“A Poeira que Cai sobre a Terra e outras histórias de Jaime Ramos” de Francisco José Viegas

“A Poeira que Cai sobre a Terra e outras histórias de Jaime Ramos” de Francisco José Viegas

Histórias negras com sabor agridoce

Se tivermos em conta o género literário policial made in Portugal, pensamos prontamente em personagens como Gabriel Ponte (criado por Garcia Rosado), Mário França (nascido da imaginação de Miguel Miranda), Peter Maynard (herói de uma trilogia criada por Dennis McShade, aka, Denis Machado) e Jaime Ramos, inspetor da secção de Homicídios da Polícia Judiciária do Porto e, segundo Francisco José Viegas, seu criador, «um solitário, pessimista e ligeiramente conversador, mas que nunca se escandaliza com nada».

Uma visita à página do personagem revela mais pormenores sobre o agente Ramos, nado e criado na Invicta, inveterado leitor e apreciador de charutos, e que comemora em 2016 a entrada na sexta década de existência.

E nada melhor para celebrar a referida data que a edição de “A Poeira que Cai sobre a Terra e outras histórias de Jaime Ramos” (Porto Editora, 2016), uma coleção de cinco histórias independentes no enredo que que observam alguns lugares comuns na suas narrativas, nomeadamente a cidade do Porto, uma melancolia latente e fortes personagens femininas (algumas delas agradáveis surpresas, outras bem-vindas novidades) que nem mesmo a morte apaga o seu brilho e encanto.

“A Poeira que Cai sobre a Terra e outras histórias de Jaime Ramos” de Francisco José Viegas

Esta mão-cheia de histórias (e não contos pois o seu autor afirma não saber escreve-los pois não tem a noção do seu tamanho e estrutura) escritas entre o ano 2000 e 2014, reunidas num mesmo espaço pela primeira vez, embala-nos através de uma escrita sincopada e deveras inteligente que tanto eleva a esperança como afunda uma breve noção de futuro. Num palco que além de Ramos tem ainda lugar para a pandilha habitual do inspetor composta por Olívia, Isaltino, Corsário, Vasco e Dulce, embrenhamo-nos, sem demoras, em “Um Gosto pela Imperfeição”, o homónimo “A Poeira que Cai sobre a Terra”, “Lágrimas de Sydney”, “A Câmara Invisível” e “Uma Recordação de Dezembro”.

O registo familiar e aconchegante da escrita de Francisco José Viegas faz-nos, felizmente, iniciar mais uma viagem, entre passado, presente e futuro, a bordo da vida de Jaime Ramos que transporta “ora uma jovem em roda livre, entregue à noite do Porto, ou uma mãe condecorada com as divisas e medalhas da aristocracia inglesa que se deslumbra com o Douro. Uma mulher arrebatadora que é um romance rock’n’roll, uma estrada de pó, ou uma atleta olímpica cujo corpo não pede explicações”, e que servem de porto de abrigo ao leitor mais incauto e sedento daquilo a que podemos chamar, sem pudor, requintados momentos de um policial literário.



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