Handsome Furs @ Musicbox
22 de Maio. A coelhinha saltitante e as botas da tropa.
Depois de uma semana a ouvir as músicas disponíveis no myspace, não estava muito entusiasmado para ir ver Handsome Furs. Ainda por cima estava-me sempre a esquecer do nome deles. Estilo: “- Epa sexta vou ver os… os… #$%@&! os… Fantastic Furs?” Não, não, não. Handsome Furs. São canadianos e vão acabar a tour europeia em Portugal. Vão começar a tour norte-americana uma semana depois e já têm, nada mais nada menos, que trinta e cinco datas confirmadas. O som à primeira não convida muito. Mas uma banda com trinta e cinco concertos confirmados tem de ter qualquer coisa. OK pronto, vou ao concerto.
A rua do Musicbox estava vazia, o que fazia prever um espectáculo vazio. Nada mais errado. O Musicbox estava bastante composto. Cheio, mas nada incomodativo. O DJ toca Blues, deixando toda a gente numa saborosa melancolia feliz. Sim, isso mesmo. Por paradoxal que soe, blues é isso. Melancolia feliz.
Coincidentemente, é isso que são os Handsome Furs ao vivo. Melancolicamente felizes. B-R-U-T-A-I-S. Eugene Hutz dos Gogol Bordelo tem um adesivo numa das suas guitarras que diz “Drum Machines Have No Soul”. Frase com a qual eu sou forçado a concordar, até prova em contrário. Ainda assim, esta noite no Musicbox, a caixa de ritmos ganhou vida própria e apoderou-se do corpo de Alexei Perry e em seguida do corpo de todos os presentes na sala. O line up é um composto acelerado de «Plague Park» e «Face Control». Pareciam tão sonsinhos no myspace e são tão absurdamente enérgicos ao vivo!
A loura platinada agita-se como se não houvesse amanhã. Bate furiosamente os pés descalços no chão e cerra os dentes com raiva na boca. As collants pretas de bolas brancas, os brincos de naperon e o cinto de gueisha voam pelo palco a cada batida mais forte. O seu teclado, que tem um adesivo colado a dizer “Man, Is This Whiskey?” tinha sido na noite anterior “baptizado” com uma bebida e estava lentamente a voltar a funcionar. Dan Boeckner basicamente cuspia-se todo do alto das suas botas da tropa, para infelicidade das primeiras filas, incluindo eu.
O feeling meu deus, o feeling. A melancolia. A felicidade. Tatuagens de cruzes e corações presos em arame farpado. Dan Boeckner e Alexei Perry são casados e estão visivelmente apaixonados. Isso é bonito. Isso contagia. Há uma vibração, há aqui qualquer coisa de intangível que me faz agora perceber a agenda destes dois. Há quem diga que o Bruce Springsteen é uma força da natureza. Há uma razão para isso. Posso nem gostar de tudo o que fez na sua carreira, mas por mais fascizóide que seja, ele transmite uma mensagem de esperança. E as pessoas bebem a esperança das colunas de som e absorvem a energia com o coração e os olhos. Chamem-me idiota mas hoje eu vi qualquer coisa de Bruce Springsteen aqui.
Handsome Furs são isto ao vivo. A esperança de que o amor pode subsistir e ajudar-nos a superar tempos mais difíceis. Talvez seja essa a razão da sua agenda, neste dias difíceis que passamos. Talvez seja também essa a razão que levou Bruce Springsteen a editar um álbum novo. Muito tem ele de cantar agora para alegrar os americanos… Talvez seja essa a razão para os Handsome Furs abrirem concertos de Arcade Fire. Outra banda que criou o seu primeiro álbum no meio da intensidade emocional da morte de familiares de vários membros. E toda a gente sabe o absurdo que é o primeiro álbum de Arcade Fire. Quem ainda acredita que o Canadá não tem nada para dar a nível musical, pode começar a questionar-se acerca do que cá anda a fazer no planeta terra.
O que está a dar são bandas com feeling, meus amigos. Chega de fashion victims com a mania que sabem mexer em sintetizadores. As pessoas já tem ouvido duro. Nisto estou a incluir-me a mim mesmo. Já não é qualquer coisa que entra à primeira!
Por isso: Bandas! tenham feeling! Ou feeling ou corda, anzol e isco. Para bom entendedor meia palavra basta.
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