Alex Cortez
Entrevista ao dinamizador da caixinha da música do Cais do Sodré.
Entre 16 e 18 de Abril teve lugar no Music Box (Lisboa, Cais-do-Sodré) o Festival “Lisboa, Capital, República, Popular”. O projecto, enquadrado nas festividades ligadas à celebração do 35º aniversário do 25 de Abril, pretende unir num só palco músicos das gerações actuais e as de então. Desde sempre a música tem servido o homem no seu papel enquanto agente sócio-político activo, e desde sempre se cantou em prol da liberdade, da justiça e da reivindicação geral de direitos das pessoas. O que nestes três dias se fez nos palcos do Music Box foi uma fusão temporal de estéticas musicais diferentes mas com um mesmo fundo comum de intervenção social.
Curiosa, a RDB visitou o backstage do Music Box para saber mais sobre o percurso recente da casa, e os comos e os porquês de uma iniciativa artística deste tipo em Portugal.
RDB – Como está a ser este terceiro ano de vida do Musicbox, comparativamente aos primeiros? Como tem evoluído o público, a afluência à casa? Em termos de programação, o que tem sido diferente neste ano em relação a 2007/08?
Alex Cortez – Relativamente aos primeiros 2, este novo ano está a confirmar a consolidação do projecto. Se por um lado a crise se constituiu como um dado adquirido no planeamento das nossas acções, obrigando-nos a um maior rigor e objectividade nas acções que desenvolvemos, por outro o público do Musicbox está a crescer e a frequentar mais o espaço no seu período de funcionamento enquanto sala de espectáculos.
Em termos de programação, continua a apostar no ecletismo mas também na qualidade dos artistas que programa, quer a nível nacional, quer internacional.
Estão neste momento lançados alguns eventos de referência e de periodicidade anual [Jameson Urban Routes, Lisboa, Capital, República. Popular!] e estão na forja um ciclo e um festival que seguramente serão também eventos âncora na nossa programação anual.
Sound Tracks, a decorrer no final de Maio será um ciclo de música e cinema e o Festival Silêncio! festival internaional, que entre 18 e 27 de Junho trará à nossa cidade alguns dos nomes mais importantes da cena literária internacional. Este evento, dedicado à palavra e à poesia, conta com o apoio do Instituto Franco-Português e do Goethe Institut de Portugal e será, seguramente, de uma dimensão e qualidade inéditas em eventos desta tipologia no nosso país.
Saliento ainda alguns projectos de residência, como o Cais do Sodré Funk Connection, banda de Funk residente uma quinta-feira por mês, o Ping Pong Project, projecto de partilha de ficheiros musicais originais entre músicos via internet que dará origem a um disco e o Live on Tape, projecto mensal de gravação multipista de um grupo que esteja a dar os primeiros passos, com edição em formato digital.
Concluindo, continuamos com a nossa forte aposta na música nacional, nos valores emergentes, sempre com o objectivo de promover e desenvolver a qualidade da música deste pais.
Qual foi/é o impacto das recentes transformações na indústria musical a nível internacional, que trouxe obvias repercussões a nível nacional, para os clubes em Portugal? Em Lisboa? E no nosso caso para o Musicbox? E de que forma ou quais as estratégias do Musicbox para se adequar aos novos tempos?
Creio que os clubes ganharam muito com esta democratização das tecnologias e também com a facilidade digital de com um click ter informações sobre os projectos mais recentes e interessantes nesta área do Clubbing.
A estratégia do Musicbox passa essencialmente pela comunicação, tentando tirar o maior partido das Plataformas e Comunidades da Web.
Neste momento o Musicbox tem uma área de Marketing que explora exclusivamente todas estas ferramentas. Site, newsletter, facebook, myspace, blogspots etc…
Saliento também um dos factores mais importantes para a internacionalização do clube; os Low costs flights. É inegável que os voos de baixo custo tornaram bastante mais acessível a a vinda de artistas internacionais ao Musicbox.
Os festivais de vários dias em clubes são uma aposta mais segura ou mais arriscada do que o tradicional day-by-day e porquê?
Acho que não se pode ver a questão por esse prisma. O risco está nas apostas menos óbvias, ou seja podemos programar day by day, apostando apenas em nomes seguros, que proporcionem bons resultados de bilheteira e planear festivais de alto risco, transdisciplinares, com nomes menos conhecidos, que serão uma incógnita e dependem muito da forma como se comunicam, ou o inverso. Apostar em festivais só com nomes conhecidos e ter uma programação day by day mais elitista.
Concluindo, a programação tem de ter inúmeros factores em linha de conta para ser bem sucedida. Se o artista tem um cd novo, se tocou recentemente em Lisboa, se tem muitos fãs, se o próprio artista tem canais de comunicação com o seu público conseguindo autopromover-se com facilidade…
Para além dos naturais objectivos económicos da casa, de que forma os festivais e iniciativas deste tipo fazem do Musicbox uma entidade com um papel social activo para o público e para os músicos?
Enquanto programadores culturais e membros activos da sociedade e com objectivos muito específicos quanto a acções a desenvolver, o Musicbox é sem sombra de dúvida um projecto muito ambicioso. Se por um lado o Clubbing e a componente de discoteca do Clube são fundamentais financeiramente para a existência da Sala de Espectáculos, a aposta passa também por sair fora de portas e iniciar actividades complementares na cidade de Lisboa.
Gostamos de pensar que a nossa função primeira é a de agitar e dinamizar as actividades culturais de expressão urbana, apoiando e divulgando o melhor possível dentro das nossas possibilidades a enorme corrente de criatividade que existe espalhada por este país e não só…
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