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Memória de Peixe | “III” 

“III” marca o regresso dos Memória de Peixe às edições, agora num formato de trio com Miguel Nicolau a ocupar-se das guitarras, Filipe Louro com o baixo, e Pedro Melo Alves na bateria; e todos a contribuírem nos elementos eletrónicos e nas vozes. Menos impulsivos, porque a idade pode (e deve) ser uma boa conselheira. Mais contemplativos e meditativos, com cada canção a exigir atenção, e a ter tempo para respirar, para existir.

«Good Morning» é uma saudação, por parte de quem está de regresso. Um regresso que tem o condão de soar familiar e ao mesmo tempo trazer novos elementos.

«Peacemaker» entra com os instrumentos a procurarem cada um seu lugar e faz sentido. Depois o equilíbrio é encontrado, mas pelo meio os teclados procuram pontualmente contrariar essa procura, porque tão ou mais difícil que encontrar a paz, é mantê-la.

Em «3:13» o jazz é sempre solto e pulsante, mas com o toque próprio dos Memória de Peixe. Repleto de detalhes a cada segundo, seja na bateria, ou nos rendilhados que os teclados incutem, tudo devidamente rematado pelo saxofone hipnótico de José Soares.

«Under the Sea» traz introspeção e contemplação, ou não seja o mar, um local onde nos podemos perder sós ou a dois. Em «Close Encounters» enquanto os dedos de Miguel Nicolau deslizam pelas cordas da guitarra, um coro num registo quase em falsete marca um interlúdio que bem pode ser aproveitado para um slow, a dois, com as maçãs dos rostos bem encaixadas, os corpos bem juntos e os olhos fechados. Um doce interlúdio.

«Coincidentia» é (mais) um exemplo perfeito da mestria com que o trio combina os seus instrumentos de uma forma que tem tanto de natural como intrínseca.

«Not Tonight» é jazzy e lança-nos pelo meio de uma névoa que se estende até ao registo vocal, que surge propositadamente distorcido. Depois «The Sun Inside Your Eyes» atinge-nos como ondas de luz, mas fá-lo com suavidade e destreza fantásticas. Um contraponto? Não o dissemos, ou relembrámos, caso já sejam conhecedores do trabalho dos Memória de Peixe, mas a palavra ou mais simplesmente a voz não assume o primeiro plano nestas composições, que falam de outras formas, mas ela está presente e por vezes, como é o caso, funciona como um lembrete de que estão ali pessoas, por detrás destes sons que nos agarram.

As horas passam e é fácil imaginar «Golden Fiasco» com o sol a pôr-se, bem lá ao longe na linha do horizonte, sem uma única nuvem no horizonte. O tempo parece que desacelera e sentimos que algo se perde, se esvanece. Será apenas a luz do dia? Procuramos conforto em saber que amanhã está de volta e temos direito a uma nova tentativa.

Podia ser parte da banda sonora de um filme. Os seus arranjos delicados transportam-nos para o cinema de outros tempos. É fácil imaginarmo-nos a andar por uma casa, majestosa, mas antiga, segurando um candeeiro a petróleo, vestidos com um longo pijama e um barrete, enquanto desejamos boa noite, às figuras que nos fitam a partir dos muitos quadros nas paredes, até chegarmos ao nosso quarto. Aí pousamos o candeeiro na mesa de cabeceira, deitamo-nos e, mesmo antes de nos taparmos, apagamos a chama. «Good Night».

Bem-vindos de volta!

“III”, já se encontra disponível nas plataformas de streaming.



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