POP LIFE, Art in a material world
Visita guiada à exposição que, até 17 de Janeiro, está patente na Tate Modern em Londres. Imprimam este guia e apanhem o próximo voo low cost.
Nota: Este artigo é para ser lido ao som de Madonna. Preferencialmente mas sem distrair.
Porque vivemos num mundo material, a Rua de Baixo apresenta a exposição que desde 1 de Outubro anda a fazer juz ao nome. Pop Life, Art in a Material World tem feito rolar tinta e cochicho por todo o mundo e enchido muitos autocarros de dois andares em direcção à Tate Modern. Não que esta galeria da capital de dona majestade, obra de Herzog e De Meuron, não valha por si só uma visita. Mas agora, e até dia 17 de Janeiro, vale uma (ainda) mais demorada. Lá encontramos o bando dos grandes nomes da Pop Arte todos juntos. Andy Warhol a preto e vermelho, Jeff Koons e Cicciolina no seu melhor, videoclips e tennis de Takashi Murakami, o cavalo morto do Maurizio Cattelan e a loja de Keith Haring, entre mais. Quem alinha numa visita guiada, mas não demasiado, à celebração do Pop?
A arte e o Pop
Trabalha, produz, compra, consome, volta a comprar, volta a consumir. Eis o bombardeamento da sociedade capitalista que a Pop Arte quer criticar. Para isso, nada melhor que agarrar nos próprios objectos e ícones do consumo, nos signos das cores brilhantes e vibrantes, nos materiais acrílicos e tóxicos até à reprodução do novo objecto do quotidiano, numa versão XL. Agora sim, pronto para chocar, para gritar “chega”, para provocar “uaus” e choques, mas sempre com uma mensagem de atenção ao que se passa à nossa volta. Porque “Making money is art, and working is art and good business is the best art.”, nas palavras de Andy Warhol.
Passemos assim à nossa exposição. Melhor, ao nosso espectáculo que começa com a “Macy’s Thanksgiving Day Parade” que é como quem diz, um video da parada da Macy no dia de Acção de Graças de 2007, em Nova Iorque. E à Jeff Koons style, com um coelho com mais de 3 metros de altura, muita cor, cofettis e bailarinas. Este coelho foi criado por Koons em 1986, uma espécie de replica gigante em ferro daqueles balões em forma de bichos que fazem as delicias das crianças e dores de cabeça dos pais pelo nível de decibéis e frequência de “eu queros”. A ironia de um ferro leve como o ar, brilhante na forma e conteúdo. Infelizmente, o coelho que aqui vemos é bem mais pequeno que o original mas mesmo assim não dá para levar para casa. O melhor é seguir para Warhol.
Pouco haverá a acrescentar sobre um dos mais mediáticos artistas do século passado. Andy Warhol e a sua Factory, as latas de sopa da Campbell, as pinturas de Marilyn ou da Rainha, as outras com flores e muitas cores, tudo já comentado e louvado por leigos e curadores, artistas e curiosos. Nesta parte da Pop Life encontramos os últimos trabalhos de Warhol, programas de televisão onde participou – aos quais podemos assistir, fotos de paparazzos, revistas Entreview, mais fotos, mais pinturas e gravuras. Destaca-se “Retrospectives or Reversals”, uma obra dos anos 60 onde impera o cinismo face aos ícones pop.
Mas não só de Warhol vive a controvérsia da Pop Arte. Seguimos com Garry Gross e a polémica fotografia de Brook Shields com 10 anos de idade, do seu trabalho Spiritual America, de 1983. Aliás, seguiríamos de não tivesse sido retirada da exposição a pedido da Scotland Yard e da polícia de Londres, dada sua (fortíssima ) conotação sexual. Um debate há muito começado pela mãe de Brook Shields, levando a discussões acesas na comunidade artística face ao voyeurismo na Fotografia. Resta-nos a actriz mais adulta, desta vez fotografada por Richard Prince, num estilo o mais americano possível, tão cowgirl quanto motard.
O melhor é mesmo deixarmo-nos destas coisas e irmos às compras. À replica da “Pop Shop” de Keith Haring, bem seja, reconstruída numa das salas da Tate e onde se podem comprar alguns dos seus artigos. Inaugurada em 1986 na Lafayette Street, em Manhattan, a Pop Shop vendia t-shirts, botões, imans, brinquedos e canecas com as suas gravuras. Haring considerava a sua loja uma extensão da sua obra e decorou por completo o seu interior com um mural a preto e branco, criando um ambiente à sua imagem. Apesar das criticas, o seu objectivo era tornar a sua arte acessível ao maior número de pessoas possíveis, a sua democratização. No fundo, aquilo a que hoje chamamos low cost. Nada a apontar, portanto.
Segue-se Martin Kippenberg, considerado pelos entendidos como um dos artistas alemães mais talentosos da sua geração. Kippenberg, a par dos seus contemporâneos como Tracey Emin, manipulava a sua própria imagem como meio de expressão, em tom de ecrã ou pintura. Nasciam assim posters entre o provocador e o hipnotizante, força dada pela imagem.
E se agora fossemos ao céu? Não sem antes abrir as portas da sala de Jeff Koons e do seu “Made in Heaven”. A obra de Koons longe está de ser feita de corações brilhantes, cães amorosos cobertos de flores coloridas e coelhos balão. Não que não gostemos, pelo contrário, mas a constante surpresa e choque visuais ganham neste jogo de arte. Talvez escape a muitos que Koons foi casado com a Cicciolina – essa mesmo, a artista italiana de filmes pornográficos- e gostava de mostrar o seu amor publicamente. Tanto o sentimental como o outro. Senão vejamos, a porta bem avisa face aos conteúdos para maiores de 18 mas como somos todos grandinhos não há porque não ver as fotografias do casal, que fazem corar até os mais descontraídos. Aliás, nomes como “Illona on Top”, “Bourgeois Bust” ou “Ilona’s Asshole” povoam este espaço que promete, senão levar-nos ao céu, ao menos mostrar-nos como é. O céu de Jeff Koons, claro está.
Continuemos, pois. Uma escultura de um miúda gira, espera, afinal são duas miúdas giras, sentadas em frente a dois quadros. Espera ainda não é isto, são duas miúdas, duas mulheres, gémeas, a sério. A sério significa de carne e osso. É a reposição da performance “Unfair” de Damien Hirst, apresentada pela primeira vez na feira de arte de Colónia, em 1992. Em poucas palavras, o que vemos são dois gémeos idênticos, neste caso gémeas, sentados entre duas pinturas do artista. É por obras como esta que Damien Hirst foi, na década de 90, o líder do YBAs (Young British Artists) dominando a arte britânica e conseguindo o reconhecimento internacional. O início da carreira de Hirst esteve proximamente ligado a Charles Saatchi, o curador e criativo publicitário que se autodenomina de artholic.
Menos animadores são os nazis de Piotr Uklanski (“The Nazis”, 1998), uma composição de 164 fotografias deste fotografo da Polónia. Mais uma surpresa revelada nesta exposição. Afinal existiram nazis para todos os gostos e feitios, alguns até sem bigode. Nem má cara. Ainda na mesma onda realista, Maurizio Catellan deixou um cavalo morto na sala seguinte. Sátira ou piada? Eu não cheguei perto mas cada um sabe de si.
Last but not (at all) least, Takashi Murakami e a pop nipónica. “I think I’m turning Japanese, I think I’m turning Japanese i really think so”, recebe-nos a versão japa da Kirsten Dunst, isto é, a Akihahara Majokko Princess. Tudo cenário de um videoclip produzido pelo próprio Murakami e realizado por MCG, o autor dos Anjos de Charlie. A escolha de Kirsten Dunst para representar a Princesa Mágica está associada à sua popularidade junto dos otakus pela sua prestação no Homem Aranha. Nesta última sala também não faltam os tennis de Murakami para a Louis Vuitton. Podem faltar algumas libras para comprá-los. Mas não faz mal, há muito mais para se levar para casa desta exposição. E leva-se.
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