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Blossom Tales: The Sleeping King | Análise

Gráficos retro com jogabilidade fluída e moderna.

Todos as semanas, os indies vão saíndo e os donos da consola híbrida fazem pelo menos uma pesquisa em branco pela eShop para gastar os trocos acumulados. É fácil imaginar estes jogos como aqueles aliens de três olhos do Toy Story, que aguardam esperançosamente “a garra” para os levar para um lugar melhor: o meu homescreen. Na última semana a garra foi apanhar o Blossom Tales: The Sleeping King, que se destacou pela sua aura familiar dos jogos bidimensionais da Legend of Zelda. É o segundo jogo da produtora Castle Pixel cujo nome diz tudo, já que ambos os seus jogos se apresentam com pixéis de cores vibrantes por toda a parte que combinam perfeitamente com o movimento dinâmico das sprites no ecrã, semelhantes a títulos como Shovel Knight. Isto constitui a qualidade mais pronunciada do jogo em análise: os gráficos são retro mas a jogabilidade é fluída e moderna. Vejamos se este brilho se reflete no âmago da experiência.

É óbvio a partir do trailer que os developers fizeram da nossa nostalgia alvo e esticaram bem o arco para uma flechada certeira – o jogo não esconde as suas óbvias influências e parece estar sempre a piscar o olho ao Legend of Zelda: A Link To The Past. Mas Blossom Tales: The Sleeping King esforça-se por se distinguir, pelo menos tanto quanto o narrador se esforça em narrar. Trata-se de um avô dorminhoco cujos netos acordam para lhes contar uma história de embalar. Este opta primeiro por declamar a Lenda de Zelda como nós a conhecemos, mas é interrompido pelos fedelhos que, fadigados com a ideia, exigem uma outra lenda qualquer. O avô tenta improvisar, e nota-se que puxa pela imaginação ao substituir uns nomes e substantivos da narrativa original. Em vez de Hyrule, estamos em Blossom, reinado do Rei Orchid, cujo irmão, o esquivo Crocus, planeia usurpar o trono – pelo menos segundo o que nos contam os relatos dos pais de Lily, a protagonista que partilha o nome com a neta do narrador. O jogo começa com o acordar sobressaltado da heroína que urge em direcção ao castelo de D. Orchid para um evento especial. Pouco depois, Crocus enfeitiça o seu irmão, condenando-o a um sono eterno. Cabe a Lily encontrar os 3 ingredientes especiais necessários para acordar o Rei e salvar o reino. Está claro que por mais que o avô tente alterar as notas da história original, o compasso rítmico mantém-se intacto, mesmo com as raras interjeições dos netos na narrativa.

No entanto, o jogo propõe uma alteração subtil à fórmula, nomeadamente no clássico sistema de combate. Ao descer à cave do castelo, deparamo-nos com as primeiras criaturas hostis e descobrimos que Lily não se limita a golpear uma vez com a espada, como o Link de cabelo rosa. Ela consegue formar um combo de 3 investidas, saltar em frente enquanto ataca e retém o clássico rodopio cortante. A utilidade do escudo é reduzida, pois os inimigos, embora fracos, vêm em grandes grupos, o que encoraja uma abordagem ofensiva para devastar as vagas desprotegidas de ratos, morcegos e bandidos. Subverte-se a paciência necessária num combate contra os adversários escudados de Link, a favor de movimentos rápidos e combos bem aplicados. Os restantes itens que vamos acumulando são mais armas do que utensílios, exceptuando as intermináveis peças de coração que aumentam a vida sempre que 4 são recolhidas. Estas, acompanhadas de um equivalente para a curta barra de energia, complementam a maneira como Blossom Tales se foca no combate. Porém, quem sofre mais com a chuva de power-ups é a curva de dificuldade. Esta vai mantendo um nível confortável durante o jogo, sem abdicar da acessibilidade nem fomentar atentados contra os comandos. No entanto, esta suaviza nos momentos finais do jogo, especialmente depois de obter um amuleto que invoca aliados especiais. Estes conseguem penetrar qualquer defesa e removem a ameaça dos últimos inimigos, dando às vitórias um sabor insosso.

Outro defeito encontra-se na estrutura, cuja repetição se vai tornando dolorosamente óbvia. O ciclo repete-se: começamos a viagem no castelo; percorremos uma estrada repleta de monstros; descansamos numa vila onde habitam uns poucos NPCs com recados a pedir; atravessamos mais um trilho inóspito onde, no final, está a masmorra, que por sua vez, nos manda de volta ao castelo quando o boss é derrotado. Pelo menos estas dungeons oferecem um bom desafio – as salas e corredores transmitem uma agradável sensação de tamanho e profundidade, repletos de inimigos ao virar da esquina, armadilhas sorrateiras e obstáculos naturais intervalados por puzzles competentes para quebrar a tensão.

Concluindo, Blossom Tales: The Sleeping King procura ser um concentrado dos elementos lendários dos jogos Zelda de modo a caber numa sessão de aproximadamente 7 horas. Infelizmente, esquece-se de alguns essenciais. É progressivamente previsível e pouco faz para destilar essa sensação. Porém, há positivos: todas as sprites apresentam uma cor viva e hipnotizante e ver os cenários que o reino de Blossom tem para oferecer torna-se numa motivação para ouvir a história do avô até ao fim. Para além disso, a fluidez do movimento de Lily e o passo acelerado das batalhas, tanto contra bosses ou lacaios, são qualidades que distinguem o jogo para além da música e estética nostálgicas. Se procuram uma breve réplica da experiência de Legend of Zelda: Link To The Past, este jogo satisfaz na apresentação, apimenta o combate, mas fraqueja no resto.



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