Demo
A mais recente proposta do Teatro Praga.
Em cena no São Luiz Teatro Municipal até 02 de Agosto, “Demo” nasceu a propósito da Índia; ou mais concretamente, de um desafio lançado pelo São Luiz ao Teatro de Praga para pensar a Índia. Porém, em “Demo”, a Índia perde-se no pensamento, servindo apenas como nota de rodapé para referências diversas. “Demo” é um musical colorido e propositadamente agressivo.
Na Roma Antiga, era prática comum atirar os criminosos ás feras, como pena capital. Esta forma de punição, Damnatio ad bestias, rapidamente se popularizou como entretenimento entre os romanos.
Para Demo, os Teatro de Praga, transformaram o fosso de orquestra do São Luiz, num lago infestado de crocodilos e… “Água com eles!”. Eles. Todos. Todos os vícios humanos explorados e exagerados em personagens, que se encontram no palco, mas não se cruzam na narrativa, simplesmente porque esta não existe. As personagens funcionam como índices de possíveis histórias que surgem apenas no juízo de espectador. Um juízo necessariamente moral, num espectáculo que, a certa altura, toma o formato de um julgamento.
No centro do palco um nome: Ilse Koch, a militante do partido nazi, acusada de torturar prisioneiros nos campos de concentração e de guardar restos mortais como souvenirs, a bruxa de Buchenwald; um símbolo de tudo o que de pior se pode dizer acerca da humanidade. Ilse é, contudo, uma manobra de distracção. Na verdade, estamos todos no banco dos réus. Todo o cenário do espectáculo é composto por superfícies espelhadas: o chão é um espelho, há balões espelhados, os instrumentos de Kevin Blechdom reluzem. Todos os elementos “apontam” para o exterior, para o espectador.
Os diálogos sucedem-se à velocidade da luz e as palavras esquecem-se rapidamente na sua sucessão. O painel Led do teatro traduz. Traduz o inglês e o alemão. Traduz como se a tradução ajudasse a compreender. A câmara projecta. Projecta como se a projecção ajudasse a ver.
No lado esquerdo do palco uma plataforma onde se leêm as palavras Master Minders. Sobre ela, tal qual coro em tragédia grega, Kevin Blechdom, Christopher Fleeger e Andres Lõo interpretam irrepreensivelmente a música que empresta unidade ao espectáculo e embrulha a “tirania” num ambiente festivo.
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