Milhões de Festa 2012 | Dia #3 (22.7.2012)

Milhões de Festa 2012 | Dia #3 (22.7.2012)

A apoteose

O Milhões de Festa deste ano funcionou em crescendo. Por cada dia que passava maior era o número de concertos de qualidade elevada. No domingo tivemos oportunidade de ver verdadeiras preciosidades da música. A lamentar só a paranóia dos seguranças à entrada do recinto. Chegava a parecer pior do que no aeroporto.

O dia começou na piscina, sem surpresas nesta parte, e tivemos direito a uma bossa nova simpática, mesmo a condizer com o mood domingueiro. Group Ses Beats entrou à hora marcada e trouxe-nos mash ups de música turca com um hip hop old school. As pessoas optaram por dançar preguiçosamente na piscina. Naytronix apresentaram-se todos de fita laranja na cabeça; pareciam preparados para uma aula de aeróbica. As músicas que tocaram tinham aquela aura fofinha, com as teclas a marcar ritmadamente as músicas. Por vezes faziam lembrar Beach House, e quase apetecia entrar com «Zebra» ou «Norway» no meio das suas canções.

Os Moon Duo são isso mesmo, um duo, e têm daquelas músicas que deviam ser intermináveis; com um som sujo e uma voz inebriante levam-nos a um transe xamãnico em poucos segundos. Eles têm a maior pausa de sempre; ele é um senhor cheio de charme, ela, por puro acaso, ou não traz um colar com um triângulo invertido, como não adorar! Abandonámos a piscina e fomos até ao Taina para apreciar pela última vez o palco mais bonito de Barcelos. Ouvimos ainda Quartel 469, um grupo de hip hop da “escola do norte”, como alguém comentou. De facto faziam lembrar Dealema, não só no estilo mas também nas letras, duras e bastante directas. Terminaram o concerto a apelar ao não-conformismo e houve invasão de palco pelos amigos, pelo público, e por quem mais se quisesse juntar.

A tradição é para manter e ir a Barcelos e não ir aos panados do Xispes é quase um crime. O fenómeno de Barcelinhos (a margem sul de Barcelos) é de deixar qualquer um de boca aberta. Os panados orelha de elefante não podiam ter nome mais apropriado; para quem anda curioso parece que correm umas fotos do dito pelo instagram. Foi de estômago a rebentar que ainda apanhámos um bocadinho de Al madar e a sua orquestra, um bocadinho de Sines em Barcelos naquele que é também o fim-de-semana do FMM.

O público foi chegando aos poucos para aquele que foi sem dúvida um dos concertos da noite, Riding Pânico, com seis músicos em palco e um som incrível, super nítido. Foi uma viagem sonora imparável e imperdível que culminou com a presença de Rui, o Filho da Mãe, convidado especialíssimo, em duas músicas; foi apoteótico. Os franceses L’Enfant Rouge deram um bom concerto mas os senhores são muito pouco comunicativos, quase não deixavam respirar entre músicas. Talvez por isso tivessem menos público do que aquele que mereciam. Thurston Moore não nos enganou mas esperávamos um som mais misturado com sonoridades do deserto marroquino. Em vez disso tivemos um concerto bastante convencional de noise rock com uma guitarra e um baixo que por vezes faziam lembrar uns Sonic Youth em início de carreira. Os Memória de Peixe, no palco Vice, vieram trazer a maresia a Barcelos. Talvez até tenha sido por isso que alguém se lembrou de fazer o primeiro festival de marisco de Barcelos por estes dias. As canções pop destes meninos das Caldas fazem lembrar Verão, sol, e praia; são músicas leves para dançar. Contaram ainda com a presença de Da Chick no tema «Fish&Chick» e prepararam-nos o espírito para os incríveis Alt-J ∆. O grupo do triângulo não só tem o roadie mais profissional de sempre, como são uns autênticos meninos de coro, com umas vozes capazes de nos pôr a sonhar. As músicas são de uma pop delicada, eles são super simpáticos e querem muito conviver; dizem-nos que estarão por aí para quem quiser tomar um copo com eles. Há cantoria em uníssono em «Breezeblocks».

De volta ao palco Vice o nosso corpo leva literalmente com uma massa de som que os Black Gnod, fusão de Black Bombaim com os ingleses Gnod, nos deram. O som super denso construído camada a camada pelos músicos em palco e com a voz do vocalistas de Gnod a intervir esporadicamente. Foi arrasador. Depois, os super aguardados Red Fang deram o concerto com mais crowdsurfing e moche de todo o festival. Foi louco, foi brutal, foi festa aos milhões. O stoner rock destes americanos chegou em força ao Palco Milhões e Barcelos tremeu sob os riffs psicadélicos destes americanos.

The Discotexas Band fizeram a festa no palco vice com Da Chick ao comando. A miúda tem mesmo jeito para a coisa e consegue pôr o público todo em desvario. O som atravessou todos os estilos de música dançante possível, de um funk clássico ao electro rock, para aquecer e contrariar o vento cortante que se fazia sentir e aquecer os músculos para os 189 bpms, o target fixado por Nozinja, o faz-tudo (dj, produtor, manager) dos Shangaan Electro que fizeram valer a espera. Quatro bailarinos em palco, elas com umas saias tradicionais e eles com um fato laranja e máscaras que caíram a dado momento, revelando um sorriso infantil. Acompanhavam desvairadamente o beat rapidíssimo que saía da mesa de Nozinja. A cada música o bpm aumentava e, garantidamente aos 189 o corpo já inventa movimentos, não sabe muito o que fazer, mexe-se desconexo tentando encontrar a sincronia. A não ser que se seja um dançarino de Shangaan, claro. Estavam imparáveis, aguentaram todo o concerto com um sorriso nos lábios. Impressionante. Foi a nossa despedida do Milhões, ficou Zombies for Money a animar os resistentes. Começou a contagem decrescente para a próxima edição.

Fotografia por Mariana Rosa. Galeria disponível aqui.

Reportagem do primeiro dia do Milhões de Festa 2012 aqui; segundo dia aqui.



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