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“Pela Estrada Fora”

Road movie que se perde no caminho

Depois de muitos avanços e recuos em torno da adaptação da obra de Jack Kerouak (1957), foi Walter Salles quem empreendeu essa tarefa, a partir de um argumento escrito por Jose Rivera. E se à partida isto até poderia ter corrido bem, com todo o potencial da obra literária, na prática não é isso que acontece.

Sal Paradise (Sam Riley) é um jovem escritor que, após a morte do pai, conhece Dean Moriarty (Garrett Hedlund) e a sua namorada Marylou (Kristen Stewart). Cria de imediato uma ligação fraterna com Dean, que o leva a concretizar o desejo de empreender uma viagem pelos Estados Unidos. Estamos perante um road movie, portanto. Neste cenário, certamente quem viu “Diários de Che Guevara” (2004), esperava melhor do realizador.

Em primeiro lugar, as interpretações: Sam Riley foi, em 2007, um Ian Curtis à altura (“Control”) mas deixa bastante a desejar como Sal Paradise (que era o próprio Jack Kerouac). Garrett Hedlund não convence nem seduz e Kristen Stewart parece ser incapaz de contrariar quem contesta a sua (in)expressão facial, excepto na cena em que os dois actores se colocam por inteiro num acto de dança transcendente. E se este trio no geral não impressiona, ficamos a lamentar a pouca relevância dada a Amy Adams e às interpretações de Kirsten Dunst e Viggo Mortensen, que são um ponto positivo.

Para além das interpretações, o próprio perfil das personagens deixa a desejar: falta-lhes profundidade, falta-lhes uma densidade psicológica que se perdeu na adaptação, as suas motivações não são transpostas com a intensidade que devem à obra original. Toda uma beat generation, com as suas inquietações, transtornos e contextos artísticos, é muitas vezes reduzida a cenas demasiado estereotipadas com drogas, álcool e sexo.

Noutro ponto, é possível afirmar que em os “Diários de Che Guevara” a viagem propriamente dita fica bem concretizada, aqui não. O caminho – falando do físico mas aplicando também ao interior – não fica bem explícito, perde-se o ritmo da viagem, muitas vezes em planos que resultam confusos e que quebram esse ritmo própria da viagem.

“Pela Estrada Fora” não deixa de ter no entanto alguns momentos bons, que se dissolvem também na excessiva duração do filme: não é preciso tanto tempo para contar aquela história. No geral, este é um retrato pouco fiel de uma geração, de um contexto e, acima de tudo, de uma obra literária.



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