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Tirzah @ CCB (23.03.2024)

Num Pequeno Auditório muito bem composto, foi impossível ficar indiferente à presença de  Björk, ali mesmo na fila à nossa frente e duas cadeiras ao lado. De uma maneira ou de outra, o concerto iria ser único; foi por ambas.

Tirzah entra com “hey” tímido, enquanto deambulava pelo palco, parcamente iluminado, até se sentar num pequeno sofá ali colocado e com o som de água a correr. Um momento de de reserva e contemplação. A reserva manteve-se ao longo de toda a performance, mas a entrega nunca foi menos do que intensa. Depois… depois houve (muito!) “trip9love…???”, cujas canções ganharam densidade, face às que integram os registos anteriores, “Colourgrade”, de 2021 e “Devotion” de 2018.

Com Coby Sey, cantor, produtor e músico inglês, colaborador de longa data, em palco a ocupar-se de forma exímia dos beats e das programações, quase sempre na penumbra, iniciamos a viagem com «he made».

O registo é sempre grave e por vezes com contornos sísmicos, com as luzes a acompanharem as vibrações das canções, com «Promisses» e «F22» a evidenciarem a tendência na perfeição. Há foco total no álbum, mais recente, que trilha um percurso por um R&B vanguardista, minimal a espaços e sempre desafiador.

«u all the time» aborda uma relação possessiva e pouco saudável. As palavras são-nos entregues com delicadeza, mas assertivamente. Coby Sey garante que as canções de “trip9love…???” têm uma respiração e uma cadência diferente ao vivo. São entidades vivas e dinâmicas. Num concerto marcado deliberadamente pela pouca luz (o que impossibilitou a realização da reportagem fotográfica durante o tempo reservado para o efeito), Tirzah não hesita em recolher-se na escuridão. Os focos de luz são de tal forma localizados que bastava a Tirzah dar um passo atrás para o seu rosto se esconder parcialmente na penumbra.

«Sleeping» é a primeira visita a “Colourgrade”, álbum de 2021. Soa mais orgânico e para isso ajuda escutar as cordas de uma guitarra que na realidade não está presente. A segunda surge logo de seguida «Send Me», belíssima. Tirzah regista evolução a cada álbum.

«No Limit» enche novamente o Pequeno Auditório do CCB; são túneis de luz e sonoros impecavelmente calibrados. Em «today», o som das teclas mantém os nossos pés no chão, mas quando a batida irrompe somos impelidos para cima, juntamente com a canção; a necessidade de nos agarramos à cadeira está presente. É um concerto sensorial; o som trespassa-nos, faz-nos vibrar a um nível celular.

Em «2 D I C U V» as luzes da sala acendem-se, irrompendo a falta de luz em que estamos mergulhados por alguns momentos, enquanto a voz magnífica e por vezes sussurrada de Tirzah canta “I see you (I just feel so good) / I see you (I just feel so good)”. O piano que se faz ouvir em «6 Phrazes» confere à canção um carácter terreno. É um turbilhão sonoro e emocional que é disparado na nossa direção, e onde Tirzah se “esconde”, sempre que a oportunidade se apresenta. O som fala por si em muitas ocasiões.

É já no fim que a luz nos permite ver o companheiro de palco de Tirzah Coby Sei, e apreciar a sua arte. Uma hora intensa e plena de entrega. Mútua, atrevemo-nos a dizer.

O Belém Soundcheck tem pernas para maturar e andar.



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