Clarabóia está na Barraca
“Clarabóia” está em cena, de Quinta a Sábado, na Barraca. Uma parceria do Teatro CineArte com a Fundação José Saramago, traz ao palco o manuscrito recusado em 1953. O espetáculo conta com interpretações de Rita Lello, Lucinda Loureiro, José Maria Pinto, Carolina Pereira, e muitos outros.
Se fosse hoje o editor, ao qual o escritor enviou o manuscrito de “Clarabóia”, teria seguramente dito algo a Saramago, que não recebendo nenhuma resposta, também não procurou mais por nenhuma. Foi em 1953 que o escritor, diz Pilar, mergulhou “num silêncio doloroso e indelével que durou décadas”.
Foram necessários 60 anos para que o livro fosse publicado. Agora levado ao palco da Barraca, encenado pela célebre Maria do Céu Guerra, uma história enigmática, em plena década de 50: São seis as histórias partilhadas neste prédio, em Lisboa: no rés-do-chão há a casa do sapateiro, que diz que quem o ouve falar pensará que é um Doutor, ao lado o casal já destroçado desde bem cedo, que aguenta pelo Henriquinho, o filho. No primeiro andar: duas casas, dois casais, nenhum amor. No segundo andar, a Amélia, personagem levada a cabo por Mª do Céu Guerra, a irmã e as sobrinhas. Ao lado uma família feliz, ao seu próprio jeito.
Uma peça que nasce numa instituição, que tem ainda salários em atraso, a construção de um espetáculo com dezanove personagens e, literalmente, um prédio de dois andares em palco, afirmou Maria do Céu Guerra “foi uma demência” mas muito prazerosa. Tanto que nem o Primeiro-ministro, António Costa, quis perder a noite de estreia.
Três horas, que passam como se vinte minutos fossem, numa peça acolhedora, descritiva, pormenorizada e cuidada, que nos faz sentir em casa, transporta-nos para os lugares e os tempos destes personagens, com vivências tão distintas e simultaneamente comuns, entre si.
Em palco retrata-se o fascismo, a ignorância, o medo, o amor e a falta dele, o desconhecimento, o preconceito, a humildade e a simplicidade do povo, na época. Uma história onde prevalece a sexualidade explícita do livro. Violento mas enternecedor, perverso mas reconfortante.
Fotografia de Luis Rocha – MEF
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