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Daemon X Machina

Um jogo competente, na hora errada...

Entre os passados meses de Agosto e Setembro, saíram, para a Nintendo Switch, vários títulos de grande destaque, muito antecipados pela comunidade de fãs da consola. Astral Chain, Legend of Zelda: Link’s Awakening, Dragon Quest XI S, por exemplo, foram alvo de grandes cotações e celebrados como títulos obrigatórios para a plataforma. No entanto, no meio destes lançamentos notáveis, Daemon X Machina também viu a luz do dia e a sua recepção (e presença nos média) foi menos vistosa… Um título sem o legado de Zelda ou Dragon Quest, nem o renome de uma empresa como a Platinum Games (responsáveis pelo Astral Chain), esteve, portanto, perante uma competição feroz pela nossa atenção (e dinheiro). Ou seja, para se distinguir dos outros títulos do mesmo período, a produtora MARVELOUS teve a missão de conceber  uma jogabilidade que fizesse frente à concorrência. Será que teve sucesso?

Para atenuar esta introdução negativa, gostaria de defender que Daemon X Machina não é, de todo, um mau jogo. Eu diria que consegue umas boas notas em alguns campos, notas máximas noutros poucos, mas, infelizmente, poderão não ser suficientes para esconder as suas falhas… Porém, comecemos então com o positivo. As boas notas são atribuídas à estética do jogo: O estilo gráfico é deveras bointo de se ver em acção e, apesar de algumas animações parecerem “amadoras”, o seu charme de anime japonesa combina perfeitamente com a narrativa. Esta última também é laudável pela maneira como é contada – segue-se um breve resumo: Um choque da Lua contra a superfície da Terra libertou partículas que, para além de corromperem a tecnologia terrestre, criou várias zonas inóspitas para os seres humanos. No entanto, alguns elementos da espécie adaptaram-se ao novo bioma e tornaram-se mercenários. Muitos, como o nosso protagonista, optaram por pilotar os robôs (ou melhor, “mechs”) que dão capa a este título – os Arsenals. Os mercenários agruparam-se e disponibilizaram os seus serviços às 3 organizações tecno-militares que lutam pelo controlo de tecnologia alienígena e pelo território desocupado pelo indicente lunar. Tanto os mercenários quanto estes “consortiums” militares têm os seus misteriosos motivos, e o jogo faz um bom trabalho em suscitar a nossa curiosidade, pois nunca ouvimos tudo sobre eles. Sabemos que há vontades individuais e que, mais cedo ou mais tarde, estas chocam – é deveras cativante ver o desenrolar deste conflicto até finalmente ser revelado o plano do antagonista e o grande ​twist final. No entanto, é entre estes dois pontos que os aspectos positivos da narrativa começam a dar lugar a negativos – clarificarei mais tarde…

O âmago da jogabilidade está repartida em duas fases: a de preparação, onde escolhemos de várias armas, armaduras e componentes do nosso Arsenal para experimentar e aprimorar o nosso estilo de jogo preferido; e a fase da “saída de campo” – ou seja, ir lá para fora para mostrar aos inimigos os resultados de uma hora e meia a armar o nosso robô até aos dentes. Pode parecer limitado, mas, depois de um par de horas, o nosso hangar fica cheio de opções para todo o tipo de abordagens bélicas. Quando dei por isso, percebi que estava livre de escolher entre milhentas outras configurações viáveis para o combate, o que constituiu um dos pontos altos da minha experiência. Instala-se uma sensação agradável de agência ao construirmos o nosso “mech” pessoal e ao superarmos cada desafio que o jogo nos atira. Apesar das missões serem algo repetitivas, têm aquela qualidade viciante dos títulos musou , na medida em que o próprio acto de devastar as unidades adversárias é gratificante, especialmente quando temos tantas armas para experimentar: lança-rockets, espingardas automáticas, granadas tóxicas, espadas gigantescas. E entre os objectivos secundários secretos, os vários tipos de missões diferentes (com destaque aos bosses monstruosos e dinâmicos) e os ataques especiais que vamos desbloquando ao evoluir a nossa personagem, a jogabilidade chega a momentos de pura adrenalina que quase que premiam este jogo de uma excelente cotação.


A jóia da coroa (..) é a jogabilidade que, entre um leque infindável de estilos para experimentar e um combate deliciosamente caótico, acelera as 15 a 20 horas necessárias para completar o modo de um-jogador

…Porém, faltou o “quase”. Tanto a jogabilidade como a narrativa evoluem de uma maneira semelhante – elevam-nos as expectativas até ao sétimo céu mas o retorno emocional não chega lá… Na narrativa isto traduz-se em capítulos finais que arrastam a história, procurando resolver tramas dramáticos que nunca lá estiveram antes. O problema em entrar num conflicto a meio (in medias res) é que, se não fica tudo exposto, então a morte “deste” ou “daquele” não comporta muito peso emocional, por muito que acreditemos que o “outro” fique triste ou o “outrém” inspirado. Em suma, no que toca à narrativa, esta mantém-se empolgante até ao terceiro acto, no qual desacelera o passo quase ao ponto de “enfadonho” – o twist final pode, ou não, resgatar a nossa experiência, dependendo da ótica do espectador (pessoalmente, perdoou os piores momentos mas não fez muito mais para além disso). Por outro lado, a jogabilidade, não “piora” ao chegar aos momentos finais, mas tende a estagnar; Um detalhe que não mencionei antes é que lutar contra alguns Arsenals inimigos revela um problema técnico no jogo – o facto de alguns ficarem “parados” a levar com o fogo. Isto não ocorre frequentemente, mas é nos últimos capítulos onde este erro se concentra. Não obstante, a jogablidade é o aspecto do jogo que eu acho o mais bem conseguido.

No que toca à componente online, Daemon X Machina permite completar missões em cooperativo, seja contra Arsenals inimigos ou contra os bosses do modo história (com algumas diferenças para um desafio adequado) – uma boa maneira de extender a experência do jogo e dar-nos mais razões para desenvolver e pilotar o nosso Arsenal no “pós-jogo”.  No entanto, não tendo amigos (que sejam donos de Daemon X Machina) com os quais pudesse desfrutar deste modo, faltou-me motivação para continuar a jogar com jogadores aleatórios – se isto não vos diminui o entusiasmo, então tenham em atenção que o jogo oferece um “team chat” textual com algumas opções de comunicação. Para além disso, as missões cooperativas online desbloqueiam itens epeciais necessários para forjar as armas mais potentes do jogo. Ainda assim, confesso que preferia uma opção para jogar com mais jogadores na mesma sala, pois o tipo divertimento é sempre diferente.

Resumindo, Daemon X Machina é um jogo competente. Tem uma história (ou deva dizer “maneira de a contar”?) suficientemente boa para nos agarrar até ao fim, se estivermos à vontade com clichés de anime, e uma notável qualidade estética (mesmo com a ocasional queda de qualidade nos momentos mais intensos). A jóia da coroa, no entanto, é a jogabilidade que, entre um leque infindável de estilos para experimentar e um combate deliciosamente caótico, acelera as 15 a 20 horas necessárias para completar o modo de um-jogador. Porém, estas qualidades vêm agarradas a um período de estagnação, tanto no aspecto narrativo quanto mecânico, que revela uma certa falta de qualidade perante a concorrência nesta época festiva… No entanto, é uma compra fácil para quem é fã de anime e de jogos mech, como a saga Armored Core, ou títulos musou, como o Hyrule Warriors. Se o leitor se entender fã de ambos (ou, pelo menos, recetivo) e não se importar com uma jogabilidade repetitiva, então os negativos de Daemon X Machina serão meros “soluços”; Mas, para quem espera uma narrativa melhor desenvolvida e mais polimento na jogabilidade, então não posso garantir uma satisfação plena – se estavam de olho no Dragon Quest XI S ou no Link’s Awakening então recomendo que a compra de Daemon X Machina espere por um desconto.

Número da Rua: 7.5/10



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