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Lisboa, Capital, República, Popular…

Três dias de 25 de Abril em 2009 no Musicbox.

Abril é mês de revolução, reinvenção e reconstrução. É assim há 35 anos (pelo menos aqui para estas bandas), é assim para o Music Box na forma como encara o seu papel social de dinamização cultural e artística, e é assim que, neste caso, para os músicos que respondem à chamada popular. Mas, partamos do início, para que fique tudo claro e cristalino como a água. Tudo aconteceu num grande fim-de-semana de Abril…

“Lisboa capital, República Popular” foi como foram baptizados os três dias de festa dinamizados pelo clube do cais-do-sodré. O projecto, enquadrado nas festividades ligadas à celebração do 35º aniversário do 25 de Abril, pretendeu unir num só palco músicos das gerações actuais e as de então. Desde sempre, a música tem servido o homem no seu papel enquanto agente sócio-politico activo, e desde sempre se cantou em prol da liberdade, da justiça e da reivindicação geral de direitos das pessoas. O que nestes três dias se fez nos palcos do Music Box foi uma fusão temporal de estéticas musicais diferentes mas com um mesmo fundo comum de intervenção social.

Ao segundo dia (17 Abril) foi a vez de a experiência juntar no palco Janita Salomé, Sam The Kid e os Cool Hipnoise. A noite, não fosse ela uma sexta-feira, foi obviamente de grande festa. Com o à-vontade ganho na experiência acumulada ao longo de décadas de palco, Janita, acompanhada ao teclado por Ruben Alves, demonstrou que o som, a musicalidade e a poesia de ‘74 continuam vivas e enquadradas numa era digital em que a discussão sobre a liberdade e os direitos (não só, mas também, ligados à arte musical) continuam na ordem do dia. Seguiu-se-lhe Sam The Kid, acompanhado por Francisco Rebelo e João Gomes (respectivamente na guitarra e teclas), e um rapper-couple que soube estar à altura do líder, confirmou o seu estatuto de monstro de palco capaz de comandar uma banda com uma MPC, dinamizar um público sedento de ritmo e de contestação, e, ao mesmo tempo, improvisar rimas e batuques que teriam certamente feito abanar o grande cadeirão muito antes do tempo, se tivessem sido proferidas e cantadas com a mesma veemência há quatro décadas atrás.

Por fim, os grandes senhores da noite, os Cool Hipnoise, conquistaram e deixaram-se conquistar por um público que mostrou decididamente ter saudades da hipnose. Com os primeiros acordes de «República Caótica», estendidos numa longa introdução ao concerto, o Music Box vibrou e ribombou com a tensão sonora gerada, que explodiu ao arranque das vozes de Milton e Marga numa grande onda de dança e festa dentro do Music Box. O público amou. E amou tanto ao ponto de, no final da noite, após variados encores com e sem os outros músicos da noite, a banda ter de regressar ao palco para acalmar os ânimos de um público que aclamava os grandes senhores do Luso-Funk gritando em uníssono “Funk é mem’ bom, funk é mem’ bom”. Como só visto nos bons velhos tempos dos concertos em estádio.

Pela ocasião, a RDB visitou o backstage do Music Box para falar com as pessoas por trás de uma noite como estas. Tivemos a oportunidade de entrevistar Alex Cortez (Rádio Macau), mentor e programador do Music Box, sobre o percurso recente da casa, e os “comos” e os “porquês” de uma iniciativa artística deste tipo em Portugal. Tivemos ainda ocasião de partilhar meia hora de conversa com Tiago Santos (Cool Hipnoise e Space Boys). Falou-se um pouco de tudo, desde a nova era da indústria musical, o Funk em Portugal e o futuro dos Cool Hipnoise. Dois exclusivos para a os caríssimos e amadíssimos leitores da bisbilhoteira Rua de Baixo.



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