“Três mulheres”, de Sylvia Plath
Deste viver em brancura
Sylvia Plath foi uma poetisa, romancista e, antes de mais, uma mulher deprimida. É no texto “A Redoma de Vidro” (escrito sob o pseudónimo de Victoria Lucas) que Sylvia relata os pormenores de uma vivência em luta constante contra a depressão. Depressão essa que a levou ao suicídio, com 30 anos, em Fevereiro de 1963. É autora do texto “Três Mulheres”, poema a três vozes, que é colocado em cena pela Voz Humana.
Raquel Dias, Margarida Cardeal e Ana Moreira são as actrizes que, numa coreografia de branco e de dor, encarnam três mulheres que são uma só: a mulher que vai parir, a mulher que abortou, a mulher que é mãe. Nem tudo é dor. Há euforia. Será a típica euforia de quem se entrega à depressão? Será a euforia do contentamento em conseguir aquilo que o destino teima em nos retirar, quando estamos tão perto?
Em palco, três mulheres [no fundo, uma só] rodopiam na vida que se veste de branco, de uma brancura própria de quem sente demais. Surgem questões, dúvidas, prazeres e dores, tudo isso sentido no âmago de um viver profundo. Compreendemos como a felicidade e a verdade são coisas que tantas vezes não coincidem. Como o ser quem somos é atropelado pela brancura vazia, na qual o vermelho contrasta e nos segreda palavras ao ouvido.
O texto é denso e exige das actrizes uma entrega física e emocional, que contrasta com o branco que inunda o palco e nos permite uma leitura a cores, a preto-e-branco, a duas cores; enfim, permite-nos pintar aqueles momentos das cores que invadirem a nossa alma na altura. A peça é una e tripartida ao mesmo tempo: uma só mulher habitada por outras e tantas mulheres que se constituem como um único rosto, no reflexo da água.
Quando eu sair daqui, serei um acontecimento notável.
Não vale a pena preocupar-me ou sequer ensaiar.
O que me está a acontecer, seguirá o seu curso naturalmente.
O faisão está de pé na montanha;
Exibe as suas penas castanhas.
Não posso deixar de sorrir ao pensar no que sei.
As folhas e as pétalas esperam-me. Estou pronta.
“Três Mulheres” estreou no Centro Cultural da Malaposta a 3 de Maio e pode ser visto até dia 20 de Maio. Trata-se do terceiro trabalho com carimbo Voz Humana, depois da peça que dá nome ao projecto, de Jean Cocteau, e de “Chorar e Secar”, que esteve em cena no Teatro Turim.
Margarida Cardeal, Raquel Dias e Ana Moreira marcam presença no 2º Festival Internacional de Teatro e Artes de Luanda, a ter lugar entre 17 e 31 de Maio, subindo ao palco do Elinga Teatro, no dia 24 de Maio. Por cá, aguardamos novos ecos da Voz Humana.
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