“Fukushima – Crónica de um Desastre” | Michäel Ferrier
A velocidade do esquecimento é impressionante
Coube à Antígona trazer-nos um relato/reflexão sobre o maior desastre ecológico de 2011, quiçá o mais preocupante de toda a história da humanidade. “Fukushima – Crónica de Um Desastre” é, antes de uma troca de impressões entre o oriente e o ocidente, um alerta global.
Michäel Ferrier, natural de Estrasburgo, reside em Tóquio há mais de 20 anos, com um extenso currículo académico. É este “homem de letras” que decide documentar aquilo que sentiu, viu e o que lhe dizem sobre um Japão devastado. Caso ainda reste alguém que desconheça o sucedido, a sucessão de sismos que abalou o país gera até discórdia no valor máximo a apontar na escala de Richter.
Apesar dos avisos, apenas segundos antes, o caos assolou sem mercê o território japonês num verdadeiro cenário de guerra, gerando um frenesim mediático que agudizou uma paranóia geral. Consequentemente, a tragédia viria a culminar com o incidente Fukushima e a eventual contaminação radioactiva do país (e tudo o que dele pudesse sair).
De forma consciente, a obra inicia-se com a veia de guionista de filmes-catástrofe que Ferrier nunca quis ser. Porém, é no segmento “road trip”, em que o autor viaja com a companheira pelas zonas mais afectadas do país, que “Fukushima – Crónica de Um Desastre” brilha: as passagens descritivas demonstram grande domínio da escrita. Aliado a isto, a recolha de vários depoimentos de desalojados, investigadores e até gente que trabalha na indústria do sexo (e lucra com o êxtase fim-dos-tempos), relatam, de forma detalhada, as inúmeras variantes que moldam um desenrolar de acontecimentos impossíveis de compreender plenamente.
Perto de rematar a obra, Ferrier detém-se sobre o conceito de “nada ver, nada ouvir, nada dizer”: uma das ideias mais aterradoras presentes no texto. Embora revestida por circunstâncias distintas, aprendeu-se tão pouco com o século XX, parecendo ser Hiroxima e Nagasáqui um assunto tabu. A velocidade do esquecimento é impressionante. O fácil manipular das massas, também.
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