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Cisne

Silêncio, imagens e partilha.

Apresentada dia 6 de Setembro na Secção Horizontes do Festival Internacional de Veneza, a sexta longa-metragem de Teresa Villaverde reveste-se de silêncios, imagens e partilha, e é dotada de uma aura feminina e maternal. Aborda temas como o amor, a família, rejeição e rendição, que coabitam nas mentes de quatro personagens abandonadas.

Vera (Beatriz Batarda) é uma cantora na casa dos 30, que vagueia por Lisboa, onde vai fechar um ciclo de concertos. Nas suas intermináveis noites de insónia, Pablo (Miguel Nunes) guia-a pela sua jovialidade e inocência. Abandonado pela mãe em criança, vê na cantora a figura maternal que resiste em visitar. Sam (Israel Pimenta) é o amor de Vera, um homem frio em quem não consegue tocar, com quem constrói uma relação sustentada por cartas. As histórias destas três personagens cruzam-se com a de Alce (Sérgio Fernandes), um menino de rua que comete um acto violento e desesperado. Ao dar-lhe a mão, a protagonista enfrenta os seus maiores receios, acabando por ser salva da sua impotência emocional.

Ao contrário dos seus filmes anteriores, “Cisne” termina com um tímido sorriso, sugestão de esperança. Villaverde predispôs-se a filmar, de novo, a vulnerabilidade das pessoas, tocando-nos com a sua compaixão pelas almas perdidas. Desta feita, dedica-se a contemplar uma actriz e uma mulher, Beatriz Batarda, que sustenta todo o filme, deixando as restantes personagens a gravitar na sua sombra. Batarda é enorme em todos os papéis que desempenha, e é certo que só uma actriz assim conseguiria fazer de “Cisne” um bom filme, mas será que querer focar uma história tão cheia numa única personagem não terá sido um erro? Ou será Batarda demasiado grande para um filme que não está à sua altura?

Suportado por um bom argumento, “Cisne” acaba por não ter pernas para a corrida a que se propõe. Falta, aqui, a Villaverde a coerência necessária para que as imagens falem por si só. Há momentos bem conseguidos, mas, a certa altura, estamos perante uma panóplia de longos planos fixos, com os quais a realizadora nos quer emocionar, através da força do que representam, mas que, com alguma sorte, são apenas bons. A fotografia é bem sucedida nas cenas das crianças de rua, para logo depois se enclausurar em expressões ou paisagens com pouco significado. Um filme feito de silêncios pode ser belo, mas há que ter alguma dose de genialidade para o realizar. Marco Martins provou que é possível com “Alice” e como desenhar um círculo perfeito, assim como João Canijo mostrou exactamente o contrário, em “Noite Escura”, filme esmagador, repleto de diálogos estonteantes. Curiosamente, Batarda entra em todos eles, magnificamente. “Cisne” fica a meio caminho de algo que não se sabe bem o que será. É um filme transitório. Esperemos para ver.



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