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Quentes e boas!

Os segredos de uma vida para além da castanha

Como bons detectives que ambicionamos ser e exploradores de segredos a cada canto e recanto, aproveitámos a época do Magusto e fomos para a rua conhecer de perto a vida de três dos mais antigos vendedores de castanhas da zona da Baixa lisboeta.

O passeio a pé é delicioso. Descendo do Príncipe Real para a Avenida da Liberdade, e em direcção aos Restauradores, encontrámos à porta do metro, em frente à Loja do Cidadão, o senhor Paulo Pereira, com o seu sócio e amigo de há muito, Fernando Gonçalves.

O senhor Fernando queimou a mão e o seu amigo Paulo estava ali para ajudá-lo: “este espírito de amizade e companheirismo já não existe, isto é uma vida de inveja”, desabafou.

Intitulam-se a si próprios como “castanheiros” ou “vendedores” e, como o senhor Paulo nos explicou, o segredo do negócio “é saber comprar, não é saber vender. Vender toda a gente sabe, o importante é saber negociar o preço da compra, para se ter uma margem maior.”

Desde cedo que o senhor Paulo, mais conhecido por Paulo do Chile, por ter vendido castanhas na Praça do Chile durante muito tempo, sabia o que queria fazer o resto da sua vida. Parecia ter nascido com a sua missão traçada e orientou-se com precisão no caminho que escolheu desde cedo: as vendas.

Inspirado pelas varinas que via, a diversão de Paulo era recortar o jornal em forma de peixes e vendê-los às clientes da sua tia modista. Desde muito cedo soube o que queria fazer. Começou a trabalhar aos sete anos como vendedor de hortaliças, conduzindo uma carroça puxada por um burro, e aos quinze anos já tinha seis carroças suas e cinco empregados a trabalhar para si. Partilhou que “tudo aquilo que sabe fazer, ninguém o ensinou, foi de ver.”

Hoje em dia durante o Inverno vende castanhas e no Verão vende peixe, frutas e gelados. Vende castanhas há quarenta anos, e confessou-nos que quando começa a época, em Setembro, é o primeiro a vender, e o último a acabar, em meados de Março.

Sempre tive curiosidade de saber porque é que as castanhas de supermercado são tão atrofiadas em relação às vendidas na rua. O senhor Paulo contou-nos o segredo: as melhores castanhas são as judias e vêm todas de Trás-os-Montes, mais especificamente de Carrazedo de Montenegro, a capital da castanha.

Para além de vendedor, o senhor Paulo aprendeu a cantar fado aos quinze anos com a fadista Margarida Pires, e teve um restaurante de fados, onde organizava jantares e eventos abençoados com os nossos cânticos lusos. Um homem sorridente e feliz com a vida que nos confessou que “faz o que gosta, e que só é feliz quem faz o que gosta.”

Mais à frente, em direcção ao Tejo, encontrámos o senhor Sardinha na Rua do Carmo. Vindo da Madeira, vende castanhas ali desde 1989. Partilhou connosco que o segredo para assar bem uma castanha “é como fazer meninos, leva o seu tempo, é preciso ter paciência.”

E é com este conselho que rematamos: é dia de assar umas castanhas com paciência e saborear uma água-pé entre os amigos. É dia de partilha, festa, e fazer perdurar uma tradição que há muito dura.

Senhor Paulo Pereira e Fernando Gonçalves
Restauradores
Todos os dias, das 09:30 da manhã até às 20:30.

Senhor Sardinha
Rua do Carmo
Todos os dias, das 13:00 às 21:00.



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