#AC_HOMEM EM CATARSE_8

Homem em Catarse @ Musicbox (19.10.2024)

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Texto por Miguel Barba e fotografia por Andreia Carvalho.

É uma sala ainda um pouco despida a que vai aguardando por Homem em Catarse, o nome de palco, assumido por Afonso Dorido, que se prepara para apresentar na capital as novas canções que dão forma a “catarse natural”. No centro do palco, numa simples cadeira repousa uma guitarra eléctrica, contrastando com o caos organizado da parafernália de pedais mesmo à sua frente, e que sustentarão e alimentarão a guitarra ao longo do concerto. Ladeando a cadeira há duas esguias colunas de luz, que, conferem sobriedade ao palco. Um pouco mais à esquerda, quase que despercebida, repousa um cavaquinho. No sistema de som da sala vai rodando o álbum do alentejano José Rego, “Cidade dos Lobos” onde a viola pontifica. Não há acasos aqui.

A catarse pode ser encarada num sentido filosófico, como uma purificação após um espectáculo, mas também encerra em si um significado de cariz psicanalítico, como uma forma de trazer à consciência recordações recalcadas ou a exalação de emoções de algo reprimido. E convenhamos que todas elas podem ser válidas aqui.

A guitarra eléctrica pode soar a espaços como uma guitarra portuguesa. As honras de abertura cabem à primeira faixa de “catarse natural”, «Paredes em Flor». «Fado sem Exceção» tem Afonso a fazer as vezes de Luca Argel, numa canção que tem a capacidade de nos conseguir fazer oscilar entre a resignação e a esperança.

«Gueto da Paz» espalha o manto da utopia em que precisamos de acreditar, sobre a plateia do Musicbox. As canções são novas, mas há uma vontade de experimentar, arriscar e sair da sua zona de conforto, quer ao levantar-se para vir à beira do palco, quer pela forma como puxa pelas cordas da guitarra.

«Hotel Saturnia» leva-nos a “Sem Palavras”, com os pedais a de loop a entrarem em cena, numa execução intensa e fantástica.

«Amélia» é um tema especial e emotivo para Afonso Dorido. Com o loop de guitarra registado, agarra no teclado de MIDI que incute o beat de cadência suave, também apanhado em loop, para retomar novamente a guitarra. É um processo. São camadas de intensidade, num crescendo… Catartico. Para todos arriscamo-nos a dizer. «Hipoteca» é canção de intervenção, que pode ser resumida na frase “um direito não é um favor”, como faz questão de frisar. E nem um breve problema com uma pedaleira, que força a uma falsa partida, nos manda abaixo. Encaixa perfeitamente. Não turistamos, mas protestamos juntos.

«Padrão dos Encobrimentos» é “food for thought”. Sobre não nos esquivarmos ao passado. O que aconteceu está lá atrás, verdade. Mas pode e deve ser reavaliado à luz dos nossos tempos. Aprender com os erros para garantir que nunca os repetiremos, é crescer e tornarmo-nos melhores. «O Tempo Vem Atrás de Nós» que ia começar a ser gravado no dia em que ocorreu o encerramento temporário do CC Stop, no Porto, a 18 de Julho de 2023. A bateria está gravada, e é essencial, pela forma como confere dimensão à canção, a par da guitarra e das palavras de Afonso. 3 dimensões, rematadas por aquela que não controlamos, o tempo.

«Danças Marcianas», tem direito à história do que aconteceu depois de um concerto numa igreja de Cem Soldos, durante o Bons Sons de 2018. Podem investigar se quiserem porque há pequenez que já teve o seu tempo de antena e que não merece ser reproduzida. A execução no palco do Musicbox, foi fantástica. Intensa, com os pedais de loop a trabalharem em pleno e construírem a canção, camada após camada, revezando-se sucessivamente. Em 2018 a catarse já acontecia, ainda que noutros moldes.

«Guarda» de “Viagem Interior”, que nos leva por 17 locais do interior, marca o quase final do concerto. Quase final porque, Homem em Catarse ainda volta para, apenas com o cavaquinho, e sem qualquer amplificação e na plateia, tocar e cantar (todos juntos) os «Vampiros» do Zeca.



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