coisas novas?
CB – Já tocamos algumas coisas novas ao vivo, algumas que ainda não nos soam bem e precisam de mais trabalho. Tentamos ao máximo tocar todas as antigas e ir juntando umas boas novas mas tentar não mostrar demais.
Como é a vossa vida fora dos palcos?
CB – Eu estou a acabar a faculdade – Ciências Biomédicas.
CJ – Eu estou a trabalhar num café do irmão dela e tenho a sorte do conceito do café ser sobre vinil, por isso ele tem lá uma colecção de 3500 discos vinil e o meu trabalho é servir as pessoas no café e pôr discos a tocar, por isso estou sempre a ouvir música, a ouvir o que quero e nunca desligo do mundo musical.
Sentem que existe uma evolução significativa enquanto músicos desde que começaram até agora? Como é que isso se está a refletir nas novas músicas que estão a fazer?
CB – Mesmo só a parte técnica já influencia, porque já conseguimos fazer algumas coisas mais complexas que se calhar há uns tempos atrás não nos sentíamos tão à vontade para fazer. E essa evolução nota-se mesmo do segundo EP para o álbum, mais velocidade, mais capacidade de fazer coisas novas, é uma evolução constante.
CJ – E com a pica toda do álbum (estar a ter boa aceitação) estamos mais empenhados do que nunca em trabalhar nas novas músicas e também por isso estamos a fazer coisas mais complexas e mais trabalhadas.
E ao vivo, estão a pensar acrescentar instrumentos ou querem manter a vossa dinâmica a 2?
CJ – Por acaso sentimos que conseguimos os 2 tocar estas músicas, mas quem sabe um dia vamos mesmo ter de introduzir mais um elemento.
CB – Mas acho que por agora vamos manter só os dois e depois então quando houver mesmo necessidade… Mas por agora queremos manter esta química e esta independência, pois sabemos sempre o calendário um do outro, estamos sempre juntos, se nos convidarem para alguma coisa é só enfiar num carro e vamos, fazemos o que nos apetece, assim é mais fácil…
Em termos de hobbies, fora dos estudos, trabalhos e música, se tiverem um dia livre o que gostam de fazer?
CB – Eu gosto de ler.
CJ – Eu gosto de desenhar, gosto de fazer coisas… Mas acho que estou sempre um bocado ligado à música acima de tudo, nunca desligo estou sempre a pensar ou em ver instrumentos no OLX ou fazer uma brincadeira diferente com umas teclas…
CB – Eu gosto de desligar um pouco às vezes, ter um bocadinho de sossego e ele não me deixa!
CJ – Eu se pudesse estava sempre a fazer música, se pudesse e arranjasse um sítio para estar 24h a tocar e a criar e me pagassem para isso, fazia à vontade! Quero estudar música! Quero aprender sobre produção e técnicas de gravação, para poder estar sempre ligado áquilo que realmente gosto que é a música.
Vias-te a gravar também outras bandas que não apenas a tua?
CJ – Sim, eu já gravei os 2 EPs dos 800 Gondomar que são uma banda nossa amiga, e é uma coisa que me via a pagarem-me para fazer isso em vez de ser de graça para os amigos! (risos)
Vocês formaram-se em 2014 e sabemos que são adeptos do FC Porto. É o FC Porto não ganhar o campeonato que está a influenciar a vossa música, ou é o vosso sucesso que está a fazer com que o FC Porto não ganhe campeonatos?
(risos)
CJ – Acho que quando o Porto começa a perder eu fico mais irritado, e mais irritado a onda Punk entra mais ainda, cola bem com esse estado de alma!
Esperemos então que independentemente dos resultados do FCP os The Sunflowers continuem a ter o sucesso que merecem e que nunca percam a boa disposição e simpatia com que nos presentearam durante esta entrevista, a quinta (e não última) do dia para eles!
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