Voo 93

Mais uma interpretação do 9/11

Paul Greengrass inicia assim o 11 de Setembro como “tema hollywoodesco”. Apesar da angariação natural de  críticas, devido aos muitos familiares de vítimas do dia que mudou a história dos nossos dias, Greengrass assina o argumento e a realização do que é apontado por muitos dos familiares dos falecidos no Voo 93, como um conto de coragem e sacrifício.

Pretensiosamente factual, o filme segue em tempo real as acções do 11 de Setembro, sendo que a duração do filme é quase a duração dos acontecimentos fatídicos desse dia. Seguido esta pretensão, são usados apenas actores desconhecidos e até alguns dos próprios intervenientes nas tentativas de travar os atentados, tais como o major James Fox e Bem Sliney, o responsável pelo controlo aéreo que mandou interditar todos os voos nos Estados Unidos.

Assim, a câmara cambaleante e frenética, como a vida das personagens segue as acções, desde o primeiro segundo angustiante e stressante de ligação com os terroristas. Somos, assim, arrastados até momentos de stress e os vários close-ups que seguem as personagens parecem pretender naquele curto espaço de tempo em que contactamos com as vitimas dar-nos a entender um pouco das suas vidas, do que fazem, do que pensam…

Apesar das tentativas de manter a ligação com a realidade, baseando o argumento em gravações de chamadas telefónicas das vítimas e nas comunicações da cabine de controlo, o filme não me surpreende, não me choca, nem tão pouco me deixa sensibilizada, mais do que já era para com o 11 de Setembro. Isto porque, saímos do filme com a sensação de que nada mais nos foi dado do que o que já havia sido dado através de documentários, docu-dramas, telefilmes, etc.

Tanto que se fala na exploração comercial por parte do cinema da tragedia, quando ela já foi explorada até à exaustão por todas os meios de comunicação do planeta! Tenho apenas de realçar a forma que Paul Greengrass escolheu para nos transportar, que nos deixa zonzos e tensos desde o inicio, com uma banda sonora discreta, mas que adiciona algo muito subtil à tensão.

Algo que me chocou, tratando-se de um filme com uma projecção internacional enorme: o filme acaba onde deve acabar, não se recorrem a opiniões politicas, a mitologias, a tentativas desesperadas de transformar em heróis pessoas comuns, que reagiram consoante as informações que tinham e esperançados de alcançar um bom desfecho para si próprios.

Embora não o considere um filme brilhante, merece ser visto como documento histórico, como forma de recordar a incapacidade da Administração Bush em responder a uma catástrofe, apesar de não existir qualquer posição critica, é impossível não nos admirarmos com uma resposta militar que dependia da autoridade presidencial, que chegou apenas quando todos os aviões já tinham atingido os seus alvos, excepto, claro, o Voo 93, que não precisou da autorização presidencial, mas sim do verdadeiro espírito americano de defesa da pátria e da sua liberdade.



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