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Serralves em Festa 2011

A transmutação da arte em cada canto.

A oitava edição do Serralves em Festa, decorrida a 28 e 29 de Maio, trouxe ao recinto mais de 98 mil visitantes e contou com um cartaz tão diversificado quanto completo, demonstrando que é um evento cultural de peso na cidade do Porto.

Entre performances, teatro, dança, exposições, concertos, circo ou até acrobacia, não só todos os espaços de Serralves foram ocupados por arte na sua plenitude, como várias performances foram levadas para a Baixa e para o aeroporto. Os visitantes mais incautos viram-se surpreendidos por pessoas vestidas de negro, envergando pastas cor-de-rosa (“Pink Suitcases”, pelos Natural Theatre) ou pelo surrealismo do encontro com pessoas com um vaso repleto de flores no lugar da cabeça (“Flower Pots”, mais uma vez de Natural Theatre).

A performance de dança contemporânea “Provas de Contacto” levada a cabo pelos alunos do segundo ano dos cursos de artes do espectáculo da ACE e orientada por Joana Providência, reuniu, no Pátio dos Ulmeiros, retratos de um Verão de encontros, amores, desamores e peripécias, num espectáculo que soltou sorrisos entre um público de todas as idades.

“Arcane”, um espectáculo de acrobacia concretizado por Maxime Bourdon e Sébastien Bruas (Cie Les Philébulistes) através da fusão performativa com a Philébule (uma roda dupla em alumínio, com 5 metros de diâmetro), surpreendeu pela conjugação entre força, controlo e graciosidade artística, envolvendo movimentos fisicamente complexos em contraponto com uma banda sonora de compleição frágil, suave.

Já no prado, os Black Bombaim, originários de Barcelos e representantes qualificados do rock psicadélico português, protagonizaram um concerto sui generis, convocando “uma rodinha” em torno da banda, que se posicionou no relvado em vez do habitual palco. Num ambiente de quase êxtase, o público teve a possibilidade de conhecer temas do próximo álbum (em muito ainda pautados por sessões de improviso), que terá participações especiais de nomes como Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e Isaiah Mitchel (Earthless).

Dois anos após a sua presença com Josephine Foster, o espanhol Victor Herrero regressou ao Serralves em Festa para apresentar algumas das músicas que farão parte do seu novo álbum, a ser lançado no próximo ano. Mais do que um guitarrista e compositor competente, Victor é um colector e escultor de emoções. A sala escura, irrompida apenas por um foco de luz verde, convidava a um momento de beleza intimista. O primeiro dedilhado da guitarra apresentou «Avellaneda», com uma voz quase murmurada que, numa emoção mais forte, se soltava para dar vida às palavras. «Caballo», segundo tema, quebrou a melancolia e arrancou alguns sorrisos do público: “Esta canção é dedicada a um cavalo (…) Um cavalo muito, muito bonito. No próximo ano Serralves tem que ter mais cavalos”. Após aplausos, a guitarra irrompeu numa sonoridade dissonante, incómoda, que acorde após acorde se transformou em mais uma história intensa: «Columbina». Numa sequência estabelecida por um fio emocional condutor, Victor presenteou a audiência com «Barcarola», um instrumental “inspirado na música dos Andes”, seguido de um “tema de paz”. Estava o mote dado para «Leviatán», uma melodia que canta a saudade. O fecho do concerto ficou guardado para «José Cigarro», música dedicada a um falecido amigo que completaria à data 17 anos, pelo que “não é uma canção triste”. A noite teve direito a um encore com «No cambiare la flor».

Chicks on Speed reuniram no prado uma multidão imensa, heterogénea. O concerto abriu com «The Revolution Will Not Be Televised», em tom de homenagem a Gil Scott-Heron, falecido no dia anterior. Ao longo da noite desfilaram temas bastante conhecidos do público, como «Warm Leatherette» ou «Shooting From the Hip», acompanhados por muitas incursões por movimentos de dança mais ou menos sincronizados. Entre imagens sugestivas com alguma nudez explícita e arranjos electrónicos controlados pelas duas meninas de Chicks on Speed, uma garrafa que sugeria ser de Vinho do Porto passou das mãos de um fã para o palco, animando ainda mais as hostes. «We don’t play Guitars» e «Fashion Rules!» levaram parte da multidão então reunida a coros em uníssono e coreografias de improviso. No entanto, foi a já conhecida «Wordy Rappinghood» (um original dos Tom Tom Club) que mais consenso reuniu e que não deixou ninguém indiferente ao seu ramsamsam a ramsamsam. Concerto de Chicks on Speed terminado e o palco do prado acolheu “Infinito+3”, pela mão de J-Wow (Buraka Som Sistema) e Kalaf.

Domingo foi possível revisitar várias performances que ocorreram no dia anterior, como foi o caso de “Heroes”, concretizada pelo Balleteatro, envolvendo dança, teatro e música. O conceito inerente a este espectáculo centra-se no herói que há dentro de cada pessoa, por mais banal que seja. Partindo da música «Heroes» dos portugueses Blind Zero e visitando temas como «Like a Virgin», «Somewhere over the Rainbow» ou o standard de Jazz «Cry Me A River», quer em citação quer através de música ao vivo, ouviram-se estados de alma e frases como “Olá. Eu sou a Débora e sou heroína quando faço a depilação às virilhas” ou “Serei herói quando morrer”, em representação do heroísmo das emoções humanas.”Que Deus tenha piedade de mim já que lhe dei um pontapé nos dentes”, dizem, oscilando entre momentos de raiva, de amor, de luxúria. Cabe ao espectador percepcionar até onde se sente um herói.

Durante a tarde, houve lugar para a música experimental dos Mountains, um projecto de índole essencialmente electrónica que consegue misturar em si diversos elementos, transportando quem houve para um universo muito próprio, feito dos pequenos pormenores. O fecho desta edição do Serralves em Festa ficou à responsabilidade dos nova-iorquinos The Gang Gang Dance, que apresentaram o seu último álbum “Eye Contact”. Estiveram presentes temas como «Bond» e «House Jam» mas a voz hipnótica de Lizzi Bougatsos mostrou-se em pleno em «Glass Jar» ou «MindKilla» (que fez as honras do fecho). A animação do público presente deu direito ao extra em encore, «Thru and Thru», demonstrando que The Gang Gang Dance já gozam de algum reconhecimento em Portugal e encerrando de forma grandiosa este Serralves em Festa 2011.



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