Alice

A primeira longa-metragem de Marco Martins estreia em Outubro com o apoio da rua de baixo.

Este Mês destacamos “Alice”, a primeira longa-metragem do realizador publicitário Marco Martins que nos apresenta um retrato escuro e sombrio sobre a busca desesperada de um pai pela filha de três anos desaparecida misteriosamente do infantário.

O filme começa com imagens granuladas, em verde-e-branco de Mário (um admirável Nuno Lopes) que mais parece um mero vagabundo a deambular pelas ruas chuvosas de Lisboa distribuindo flyers com a fotografia de Alice.

Sem nada saber da filha há cerca de 193 dias o pai, obcecado em encontrar a menina, instala câmaras de vídeo por toda a parte, chegando também a ter acesso às da segurança interna do aeroporto.

Sempre na mira da câmara, Nuno Lopes transmite-nos o desespero controlado e estruturado, dolorosamente contrastado com a histeria negra de uma Luísa  (a sua mulher) interpretada por Beatriz Batarda.

Na procura de Alice, Mário conhece outras personagens, também elas, de alguma forma, sozinhas, também elas isoladas na cidade onde vivem.

Aqui o nome da filha tem um significado muito especial, não é por mero acaso que está interligado com a queda ficcional de Alice na toca do coelho, e o filme acaba com uma citação de Lewis Carroll –, mas no entanto a ideia de “deslizar” por acidente para um universo paralelo parece aplicar-se mais ao próprio Mário do que à sua filha desaparecida.

De acordo com o realizador, o próprio filme surgiu da necessidade de explorar uma obsessão, um pai que perde a filha e não pode fazer nada senão construir pouco a pouco, a cada dia que passa, um mundo paralelo de possibilidades.

Bernardo Sassetti foi o compositor escolhido para participar na banda sonora do universo angustiante e doloroso de Mário. Embora escasseie, a música torna-se penetrante em todos os sentidos.O piano a solo vai-se transformando lentamente em acordes mais escuros à medida que o filme se desenrola.

Marco Martins nasceu em 1972. Em 1994 forma-se na na Escola Superior de Teatro e Cinema, tendo logo a seguir concluído a sua formação nos Estados Unidos da América. Fez um estágio na área de Produção com realizadores como Wim Wenders, Manoel de Oliveira, Bertrand Tavernier. Foi durante dois anos assistente de realização de João Canijo. Entre 1994 e 1998 escreve e realiza três curtas-metragens premiadas em vários festivais: “Mergulho no Ano Novo” (prémio de Melhor Curta Metragem Nacional no Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde); “Não Basta ser cruel” e “14 segundos e um tico – No Caminho para a Escola”(prémios Melhor Curta-Metragem e Melhor Realizador no VII Festival Ibérico de Cinema de Badajoz e Prémio Eixo Atlântico no Festival de Ourense).

Realiza igualmente vários filmes publicitários e, em 2002, funda a sua própria produtora de publicidade (Ministério dos Filmes), distinguida com vários prémios internacionais.

“Alice” concorreu no Festival de Cinema de Cannes de 2005 recebendo o prémio Regards Jeunes para Melhor Filme da Quinzena dos Realizadores.



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